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Ucrânia aceita acordo com EUA para exploração de minerais estratégicos
Zelensky prepara uma viagem aos EUA, na próxima sexta-feira, para formalizar a negociação ao lado de Trump


A Ucrânia concordou com os termos de um acordo de minerais com os Estados Unidos e pode assiná-lo nesta sexta-feira 28, disseram os dois países, um movimento que Kiev espera que leve a futuras garantias de segurança de Washington. Com o acordo, o governo ucraniano espera assegurar que os EUA continuem fornecendo ajuda militar ao país, em meio à guerra que eclodiu com invasão da Rússia.
“É um começo”, disse o presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky, em declaração registrada pela AFP em Kiev. “Este compromisso pode ser um grande sucesso ou simplesmente desaparecer. Dependerá de nossas conversas com o presidente [Donald] Trump”, prosseguiu. Zelensky e Trump devem se encontrar nesta sexta, em Washington.
De acordo com os termos de uma minuta de acordo, segundo fontes familiarizadas com seu conteúdo, os Estados Unidos e a Ucrânia estabeleceriam conjuntamente um Fundo de Investimento para Reconstrução para coletar e reinvestir receitas de fontes ucranianas, incluindo minerais, hidrocarbonetos e outros materiais extraíveis.
A Ucrânia contribuiria com 50% das receitas futuras de recursos estatais, incluindo minerais, petróleo e gás. O texto, entretanto, não inclui garantias de segurança. Os Estados Unidos forneceriam um compromisso financeiro de longo prazo para o desenvolvimento de uma “Ucrânia estável e economicamente próspera”.
“Há uma cláusula geral que diz que os Estados Unidos investirão em uma Ucrânia soberana, estável e próspera, que trabalhará por uma paz duradoura e que os Estados Unidos apoiarão os esforços para garantir a segurança”, afirmou uma fonte à agência de notícias AFP. “Agora, as autoridades do governo estão trabalhando nos detalhes”, acrescentou.
Cobrança
O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, exige que a Ucrânia lhe dê acesso às suas terras raras como compensação pelos bilhões de dólares em ajuda para enfrentar a invasão russa que Kiev recebeu durante a presidência de Joe Biden.
O acordo permitiria que os Estados Unidos explorassem conjuntamente a riqueza mineral da Ucrânia. Essa é a receita que seria destinada a um fundo recém-criado pelos dois países.
O presidente ucraniano Volodymyr Zelensky, inicialmente, havia se recusado a atender às exigências de Trump de dar aos Estados Unidos 500 bilhões de dólares em minerais valiosos usados na indústria aeroespacial, em veículos elétricos e em outras tecnologias – uma soma muito acima do valor oficial de 60 bilhões de dólares em ajuda militar dos EUA à Ucrânia desde a invasão.
A mudança de postura, porém, se deu após o europeu se ver pressionado a se reaproximar dos EUA, cada vez mais próximo da Rússia. Zelensky também teria mudado de opinião após a retirada da menção ao montante de 500 bilhões de dólares da negociação.
Viagem de Zelensky aos EUA
O próprio Trump indicou que os termos foram definidos e reconheceu que o acordo pode sair do papel na sexta-feira. “Eu ouvi isso. Ouvi que ele [Zelensky] vem na sexta-feira”, disse Trump aos jornalistas na Casa Branca.
“Ele gostaria de vir assinar aqui comigo, e eu entendo: é um acordo grande, um acordo muito grande”, frisou o republicano.
A Ucrânia concentra cerca de 5% dos recursos minerais do mundo, mas nem todos são explorados ou facilmente exploráveis.
Segurança da Ucrânia
Segundo a fonte ucraniana, o rascunho do acordo inclui uma referência clara à “segurança” da Ucrânia, como exigia Kiev, embora não forneça detalhes específicos sobre o papel dos Estados Unidos nesse ponto.
A ideia, na prática, é garantir a continuidade da ajuda militar, ameaçada desde o retorno de Trump à Casa Branca.
Questionado por jornalistas sobre o que a Ucrânia levaria em troca da autorização da exploração dos minerais raros, Trump não respondeu. O político apenas insistiu que Washington já forneceu à Ucrânia todo o armamento necessário para a guerra.
“Biden estava jogando dinheiro como se fosse algodão doce”, comentou. “Nós queremos esse dinheiro de volta.”
A Rússia não comenta
O porta-voz do Kremlin, Dmitry Peskov, se recusou a comentar o acordo de minerais entre Kiev e Washington. “Se será [para assinar] o acordo mencionado ou outra coisa, veremos. Não houve nenhuma declaração oficial sobre esse assunto ainda”, disse ele, se referindo à visita de Zelensky aos EUA.
Ele afirmou ainda que estão sendo feitos preparativos para conversas em nível de especialistas entre Rússia e os Estados Unidos para dar continuidade a uma reunião de alto nível na semana passada e um telefonema anterior entre os presidentes da Rússia, Vladimir Putin, e Trump.
O porta-voz do Kremlin reiterou que há um entendimento de que Trump e Putin deveriam se encontrar pessoalmente após a preparação completa, mas disse que ainda não há detalhes sobre quando e onde isso aconteceria.
Ele disse que os dois líderes poderiam se falar novamente por telefone se necessário, mas não há planos atuais sobre isso. “Os contatos estão sendo preparados em nível de especialistas por meio dos ministérios do Exterior”, disse Peskov, sem fornecer mais detalhes.
(Com informações de AFP e DW)
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