Sociedade

Governo destina verba para indenizar vítimas da chacina de Acari

O Estado brasileiro foi condenado pela Corte Interamericana de Direitos Humanos pelo desaparecimento de onze pessoas no massacre, em 1990

Governo destina verba para indenizar vítimas da chacina de Acari
Governo destina verba para indenizar vítimas da chacina de Acari
As ministra Macaé Evaristo (Direitos Humanos e Cidadania) e Anielle Franco (Igualdade Racial) se encontraram com representantes das vítimas da chacina do Acari. Foto: Raul Lansky/MDHC
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O governo federal empenhou os 13 milhões de reais que devem ser pagos como indenização às vítimas e aos familiares de desaparecidos no caso da chacina de Acari, que levou ao desaparecimento de onze jovens negros no Rio de Janeiro em 1990. 

A informação foi confirmada nesta quinta-feira 16 pelos ministérios da Igualdade Racial e dos Direitos Humanos e da Cidadania. As chefes das pastas – Anielle Franco e Macaé Evaristo, respectivamente – se reuniram na última quarta-feira 15, no Rio, com o coletivo Mães de Acari, que representa as vítimas.

Esse foi o primeiro encontro de representantes do governo federal com a entidade que representa as vítimas depois que a Corte Interamericana de Direitos Humanos (CIDH) condenou o Estado brasileiro a reparar os danos causados pela chacina.

O caso aconteceu em julho de 1990. Na época, onze jovens negros da favela de Acari desapareceram após terem sido sequestrados por policiais. O paradeiro deles é desconhecido até hoje, como confirmou a sentença da CIDH, publicada no início do último mês de dezembro.

Segundo a Corte, os responsáveis pelo desaparecimento faziam parte de um grupo de extermínio conhecido como “Cavalos Corredores”. Até hoje, de acordo com o órgão, o Estado brasileiro “não fez uma investigação séria, objetiva e efetiva, e orientada a descobrir a verdade”. 

A indenização

O valor estabelecido como indenização será pago às vítimas e aos familiares de desaparecidos, mas também deve ser dividido com as organizações que pleitearam uma resposta ao CIDH, bem como ao Fundo de Assistência Jurídica às Vítimas da CIDH.

A parte referente ao fundo, aliás, já foi paga. O valor estabelecido foi de 3.384 dólares (cerca de 22 mil reais). Sobre as demais pessoas e organizações que devem ser indenizadas, os Ministérios disseram que o pagamento será feito assim que os dados dos beneficiários sejam recebidos pelo governo.

A reunião de quarta-feira serviu para que as famílias das vítimas e as ministras tratassem da sentença condenatória. Anielle Franco afirmou que a pasta deve atuar no monitoramento do cumprimento da sentença.

“Conheço muito de perto essa dor e me solidarizo plenamente com cada pessoa aqui presente. Nesse momento de escuta, que é também de fortalecimento da luta dessas mulheres, reiteramos que o MIR vai atuar no monitoramento do cumprimento da sentença e incidir ativamente para que os órgãos envolvidos possam cumprir com seus deveres”, disse Anielle.

Já Macaé Evaristo disse que a decisão pode aperfeiçoar a legislação brasileira. “Essa determinação é muito importante para que, em caso de desaparecimento forçado, o crime não prescreva enquanto não for devidamente apurado. A corte afirma que a não prescrição do processo penal deve permanecer enquanto o paradeiro da vítima não for determinado, tendo em vista o caráter permanente da prática. Isso é um aperfeiçoamento da legislação brasileira, que precisa ser feito”, afirmou a ministra.

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