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EUA declaram guerra comercial a México, Canadá e China com tarifas a partir deste sábado
Segundo a Oxford Economics, a economia americana perderia 1,2 ponto percentual de crescimento e o México poderia mergulhar em uma recessão


O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, promete impor a partir deste sábado 1º tarifas alfandegárias sobre produtos de Canadá, México e China, como petróleo, gás, microchips e aço.
Além disso, pretende fazer o mesmo com a União Europeia.
“Vou impor tarifas à União Europeia? Querem uma resposta sincera ou uma resposta política? Claro que sim. A União Europeia nos tratou terrivelmente”, declarou Trump a jornalistas no Salão Oval.
O republicano disse nesta sexta-feira 31 que México, Canadá e China nada podem fazer para impedir isso. “Acontecerá muito em breve”, afirmou, adiantando que algumas tarifas poderiam entrar em vigor “por volta de 18 de fevereiro”.
“Vamos impor tarifas sobre os microchips, sobre o petróleo e o gás” e “muitas” sobre o aço, listou.
Os produtos farmacêuticos e o cobre também serão alvo de futuras taxações, avisou.
O magnata, que retornou à Casa Branca em 20 de janeiro, acusa os três países de não fazerem o suficiente para combater o tráfico de fentanil e acusa Canadá e México de permitirem a migração ilegal para os Estados Unidos.
“O presidente vai impor tarifas de 25% ao México, 25% ao Canadá e 10% à China pelo fentanil ilegal que produzem e permitem distribuir em nosso país”, bem como pelos migrantes que entram ilegalmente nos Estados Unidos, confirmou nesta sexta-feira a porta-voz da Casa Branca, Karoline Leavitt.
No entanto, Trump especificou que o petróleo canadense, que representa 60% das importações dos EUA nesse setor, poderia ser taxado um pouco menos.
“Provavelmente vou reduzir as tarifas sobre [o petróleo canadense]. Estamos pensando em limitá-las a 10%”, explicou o bilionário.
Plano A, B e C
A presidenta do México, Claudia Sheinbaum, disse nesta sexta que seu governo mantém uma “mesa de diálogo” com os Estados Unidos e diversos planos de contingência.
“Temos plano A, plano B, plano C para o que o governo dos Estados Unidos decidir”, assegurou, sem detalhá-los.
O primeiro-ministro canadense, Justin Trudeau, respondeu que seu país está “preparado para uma resposta imediata” caso a ameaça se concretize.
México e Canadá, teoricamente protegidos pelo acordo de livre comércio T-MEC, assinado durante o primeiro mandato do republicano em substituição ao Nafta, tentaram evitar essa situação.
O ministro canadense da Segurança Pública, David McGuinty, viajou a Washington para traçar um plano de reforço da fronteira entre os dois países.
Isso não parece ser suficiente aos olhos de Donald Trump.
Ele acusa a China de permitir a exportação dos componentes básicos do fentanil, principalmente para o México, onde afirma que os cartéis de drogas fabricam fentanil para enviá-lo aos Estados Unidos.
Durante uma audiência no Senado nesta terça-feira, o indicado de Donald Trump para secretário do Comércio, Howard Lutnick, justificou a política comercial do republicano como “um ato de política interna” destinado “simplesmente a fazer com que fechem suas fronteiras”.
Consequências
Desconhecem-se vários elementos importantes: o alcance das tarifas, ou seja, se são seletivas ou aplicadas a todos os produtos, e as ferramentas jurídicas que Donald Trump utilizará para justificar a decisão.
A medida poderia abrir a porta para ações legais, tanto por parte dos estados quanto das empresas afetadas, em virtude dos procedimentos de solução de diferenças previstos no T-MEC.
O impacto econômico das medidas poderia ser significativo para os quatro países.
Segundo a Oxford Economics, a economia americana perderia 1,2 ponto percentual de crescimento e o México poderia mergulhar em uma recessão.
“As principais exportações do México são alimentos, material de transporte e a eletrônica. Representam mais de 50% das exportações do país e uma parte importante da atividade industrial”, declarou à AFP Joan Domene, analista da Oxford Economics.
Para Wendong Zhang, professor da Universidade de Cornell, embora o impacto não seja tão grande para os Estados Unidos, será para o Canadá e o México.
“Neste cenário, Canadá e México podem esperar que seus PIBs diminuam 3,6% e 2%, respectivamente, e os Estados Unidos, 0,3%”, avaliou. “A China também sofreria de uma escalada na guerra comercial existente, mas ao mesmo tempo se beneficiaria das tensões entre os Estados Unidos, México e Canadá.”
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