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‘Não há justificativas para que sejam algemados’, diz diretor da PF sobre brasileiros deportados dos EUA

Andrei Rodrigues também citou a importância de se respeitar a soberania nacional no caso; para ele, cabe ao Brasil definir as regras de transporte dos seus próprios cidadãos

‘Não há justificativas para que sejam algemados’, diz diretor da PF sobre brasileiros deportados dos EUA
‘Não há justificativas para que sejam algemados’, diz diretor da PF sobre brasileiros deportados dos EUA
Foto: Reprodução/YouTube/Roda Viva
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O diretor-geral da Polícia Federal (PF), Andrei Rodrigues, criticou o tratamento dado aos brasileiros deportados dos Estados Unidos na era-Trump, que chegaram ao País, na última sexta-feira 24, algemados e com correntes nos pés. Segundo o agente, não há justificativas para que a medida seja adotada.

“Não há justificativas para que pessoas que não são presidiários, não oferecem risco e estão no próprio País sejam acorrentadas e algemadas”, avaliou Rodrigues em uma entrevista concedida ao programa Roda Viva, da TV Cultura, exibida na noite desta segunda-feira 27.

Para o chefe da PF, o caso envolve uma questão de soberania nacional. A avaliação é de que cabe ao Brasil definir as regras de transporte de seus próprios cidadãos.

“Esse caso tem fundamentalmente três eixos que a gente precisa avaliar. Em primeiro está a dignidade daquelas pessoas, cidadãos brasileiros, que não são presidiários e estavam chegando ao nosso País repatriados dos EUA. O segundo ponto é a soberania nacional para que apliquemos no nosso País as nossas regras, sob o comando das nossas instituições com competência para tanto. E terceiro lugar é a segurança do voo e do sítio aeroportuário”, destacou Rodrigues.

Segundo o agente, a norma brasileira exige que cada caso seja analisado de forma individual e que um brasileiro só seja algemado durante o voo se ele representar um risco em potencial para passageiros, tripulantes ou aeronave. O País, ainda segundo Rodrigues, segue determinações internacionais que indicam o comandante do voo como autoridade máxima nestes casos: em suma, se na avaliação do piloto o passageiro representar um risco, ele poderá ser algemado.

Rodrigues esclarece, porém, que a contenção, quando necessária, deve ser feita apenas durante o voo e que as algemas e correntes precisam ser retiradas imediatamente após a chegada do brasileiro em solo nacional. Para ele, essa foi a grande diferença entre o caso registrado na sexta-feira e as demais deportações ao longo dos últimos anos.

“A grande diferença para os outros episódios é que em nenhum deles os brasileiros desceram em solo nacional algemados e acorrentados”, explicou Rodrigues ao justificar o rigor com que o episódio tem sido tratado.

O caso gerou reação do governo brasileiro. De imediato, a gestão Lula (PT) determinou que os 88 brasileiros que estavam no voo fossem libertados das algemas e recebessem atendimento ainda no aeroporto, com água, alimentação e possibilidade de que fizesse a higiene pessoal. Um avião da Força Aérea Brasileira foi deslocado até Manaus para que o último trecho da viagem, que tinha Belo Horizonte como destino, fosse feita sob a supervisão de autoridades brasileiras. A avaliação é de que a dignidade e os direitos humanos foram desrespeitados.

A outra parte da reação do governo federal partiu da diplomacia, com fortes cobranças de explicações por parte do governo dos EUA no caso. Na última ação, o Itamaraty convocou o representante norte-americano no Brasil para esclarecimentos sobre os deportados. O encarregado de negócios dos EUA no Brasil, Gabriel Escobar, que comanda temporariamente a embaixada do país em Brasília, foi o responsável por fornecer as informações ao governo Lula sobre o caso.

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