

Opinião
Derrota doída
Apesar do naufrágio da semana, contra a Argentina, não há motivo para desespero. A Seleção Brasileira deve classificar-se para a Copa, e o pior já passou


Embora tenha sido marcante a derrota da Seleção Brasileira para a Argentina, por 4×1, na terça-feira 25, no Monumental de Núñez, em Buenos Aires, este não é momento para medidas intempestivas.
É, pelo contrário, hora de aqueles que têm a responsabilidade de escolher os caminhos mostrarem sua capacidade para fazer as escolhas certas.
Antes de tudo, é necessário analisar as condições em que esse clássico tradicional se realizou.
A diferença da situação das duas equipes para entrar em campo pela 14ª rodada das eliminatórias para a Copa do Mundo de 2026 foi abissal.
A seleção argentina, atual campeã do mundo, é um time montado e amadurecido há muito tempo.
Já a Seleção Brasileira, infelizmente, não conseguiu firmar um elenco definido – ao menos 70% dos jogadores têm variado. A definição de uma equipe, em um trabalho coletivo, é fundamental.
Num jogo dessa magnitude, nossa Seleção foi obrigada, por vários motivos – suspensões, condições físicas e opções do técnico – a entrar em campo sem a consistência esperada.
E tudo isso no estádio do adversário, que soube aproveitar essas condições.
Como se não bastassem esses fatores, o ambiente do jogo acabou sendo contaminado por uma declaração infeliz de um dos jogadores, que seria um dos maiores trunfos da Seleção Brasileira, o brilhante Raphinha, do Barcelona, cotado para ser eleito o melhor jogador da temporada europeia.
Ele disse que a Seleção Brasileira ia meter “porrada” nos argentinos.
Com essa declaração, Raphinha, que deveria ser um exemplo de confiança e motivação para o time, acabou, gerando uma repercussão negativa.
Outro ponto importante é que, apesar da ausência de nossos dois maiores jogadores, Messi pela Argentina e Neymar pelo Brasil, contamos com Vinícius Júnior, considerado o melhor do mundo no FIFA The Best 2024.
Quando as equipes entraram em campo, parecia mais fácil cantar a escalação dos argentinos do que a nossa.
Sabíamos de antemão que, independente da tradição e do aguerrimento desse clássico sul-americano, a distância de entrosamento entre as duas equipes seria grande.
A partir daí, podemos começar a analisar o jogo.
Seria lógico, diante desses e outros detalhes, que o time adversário – ainda mais jogando em casa – pressionasse ao máximo. E foi o que aconteceu.
O primeiro impacto negativo foi termos levado dois gols em 12 minutos. A partir daí, o jogo virou outro. E a situação se tornou alarmante.
No entanto, num golpe de sorte, com uma infelicidade do excelente zagueiro Romero e mérito do aguerrido atacante Matheus Cunha, o Brasil conseguiu marcar um gol que poderia, sim, criar a chance de uma reviravolta.
A partir desse momento, outra particularidade grave ficou evidente: a ausência de liderança na Seleção Brasileira.
Faltou na partida um jogador capaz de puxar a mudança no estado psicológico do time que a ocasião exigia. Com a fragilidade instalada, outro gol da Argentina, ainda no primeiro tempo, liquidou as chances de uma virada.
Diante desse desastre, a aflição tomou conta também de grande parte dos narradores e comentaristas, que insistiram, com razão, na superioridade absoluta do meio-campo adversário.
No intervalo, Dorival Jr. fez as alterações que mostraram seu plano de jogo inicial, colocando mais um volante de contenção para fechar a defesa e retirando Rodrygo, outro craque em grande momento no seu clube, mas que não tinha condições de exercer a ligação do ataque, já que a bola não chegava até ele.
Com isso, a falta de um armador clássico para alimentar Endrick, que entrou como centroavante, ficou ainda mais evidente. Foi o buraco deixado por Gerson, do Flamengo, cortado por lesão, e que poderia ter cumprido essa função.
Veio, então, o quarto gol da Argentina, na primeira bola tocada por Simeone, substituído por Scaloni, que evidenciou o domínio que tem em seu elenco.
Nesse momento, a vitória argentina foi sedimentada, e um clima de pessimismo tomou o lado brasileiro.
Apesar do naufrágio da semana, não há motivo para desespero. O Brasil deve classificar-se e, embora tenha terminado esta data FIFA em quarto lugar, o pior já passou.
Dorival Jr., de forma honesta, insiste que o time está em formação e que avisou que teria atuações irregulares.
Foi, sem dúvida, uma derrota sentida em profundidade, mas precisamos agora de equilíbrio e não de cabeça baixa. •
Publicado na edição n° 1355 de CartaCapital, em 02 de abril de 2025.
Este texto aparece na edição impressa de CartaCapital sob o título ‘Derrota doída’
Este texto não representa, necessariamente, a opinião de CartaCapital.
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