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‘Foram para matar’: moradores de assentamento do MST atacado em SP já temiam invasão

A Polícia Civil anunciou na tarde deste sábado a prisão de um homem acusado de envolvimento no ataque

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Foto: Arquivo e Memória MST
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“Uma situação quase anunciada”. Foi assim que Gilmar Mauro, integrante da direção nacional do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra, o MST, definiu o ataque a um assentamento em Tremembé (SP) que deixou pelo menos dois mortos e seis feridos no fim da noite da sexta-feira 10.

Moradores estavam em uma das entradas do Assentamento Olga Benário quando foram surpreendidos por criminosos fortemente armados, segundo Mauro. “O pessoal estava reunido porque havia um murmúrio de que setores iriam invadir um lote do assentamento naquela noite. Havia uma reunião de 15, 17 pessoas na entrada”, detalhou a CartaCapital. “Por sorte não morreu mais gente.”

As vítimas são Valdir Nascimento, 52 anos, uma liderança do Olga Benário, e Gleison Barbosa, de 28. Dois irmãos de Gleison foram atingidos — um deles estava, até a tarde deste sábado, em estado gravíssimo após levar um tiro na cabeça.

A Polícia Civil prendeu neste sábado um suspeito de liderar o ataque. Segundo a Secretaria de Segurança Pública de São Paulo, o homem, conhecido como “Nero do Piseiro”, é apontado como mentor intelectual do crime e já tinha passagem por porte ilegal de arma de fogo. Ele foi identificado por testemunhas.

O delegado Marcos Ricardo Parra informou que o suspeito confessou participação no ataque e agora a polícia mantém a busca pelos comparsas.

Parra disse que resta descobrir se o suspeito buscava adquirir o terreno ou negociava para um terceiro, mas a origem do crime seria a disputa por um lote. “Seja como for, ele estava lá para modificar o pensamento dos demais.”

O Ministério da Justiça determinou que a Polícia Federal abra um inquérito para apurar o episódio. No ofício, o ministro em exercício Manoel Carlos de Almeida Neto afirma que o “violento atentado” demanda uma investigação federal.

Em nota, o MST afirmou que, apesar de ter levado denúncias a órgãos estaduais e federais, as famílias assentadas sofrem há anos “ameaças e coerções constantes”.

A reportagem questionou o Ministério Público de São Paulo a respeito das denúncias e aguarda retorno.

Como os assentamentos são federais e regulados pelo Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária, o movimento diz esperar também uma apuração que inclua as outras denúncias formalizadas na região do Vale do Paraíba.

A pressão por lotes, segundo o movimento, vem principalmente do setor imobiliário. “É uma região de assentamentos muito próximos às cidades e à área de expansão do capital imobiliário. Há uma pressão para invadir lotes do assentamento e transformá-los em condomínios. Já fizeram isso em áreas de preservação ambiental”, acrescentou Mauro.

O caso foi registrado na Delegacia Seccional de Taubaté como homicídio e tentativa de homicídio. A Secretaria de Segurança Pública do estado não respondeu se a Polícia Militar acompanhava as famílias assentadas no local do crime, mas uma fonte ouvida por CartaCapital negou que houvesse viaturas no local neste sábado.

Gilmar Mauro afirmou que, em telefonema, o presidente Lula (PT) disse que mobilizará a visita da PF e de ministérios como o da Justiça e o do Desenvolvimento Agrário. A Secom foi questionada a respeito da declaração, mas ainda não se pronunciou.

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