Política
Como uma declaração de Bolsonaro provocou nova ação no STF por crime contra a soberania
O pedido chegou ao ministro Alexandre de Moraes e à Procuradoria-Geral da República


O PT acionou o Supremo Tribunal Federal e a Procuradoria-Geral da República para cobrar uma investigação contra Jair Bolsonaro (PL) por crime contra a soberania nacional, após o ex-presidente dizer que transmitiu ao governo de Donald Trump informações sobre acordos firmados entre Brasil e China.
O líder do PT na Câmara, Lindbergh Farias (RJ), e o deputado Rogério Correia (PT-MG) encaminharam o pedido ao ministro Alexandre de Moraes.
“A fala do noticiado não se traduz num fato isolado, mas revela uma estratégia utilizada por seu grupo com o claro objetivo de desestabilizar a política nacional, atentando contra a soberania e a democracia brasileira”, argumentam os petistas.
Bolsonaro proferiu a declaração em 7 de março, em referência aos 37 acordos assinados entre o presidente Lula (PT) e o presidente Xi Jinping, em novembro de 2024, quando o líder chinês veio ao País.
Para o ex-capitão, parte do acerto envolveria a “construção de bombas atômicas”.
“Podem ficar tranquilos, já passei para a equipe do Trump isso aí, passei em primeira mão lá atrás”, afirmou, na ocasião. Ele disse a seguir que o governo norte-americano tem uma “preocupação com o Brasil” e não deseja que o Brasil “se consolide como uma nova Venezuela e nós sabemos que o problema do Brasil não vai ser resolvido internamente, tem que ser resolvido com o apoio de fora.”
Na avaliação do PT, Bolsonaro “confessou abertamente ter se tornado um agente de informações de outra nação, buscando intervenção externa no Brasil”. Eles sustentam que a conduta do ex-presidente se encaixa no artigo 359-I do Código Penal, a dispor sobre o ato de negociar com governo ou grupo estrangeiro, ou seus agentes, com o fim de provocar atos típicos de guerra contra o País ou invadi-lo. A pena prevista é de reclusão de três a oito anos.
Os acordos
A agenda em Brasília entre Xi e Lula ocorreu na sequência da participação do líder chinês na Cúpula do G20, no Rio de Janeiro. Foi também uma retribuição da visita do petista a Pequim em abril de 2023 e ocorreu em celebração aos 50 anos das relações diplomáticas entre os dois países.
“Estamos determinados a alicerçar nossa cooperação pelos próximos 50 anos em áreas como infraestrutura sustentável, transição energética, inteligência artificial, economia digital, saúde e aeroespacial”, disse Lula, à época.
Ele também anunciou a elevação do status da relação bilateral, que passou a ser classificada como “Parceria Estratégica Global ao patamar de Comunidade de Futuro Compartilhado por um Mundo mais Justo e um Planeta Sustentável”.
Xi, por sua vez, destacou o fato de Brasil e China serem os dois maiores países em desenvolvimento de duas regiões e ocuparem um espaço de protagonismo das aspirações do chamado Sul Global – termo geopolítico que designa nações pobres ou em situações socioeconômicas similares, especialmente de América Latina, África e Ásia.
Apoie o jornalismo que chama as coisas pelo nome
Depois de anos bicudos, voltamos a um Brasil minimamente normal. Este novo normal, contudo, segue repleto de incertezas. A ameaça bolsonarista persiste e os apetites do mercado e do Congresso continuam a pressionar o governo. Lá fora, o avanço global da extrema-direita e a brutalidade em Gaza e na Ucrânia arriscam implodir os frágeis alicerces da governança mundial.
CartaCapital não tem o apoio de bancos e fundações. Sobrevive, unicamente, da venda de anúncios e projetos e das contribuições de seus leitores. E seu apoio, leitor, é cada vez mais fundamental.
Não deixe a Carta parar. Se você valoriza o bom jornalismo, nos ajude a seguir lutando. Assine a edição semanal da revista ou contribua com o quanto puder.
Leia também

Eduardo Bolsonaro voltará ao Brasil?
Por Cacá Melo
PT vai ao Conselho de Ética para cassar deputado bolsonarista que ofendeu Gleisi
Por Wendal Carmo
Justiça revoga prisão domiciliar de Jorge Guaranho, bolsonarista que matou petista no Paraná
Por CartaCapital