Mundo
Primeiro-ministro da Sérvia renuncia após três meses de protestos anticorrupção
Renúncia ocorre após protestos quase diários de estudantes, funcionários públicos e aposentados desde 1º de novembro após acidente em estação ferroviária
O primeiro-ministro da Sérvia, Milos Vucevic, anunciou nesta terça-feira (28) sua renúncia após quase três meses de protestos nas ruas, que começaram devido ao desabamento de uma estação ferroviária na cidade de Novi Sad que deixou 15 mortos, em meio a acusações de corrupção.
Estudantes, funcionários públicos e aposentados protestam quase diariamente desde 1º de novembro, após a morte de 15 pessoas no desabamento de uma área de concreto na estação ferroviária de Novi Sad.
“Tomei esta decisão para evitar novas complicações e não aumentar ainda mais as tensões na sociedade”, declarou Milos Vucevic, primeiro-ministro desde maio de 2024 e que citou uma “decisão irrevogável”.
“Tive uma longa reunião com o presidente esta manhã, conversamos sobre tudo e ele aceitou meus argumentos”, disse o ex-prefeito de Novi Sad (2012-2022), a segunda maior cidade da Sérvia.
Durante seu mandato, começaram as obras de reforma da estação ferroviária, concluídas poucos meses antes do acidente. O prefeito de Novi Sad, Milan Đurić, também deve renunciar nas próximas horas, afirmou Vucevic.
Diálogo?
A queda da cobertura da estação ferroviária motivou um dos movimentos de protesto mais importantes dos últimos anos no país.
Os manifestantes organizam passeatas por todo o país, com a participação de dezenas de milhares de pessoas.
A população considera a tragédia uma demonstração da corrupção e da negligência das autoridades em um país que multiplica os projetos de construção e grandes obras sob a presidência do nacionalista Aleksandar Vučić, no poder desde 2012.
O governo alterna entre pedidos de diálogo e acusações de interferência estrangeira, alegando que os estudantes foram pagos por agentes externos para participar nas manifestações.
Os protestos, no entanto, prosseguiram e uma greve geral foi convocada nos últimos dias.
A tensão é palpável em todo o país e vários estudantes foram atropelados durante os protestos. Uma jovem ficou ferida em um confronto entre militantes do Partido Progressista Sérvio e estudantes na noite de segunda-feira em Novi Sad.
“Desejo uma rápida recuperação”, disse Vucevic nesta terça-feira. “Este é um ato inaceitável que merece ser condenado em todos os sentidos. Espero que os responsáveis sejam detidos”, acrescentou.
O primeiro-ministro afirmou desejar que sua renúncia e a do prefeito de Novi Sad “provoquem um alívio das paixões e o retorno ao diálogo”.
“Peço a todos que acalmem as paixões e retornem ao diálogo”, insistiu, um apelo que já havia apresentado na noite de segunda-feira em uma entrevista coletiva conjunta com o presidente Aleksandar Vučić.
“Convido os reitores, professores e estudantes para discutir todas as questões apresentadas”, enfatizou Vucevic na noite de segunda-feira.
O presidente sérvio acrescentou que espera uma “mudança em larga escala (…) com a substituição de mais de 50% dos atuais ministros”.
Apoie o jornalismo que chama as coisas pelo nome
Depois de anos bicudos, voltamos a um Brasil minimamente normal. Este novo normal, contudo, segue repleto de incertezas. A ameaça bolsonarista persiste e os apetites do mercado e do Congresso continuam a pressionar o governo. Lá fora, o avanço global da extrema-direita e a brutalidade em Gaza e na Ucrânia arriscam implodir os frágeis alicerces da governança mundial.
CartaCapital não tem o apoio de bancos e fundações. Sobrevive, unicamente, da venda de anúncios e projetos e das contribuições de seus leitores. E seu apoio, leitor, é cada vez mais fundamental.
Não deixe a Carta parar. Se você valoriza o bom jornalismo, nos ajude a seguir lutando. Assine a edição semanal da revista ou contribua com o quanto puder.


