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Aposta. Em 2020, foi criada uma linha para financiar a compra de equipamentos com tecnologia 4.0. O agronegócio também pode acessar recursos do Finame – Imagem: iStockphoto

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Admirável Mundo Novo

Com 60 anos de história, o BNDES Finame segue modernizando o setor produtivo, agora com especial atenção à evolução para a Indústria 4.0

Histórias de Desenvolvimento BNDES

Em sua segunda década de existência, o BNDES (então chamado de BNDE) deslocou seu foco de atuação da infraestrutura para o setor industrial, em um contexto de implementação da política de substituição de importações. Nessa década de 1960, mais precisamente em dezembro de 1964, foi criado o Finame (Fundo de Financiamento para Aquisição de Máquinas e Equipamentos Industriais), por meio do decreto 55.275. Rebatizado como BNDES Finame, a linha constitui o mais antigo mecanismo de apoio aos fabricantes de bens de capital, favorecendo o desenvolvimento da indústria e o crescimento das diversas regiões do País.

As operações do BNDES Finame somaram cerca de R$ 49 bilhões em 2024. A indústria, o comércio e serviços e o agronegócio são os principais setores beneficiados. Os financiamentos abrangem uma grande variedade de equipamentos, de caminhões a robôs de alta tecnologia, com 65% dos recursos destinados a micro, pequenas e médias empresas.

Um exemplo de indústria que tem investido na modernização de sua produção é a Transbrasa, uma das empresas que receberam financiamento recente do BNDES Finame Máquinas 4.0, para a compra de empilhadeiras. Localizada em Santos, no litoral paulista, a companhia oferece serviços de armazenagem e manuseio de cargas no maior porto do País. “A aquisição aumentará a capacidade operacional de um volume crescente de movimentação de cargas no terminal”, diz Bayard Freitas Umbuzeiro Neto, CEO e vice-presidente da Transbrasa.

Essa linha de crédito específica é destinada à aquisição de máquinas e equipamentos com tecnologia 4.0, com características de serviços de manufatura avançada e de Internet das Coisas (IoT, na sigla em inglês). Criada em 2020, visa estimular a transformação digital das companhias. Os financiamentos são direcionados a empresas, produtores rurais e ao setor público.

As operações do programa somaram cerca de 40 bilhões de reais em 2024, até o início de dezembro

Um levantamento da consultoria Global Industry Analysts (GIA) mostrou que, em 2020, os gastos na indústria 4.0 alcançaram US$ 90,6 bilhões – aproximadamente R$ 495,5 bilhões. A projeção é que, em 2026, esse valor chegue a US$ 219,8 bilhões (em torno de R$ 1,2 trilhão). O Brasil tem avançado nesse setor, como indicam dados da Confederação Nacional da Indústria. Em 2016, 48% das empresas brasileiras utilizavam alguma tecnologia 4.0. Em 2022, último levantamento disponível, esse número subiu para 69%.

Nesse mesmo ano, as indústrias inovadoras com cem ou mais funcionários investiram R$ 36,9 bilhões em atividades internas de Pesquisa e Desenvolvimento (P&D). As companhias do setor de transformação foram responsáveis por 83,5% desse valor, enquanto as indústrias extrativas representaram 16,5%. Os dados são da Pesquisa de Inovação Semestral 2022, lançada pelo IBGE em março de 2024, em parceria com a Agência Brasileira de Desenvolvimento Industrial (ABDI) e a Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). Nem todas as organizações dispõem de recursos para esse tipo de investimento, o que ressalta a importância do BNDES no financiamento à modernização das linhas de produção.

O BNDES Finame assumiu, desde a sua criação, um papel estratégico no estímulo à indústria brasileira e na política de substituição de importações. Nos anos 1970, a pauta de importações do Brasil era composta de, aproximadamente, 40% de equipamentos, 40% de petróleo e 20% de outros itens. Com os dois choques do petróleo – o primeiro, em 1973, quando o preço do barril passou de US$ 3,00 para US$ 12,00, e o segundo, em 1979, quando ultrapassou a marca dos US$ 30,00 – o governo brasileiro implementou um projeto de autossuficiência na produção de equipamentos industriais.

O BNDES Finame teve papel decisivo nesse processo, garantindo o financiamento para a produção de equipamentos fundamentais à expansão da indústria de transformação, com destaque para siderúrgicas como Cosipa, CSN e Usiminas. Além disso, impulsionou a mecanização da agricultura, modernizando o setor agropecuário – com a aquisição de tratores e outros maquinários – e contribuiu para o desenvolvimento de diversos setores, como as indústrias têxtil, automobilística, aeronáutica e de papel e celulose.

História. Desde os anos 1960, diversos setores se beneficiaram com o crédito para aquisição de máquinas, como as indústrias aeronáutica, de energia e de transformação – Imagem: iStockphoto, Acervo/CNS e Acervo/Embraer

Outro exemplo significativo de como o BNDES Finame impactou a cadeia industrial brasileira foi a estruturação do setor de energia eólica. Em 2007 e 2008, o mundo enfrentou uma crise financeira, com epicentro em Nova York, resultante de problemas no crédito imobiliário da maior economia global. Nesse período, a indústria eólica mundial, impulsionada por encomendas dos EUA e da Europa, começou a enfrentar a desaceleração nos pedidos e ociosidade nas fábricas. Enquanto isso, o Brasil buscava diversificar sua matriz energética e explorar seu potencial eólico.

Em 2009, o governo brasileiro inovou ao realizar leilões exclusivos para a contratação de energia eólica, resultando na geração de 1.805,7 MW. Com isso, foram viabilizados 71 empreendimentos de produção eólica em cinco estados das regiões Nordeste e Sul. O montante financeiro transacionado em decorrência do certame alcançou R$ 19,59 bilhões ao final do período de vigência dos contratos, de 20 anos. Esse foi o marco inicial do avanço progressivo da energia eólica na matriz brasileira, que hoje responde por cerca de 15% da eletricidade gerada no País.

Com leilões anuais, que garantiram a demanda contratada a cada ano, buscou-se atuar tanto no financiamento dos projetos como no desenvolvimento da cadeia produtiva,. que inicialmente apresentava um índice de nacionalização próximo de 60% e chegou a 80% na fabricação de aerogeradores, conforme as regras estabelecidas pelo BNDES Finame. O BNDES também passou a estruturar os Planos de Nacionalização Progressiva (PNP), nos quais o credenciamento dos equipamentos prioriza etapas produtivas e itens de maior complexidade, definidos com base em um diagnóstico do setor e da base industrial já estabelecida no País. Como resultado, as empresas multinacionais comprometeram-se a internalizar a fabricação dos aerogeradores.

O Brasil conseguiu atrair numerosos fabricantes de turbinas, pás, torres eólicas e outros componentes, além de consultorias e empresas especializadas em transporte, planejamento e obras. “As empresas buscaram credenciar-se ao BNDES Finame para participar do adensamento da cadeia e do desenvolvimento da energia eólica”, recorda Nelson Siffert, que em 2009 estava na Superintendência de Infraestrutura do BNDES.

Como funciona o financiamento? O investidor escolhe a máquina que deseja comprar e verifica se o item consta na listagem de equipamentos financiáveis pelo BNDES Finame, que é operado de forma indireta – ou seja, por meio de um banco parceiro, que repassa os recursos. Nesse sistema, o interessado procura uma instituição credenciada e solicita o financiamento. O responsável pela análise verifica o pedido e a situação financeira do solicitante e, caso aprove a transação, encaminha o pedido ao BNDES. Após avaliação, o banco público repassa os recursos à instituição financeira. A vantagem desse modelo é que os recursos do BNDES, que não conta com agências próprias, chegam com mais facilidade às empresas de todos os portes em todo o território nacional.

O Finame fortaleceu a manufatura nacional e deu suporte à política de substituição das importações no País

Helena Maria Martins Lastres, ex-assessora da Presidência do BNDES, onde chefiou a Secretaria de Arranjos e Sistemas Produtivos, Inovativos e Desenvolvimento Local, diz que o BNDES Finame tem desempenhado um papel importante na promoção de um crescimento industrial mais distribuído, por todas as regiões do País. “O desafio é garantir que o fortalecimento da indústria seja acompanhado por uma estratégia de Estado”, destaca Lastres, que também coordenou o Comitê de Arranjos Produtivos e Desenvolvimento Regional da instituição de agosto de 2007 a maio de 2016.

Entre março de 2007 e dezembro de 2016, a participação do crédito destinado às empresas brasileiras no PIB passou de 16,6% para 24,7%. Esse crescimento expressivo foi impulsionado pelo aumento dos desembolsos do BNDES. O setor de infraestrutura foi o principal beneficiado, com 62.175 empréstimos, totalizando R$ 62 bilhões. Já a indústria recebeu 58.016 financiamentos, que somaram R$ 58 bilhões.

Recentemente vemos um impulso adicional do BNDES ao setor industrial. Nos nove primeiros meses do ano de 2024, as aprovações do Banco à indústria apresentaram o maior crescimento em comparação aos demais setores: 108% em comparação ao mesmo período do ano anterior), chegando a R$ 37 bilhões.

Estudo de Napoleão Silva e Alice Saccaro sobre os efeitos do BNDES Finame nas companhias brasileiras revela que empresas de micro, pequeno e médio porte que acessaram a linha de crédito apresentaram uma taxa de sobrevivência maior, com uma expectativa de vida três vezes superior à das que não participaram. “Estes são resultados importantes, que demonstram influência relevante de um programa de crédito do BNDES sobre o tempo de vida médio das micro, pequenas e médias empresas”, afirmam os pesquisadores.

Esse e outros estudos estão disponíveis na Biblioteca Digital do BNDES: bndes.gov.br/bibliotecadigital. Acompanhe as últimas notícias sobre o BNDES em agenciadenoticias.bndes.gov.br. •

Publicado na edição n° 1347 de CartaCapital, em 05 de fevereiro de 2025.

Este texto aparece na edição impressa de CartaCapital sob o título ‘Admirável Mundo Novo’

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