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A nova ofensiva do governo Trump contra a USAID, a maior agência de assistência internacional do mundo
O inspetor-geral Paul Martin, que trabalhava na agência desde 2023, foi demitido após produzir relatório apontando riscos causados pelo desmonte promovido pelo governo republicano
O governo Donald Trump segue firme na sua investida para desmontar a Agência dos Estados Unidos para Desenvolvimento Internacional, a USAID (na sigla em inglês), considerada a maior organização de assistência internacional do mundo.
Depois de anunciar a suspensão das atividades da agência, dispensando cerca de dez mil funcionários, o governo demitiu o inspetor-geral independente da USAID, Paul Martin.
A informação é do jornal The Washington Post, que afirmou, nesta terça-feira 11, que Martin foi dispensado depois de divulgar um relatório criticando as medidas adotadas por Trump para fechar a agência. Martin e a Casa Branca não confirmaram oficialmente a informação.
Segundo o jornal, Martin foi demitido por e-mail, recebendo a mensagem de que o seu cargo de inspetor-geral da agência estaria “encerrado, com efeito imediato”. A informação da publicação foi confirmada pela CNN norte-americana.
Acontece que, pela lei norte-americana, o governo deve avisar o Congresso com até 30 dias de antecedência antes de demitir um inspetor-geral. É preciso informar as razões específicas para a demissão, o que não teria sido feito pela Casa Branca. O governo Trump não se pronunciou sobre a investida contra o chefe da organização fora do rito habitual.
Alerta sobre os riscos do fechamento
Martin era inspetor-geral da USAID desde dezembro de 2023. Pelo cargo, um inspetor-geral independente deve conduzir investigações e auditorias sobre as atividades da agência: é ele, por exemplo, que avalia como os recursos estão sendo usados e aponta, se for o caso, se houve desperdício orçamentário, prevaricação ou fraude.
Recentemente, o gabinete de Martin alertou para o fato de que as decisões de Trump de suspender os trabalhos da USAID colocavam em risco o investimento de mais de 489 milhões de dólares para assistência alimentar em vários países do mundo.
Segundo o documento, “as recentes reduções de funcionários em toda a agência […] em conjunto com a incerteza sobre o alcance das isenções da ajuda externa e as comunicações permitidas com os executores degradaram a capacidade da USAID para distribuir e salvaguardar a ajuda humanitária financiada pelos contribuintes”.
Desmonte
A USAID é um órgão criado no início da década de 1960, e visa unificar os vários programas de assistência externa do país. De um lado, a agência desenvolve iniciativas de saúde e presta ajuda humanitária – para se ter uma ideia, 42% de toda a assistência humanitária da Organização das Nações Unidas (ONU) em 2024 teve como origem a USAID. Por outro, a agência é um instrumento da política externa norte-americana.
No passado, a USAID já foi criticada por setores progressistas por, supostamente, servir para impedir o avanço da União Soviética durante a Guerra Fria. Mais recentemente, a agência passou a receber críticas exatamente contrárias: a ala mais conservadora do Partido Republicano acusa a agência de servir a interesses do Partido Democrata. No Brasil, apoiadores do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) acusam (sem provas) a agência de interferir na política local.
O projeto de fechamento da USAID também se explica pelo desejo do empresário Elon Musk, chefe do recém-criado Departamento de Eficiência Governamental dos EUA. Musk acusa a agência de ser uma “organização criminosa” e se queixa dos gastos que considera elevados, embora o orçamento da USAID tenha um orçamento de pouco mais de 40 bilhões de dólares, considerado ínfimo diante de todo o orçamento federal dos EUA, segundo registros governamentais.
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