Augusto Diniz | Música brasileira

Jornalista há 25 anos, Augusto Diniz foi produtor musical e escreve sobre música desde 2014.

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Sempre fizemos groove, diz João Parahyba, fundador do Trio Mocotó

Com quase 60 anos, o grupo segue na ativa com o guitarrista Melvin Santhana no lugar de Skowa, que morreu em 2024

Sempre fizemos groove, diz João Parahyba, fundador do Trio Mocotó
Sempre fizemos groove, diz João Parahyba, fundador do Trio Mocotó
Foto: José de Holanda
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João Parahyba, Fritz Escovão e Nereu Gargalo tocavam juntos desde 1966, mas tratam 1968 como o ano de fundação do Trio Mocotó. Naquele começo de estrada, o trio formava uma banda de apoio de Jorge Ben Jor, que conheceu o grupo tocando no Jogral, uma casa noturna paulistana.

Foi Jorge Ben quem sugeriu o nome de Trio Mocotó, em uma referência à sua música Eu Também Quero Mocotó. O grupo fazia uma batida diferente de samba, que casava com o violão muito pessoal de Jorge Ben.

“Somos grooveiros. É muito dançante. O que a gente sempre fez foi groove”, disse João Parahyba a CartaCapital. A levada swingada acabou nomeada como samba-rock.

O Trio Mocotó fez história na década de 1970 com o lançamento de três discos na fusão entre o samba, o rock, o funk e o soul. Isso ajudou a impulsionar a música negra no Brasil, que vivia em ascensão com o surgimento de bailes no Rio de Janeiro e em São Paulo.

“O movimento foi ganhando uma força muito grande e nos adotaram como representantes da black music no Brasil”, conta João. Depois, o movimento da black music sofreu um apagamento na história da música brasileira — e o fundador do Trio Mocotó reconhece que a luta continua. “É uma mentira que acabou o racismo ao negro.”

O grupo se abalou com a morte, no ano passado, do guitarrista Marco Antônio Gonçalves dos Santos, o Skowa, que substituiu em 2003 Luiz Carlos de Souza Muniz, o Fritz Escovão, fundador do Trio Mocotó, também falecido no ano passado.

“Eram duas cabeças importantíssimas. O Fritz compunha muitas músicas e era um grande cantor. E o Skowa era um Fritz moderno, um fora de série. Foi bem pesado perder os dois no mesmo ano”, diz Parahyba. O Trio Mocotó agora tem na guitarra Melvin Santhana.

Para o segundo semestre, o grupo planeja até o lançamento de um novo disco. “Talvez a gente faça um disco com músicas históricas. Os DJs estão pedindo. Temos muitos amigos DJs. De 2000 para cá eles, junto com o Clube do Balanço, relançaram o samba-rock.”

Os últimos discos do Trio Mocotó foram Beleza, Beleza, Beleza!, de 2003, e um com o trompetista norte-americano Dizzy Gillespie, que era uma gravação dos anos 1970, mas foi lançada somente em 2010.

João Parahyba acompanhou todas as mudanças do mercado fonográfico, do disco de vinil até o streaming. O setor, segundo ele, “afunilou para as big techs“.

“Quanto eram gravadoras, elas tinham grandes prédios com grandes advogados. Ou a gente assinava o contrato daquele jeito ou não gravava e não aparecia”, relembra. “Hoje, a gente grava quando quer, o que quer, como quer, mas quem distribui são as grandes techs. Elas ganham 99%. É ridículo o que pagam para gente. É a colonização musical.”

Assista à entrevista:

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