Mundo
Texas detém e processa a 1ª acusada por prática de aborto
Mulheres que querem interromper a gestação, inclusive vítimas de estupro, agora são obrigadas a viajar longas distâncias para outros estados


Uma parteira se tornou a primeira pessoa detida e processada de acordo com as severas leis antiaborto do Texas, no sul dos Estados Unidos. Ela foi acusada de praticar interrupções de gestações, o que pode lhe render uma sentença de até 20 anos de prisão.
María Margarita Rojas, de 48 anos, é acusada de realizar os procedimentos em uma rede de clínicas que atendia o norte de Houston e áreas vizinhas, explicou em nota à imprensa, nesta segunda-feira 17, o gabinete do procurador-geral do Texas, Ken Paxton.
“Rojas, uma parteira que se fazia chamar por ‘Dra. María’, foi detida no condado de Waller e acusada da prática ilegal de um aborto, um crime grave de segundo grau, assim como de exercer a medicina sem licença”, detalha a nota. A Procuradoria do Texas pediu o fechamento da rede de clínicas.
Segundo a acusação, esses centros empregaram ilegalmente pessoas não licenciadas, que se fizeram passar por profissionais de medicina para oferecer tratamento médico. “Rojas também realizou abortos ilegais em suas clínicas, em violação direta à Lei de Proteção da Vida Humana do Texas”, que entrou em vigor em 2022, acrescenta o informe.
A AFP entrou em contato com a rede de clínicas, mas não obteve resposta sobre o caso.
Desde que a Suprema Corte anulou a proteção federal do direito ao aborto, os estados são encarregados de legislar sobre a prática.
O Texas é um dos que decidiram vetar o aborto.
Em fevereiro, tribunais do Texas e do estado vizinho de Louisiana decidiram contra uma médica de Nova York por receitar pílulas abortivas a suas pacientes em suas jurisdições.
No Texas, o aborto só é permitido em caso de risco de vida para a mãe. No entanto, segundo denúncias de ativistas, a falta de clareza nas exceções faz com que os médicos evitem atender esses casos para não serem processados, levando ao limite o risco de morte da paciente.
“No Texas, a vida é sagrada. Sempre farei tudo o possível para proteger os não nascidos, defender as leis pró-vida do nosso estado e trabalhar para garantir que quem colocar em risco a vida das mulheres ao realizar abortos ilegais sejam processados plenamente”, disse Paxton.
Mulheres que querem interromper a gestação, inclusive vítimas de estupro, agora são obrigadas a viajar longas distâncias para outros estados ou buscar que lhes enviem pílulas abortivas de outras jurisdições.
Apesar de a lei no Texas punir quem facilita os abortos, a mulher que interrompe a gravidez não é processada.
Apoie o jornalismo que chama as coisas pelo nome
Muita gente esqueceu o que escreveu, disse ou defendeu. Nós não. O compromisso de CartaCapital com os princípios do bom jornalismo permanece o mesmo.
O combate à desigualdade nos importa. A denúncia das injustiças importa. Importa uma democracia digna do nome. Importa o apego à verdade factual e a honestidade.
Estamos aqui, há 30 anos, porque nos importamos. Como nossos fiéis leitores, CartaCapital segue atenta.
Se o bom jornalismo também importa para você, nos ajude a seguir lutando. Assine a edição semanal de CartaCapital ou contribua com o quanto puder.
Leia também

Justiça de SP determina retomada do serviço de aborto legal em hospital de referência
Por CartaCapital
PSOL protocola ação para direito ao aborto em casos de retirada do preservativo sem consentimento
Por Caio César
CNJ aplica pena de censura a juíza de SC que tentou impedir aborto em criança vítima de estupro
Por Wendal Carmo