Mundo
Argentina realiza marcha em memória dos 49 anos do golpe de Estado
Os manifestantes criticaram o governo de direita de Javier Milei, cujo ajuste econômico ferrenho dizimou dezenas de empregos na Secretaria de Direitos Humanos e nos lugares de memória


Dezenas de milhares de pessoas marcharam nesta segunda-feira 24, em Buenos Aires, junto das Avós e Mães da Praça de Maio sob o lema “Memória, verdade e justiça”, 49 anos depois do golpe de Estado que deu lugar à última ditadura militar argentina (1976-1983).
No Dia da Memória, organizações de defesa dos direitos humanos, partidos políticos opositores, sindicatos e movimentos sociais e de estudantes convocaram a marcha que bloqueou o centro de Buenos Aires nessa data, que é feriado na Argentina.
Aos gritos de “Mães da Praça, o povo as abraça”, os presentes saudaram a passagem de integrantes dessa organização que ainda estão à procura de seus filhos desaparecidos.
Organizações de direitos humanos estimam o número de desaparecidos em 30 mil. Por sua vez, as Avós da Praça de Maio procuraram 400 crianças (hoje adultos) que foram roubadas quando nasceram durante o cativeiro clandestino de suas mães.
“Nesta longa luta, temos 139 casos resolvidos. Há apenas dois meses, restituíram a identidade de um neto e de uma neta que nunca tinham suspeitado de sua origem. Precisamos de toda a sociedade para encontrarmos todos, nunca é tarde”, disse Estela de Carlotto, presidente das Avós, uma das oradoras do ato.
“O Estado deve garantir a restituição de netas e netos”, acrescentou. “A apropriação é um desaparecimento forçado e, até que não se conheça a verdadeira identidade, continua sendo cometido”.
Entre a multidão havia muitos cartazes “contra o negacionismo do governo” de direita de Javier Milei, cujo ajuste econômico ferrenho dizimou dezenas de empregos na Secretaria de Direitos Humanos e nos lugares de memória onde funcionaram prisões e centros de tortura.
“Milei, lixo, você é a ditadura”, entoavam os manifestantes com bandeiras argentinas e lenços com o slogan “Nunca mais”.
“Hoje sinto que temos que estar aqui mais do que nunca para que não se perca a memória do horror que a Argentina vivenciou, não se pode negar a história”, disse à AFP María Eva Gómez, trabalhadora do comércio de 57 anos que marchou ao lado de seu marido e de seus três filhos adolescentes.
“Teve gente que deu seu sangue inocentemente por fazer reivindicações e nós estamos em uma democracia que custou muito sangue inocente, a única forma de mantê-la é ter isso em mente”, acrescentou.
A marcha se desenvolveu de forma pacífica e sem intervenção da polícia, que se absteve de aplicar um polêmico protocolo de segurança que, durante um protesto de aposentados semanas atrás, causou graves incidentes e deixou um fotojornalista com traumatismo craniano por um disparo policial de gás lacrimogênio.
“Ainda há desaparecidos que não encontramos […] por isso a convocação foi tão maciça”, disse Elías Pérez, um médico aposentado de 68 anos.
O governo anunciou nesta segunda-feira a desclassificação de arquivos de inteligência sobre ações das Forças Armadas entre 1976 e 1983, ampliando um decreto de 2010.
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