Fora da Faria
Uma coluna de negócios focada na economia real.
Fora da Faria
Taxa tamanho GG
Com Galípolo no comando e juros a caminho dos 14,25%, quem segura a conta é o crescimento


O Copom faz nesta semana, 28 e 29 de janeiro, a reunião para determinar a taxa Selic, a primeira sob a gestão de Gabriel Galípolo. A tendência, já apresentada na ata de dezembro, é uma alta para 13,25%. Já está endereçado mais um aumento para março, fazendo a taxa chegar a 14,25%. Esse valor trará um aumento na dívida pública de 110 bilhões de reais.
O aumento afeta também as empresas. Segundo dados do Serasa, o país tinha em novembro de 2024 cerca de 7 milhões de empresas inadimplentes, devendo cerca de 153,4 bi. São mais de 30% das empresas endividadas. Desse total, 94% são de pequenas e médias empresas. O risco é comprometer a curva ascendente de empregos, renda e reduzir ainda mais investimentos em máquinas e equipamentos, fundamentais para aumentar a competitividade.
Remédio indigesto
Uma sugestão apresentada pela Abras – Associação Brasileira de Supermercados, para reduzir a inflação dos alimentos, – é a venda de medicamentos pelos varejistas. A justificativa é que a nova receita ajudaria a compor o faturamento e, assim, reduzir os custos da operação. Seriam vendidos medicamentos que não necessitam de receitas médicas. O tema estava em pauta desde 2019, em no PL 1774, de autoria do Deputado Federal Glaustin da Fokus (Podemos-GO). Existem mais de uma dezena de propostas nesse sentido.
A reação do setor do varejo farmacêutico veio imediatamente, especialmente questionando sobre a capacidade das redes cumprirem com as obrigações formais determinadas pela legislação atual, de terem farmacêuticos responsáveis, por exemplo. Outro argumento é que, com a liberação, as farmácias passariam a vender apenas medicamentos tarjados, o que aumentaria seus custos e, consequentemente, os preços dos remédios que necessitam de receitas para serem comercializados.
Um elemento que tem sido desprezado nos debates sobre preços dos alimentos é que a redução de custos pode não se refletir como o esperado no preço. Quem produz não determina o preço para o consumidor. O varejo precisa entrar no jogo.
A disputa dos setores ainda deve durar algum tempo antes de uma definição. Até lá, muita dor de cabeça e debates indigestos. Com medicamentos comprados apenas nas farmácias.
Musk e o X em questão
Elon Musk admitiu em e-mail enviado para a equipe do X que a empresa passa por dificuldades de crescimento de usuários e uma evolução pífia de receita. O Wall Street Journal teve acesso ao texto distribuído em que ele diz “o crescimento de usuários está estagnado, a receita é pouco impressionante e mal estamos no ponto de equilíbrio.”
Os bancos que participaram da operação de compra começaram a se movimentar para venda da participação nas dívidas. Apesar do cenário Musk tem destacado o crescimento do poder de influência da plataforma. Aparentemente, para ele, dinheiro não é tudo. Mas é.
JBS tira os ovos da mesma cesta
A JBS, gigante do mercado de proteínas, comprou 50% do controle da Mantiqueira Brasil, maior produtora de ovos da América do Sul. A notícia foi divulgada pelo Brazil Journal. Com esse negócio a JBS entra no segmento que faltava em seu portifólio de proteínas. E entra com os dois pés no mercado americano de ovos e abre espaço para disputar um mercado global que tem o consumo médio de 269 ovos por pessoa ano.
Os olhos da cara
A ANPD – Agência Nacional de Proteção de Dados, proibiu a Tool of Humanity, que tem Sam Altman dentre seus fundadores, de oferecer criptomoedas em troca de fazer a biometria da íris dos olhos. A empresa criou o serviço para fazer uma prova de humanidade, que diferenciaria humanos de deep fakes, aumentando a segurança de operações digitais. A ANPD alega que a empresa estava em desacordo com a Lei Geral de Proteção de Dados.
Segundo dados da Reuters, foram coletadas informações de 10 milhões de íris ao redor do mundo. A estimativa é de que no Brasil foram 500 mil coletas. Cada uma recebeu tokens da WLD (Worldcoin), uma criptomoeda criada pela própria empresa. O valor pelas cotações recentes daria algo entre 600 e 675 reais.
Agora quem quiser participar do projeto, o fará sem recompensa financeira. Com o perdão do infame trocadilho, dará a imagem dos olhos, mas não verá a cor do dinheiro.
As marcas e os PIBs
Foi divulgado o Ranking Global 500 da consultoria Brand Finance. Apple é a marca mais valiosa do mundo (US$ 574,5bi), seguida por Microsoft, Google e Amazon nas quatro primeiras posições. Somadas, as marcas valeriam, hoje, US$ 1,9 trilhões. Se isso fosse o PIB, as gigantes de tecnologia seriam a 12ª economia global, muito perto de Canadá, Brasil e Rússia. À frente de Coreia, México e Austrália. Se acrescentarmos Samsung, TikTok, Facebook, NVIDIA, Instagram e Oracle, todas do setor de tecnologia, o número chega a US$ 2,34 tri, fazendo com que as marcas superassem economias como Canadá e Brasil, praticamente empatando com a Itália. Assim essas Big Ten seriam a 9ª economia mundial. Claro que se o critério fosse faturamento os números seriam outros.
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