Josué Medeiros

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Cientista político e professor da UFRJ e do PPGCS da UFRRJ. Coordena o Observatório Político e Eleitoral (OPEL) e o Núcleo de Estudos sobre a Democracia Brasileira (NUDEB)

Opinião

Economia, polarização e comunicação: os nós que Lula precisa desatar em 2025

Mesmo com avanços no emprego e medidas populares, o governo enfrenta rejeição em bases importantes e dificuldade para mobilizar apoio na sociedade

Economia, polarização e comunicação: os nós que Lula precisa desatar em 2025
Economia, polarização e comunicação: os nós que Lula precisa desatar em 2025
Foto: Marcelo Camargo/Agência Brasil
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O ano de 2024 chega ao fim com um saldo positivo para Lula, mas o cenário político segue polarizado e repleto de desafios para o governo e a esquerda como um todo. Segundo a mais recente pesquisa da Quaest, divulgada, o presidente ostenta uma aprovação pessoal de 52%, contra 47% de reprovação, um resultado importante nestes tempos de polarização.

Para 2026, os índices de intenção de voto e rejeição divulgados pelo instituto vão no mesmo sentido. Lula venceria todos os possíveis adversários – ainda que Bolsonaro, embora inelegível, siga rivalizando. No cenário testado entre os dois, contudo, Lula marca 51%, contra 35% do ex-capitão. Ambos seguem fidelizando o eleitorado, sem dar espaço para as supostas “terceiras vias”: 90% das pessoas afirmam não se arrepender de ter votado em Lula, índice que é de 86% para Bolsonaro.

Outro dado que reforça a vantagem de Lula é a comparação entre os governos. Para 42%, o governo Lula é melhor que o governo Bolsonaro, enquanto para 37% está pior.

Os dados da Quaest, contudo, também indicam muitos desafios. No sudeste, a aprovação de Lula está em 44%, contra 55% de reprovação. Entre os que recebem de 2 a 5 salários mínimos, houve uma inversão preocupante: em outubro de 2024, o presidente registrava 51% de aprovação contra 46% de reprovação; agora, os números mudaram para 50% de reprovação e 48% de aprovação.

Uma das explicações para esses índices negativos é a percepção da economia, algo que pesquisas mais focais corroboram. Por um lado, as pessoas sentem uma melhora econômica, e 51% têm expectativa positiva para o próximo ano. Ao mesmo tempo, há temor em relação à situação atual. Para 46%, o Brasil está indo na direção errada, contra 43% que veem o País no caminho certo.

Além disso, 41% afirmam ter visto mais notícias negativas do que positivas sobre o governo, contra 32% que declaram o inverso. Em outubro, esse indicador estava empatado, com 38% para cada lado. Atualmente, 40% dos entrevistados acreditam que a economia piorou, enquanto 27% percebem melhora. Em outubro, a diferença era menor: 41% enxergavam piora e 33% viam melhora no quadro econômico brasileiro. Para 68%, o poder de compra está menor, número que era 61% na pesquisa anterior. Já 78% afirmam que o preço dos alimentos está mais caro, contra 65% que diziam o mesmo em outubro.

Por fim, mas não menos importante, 43% acreditam que está mais fácil conseguir emprego hoje, enquanto 45% veem mais dificuldades. É preciso lembrar que o Brasil apresenta hoje os melhores níveis de emprego da série histórica, iniciada em 2012. Ainda assim, quase metade do eleitorado continua percebendo problemas para encontrar trabalho, evidenciando o descompasso entre os números oficiais e a percepção popular.

Em parte, isso é problema de comunicação. Mas a comunicação não resume tudo. A polarização também explica o novo normal da popularidade, pois há uma parcela expressiva do eleitorado que seguirá avaliando a economia negativamente, independente do que ocorrer.

O governo segue patinando no jogo político geral, como ficou evidente no resultado das eleições municipais. O episódio do pacote fiscal, acompanhado do anúncio da isenção do Imposto de Renda para quem ganha até 5 mil reais, expôs essa dificuldade: a boa notícia do IR, apoiada por 75% dos entrevistados, rompeu a barreira da polarização e confirmou o acerto de Lula em priorizar a medida.

Os dias seguintes ao anúncio, contudo, foram marcados por um ataque especulativo do mercado, aproveitado pela direita no parlamento para avançar em uma ofensiva ideológica. A extrema-direita conseguiu pautar diversas propostas na CCJ e no plenário da Câmara e do Senado, aproveitando a fragilidade do campo progressista em articular sua base social.

Sem mobilização efetiva na sociedade, políticas positivas como a isenção do IR perdem força no jogo político. É como marcar um gol sem torcida para comemorar, enquanto o adversário mantém a ofensiva e domina o ritmo da partida, mesmo quando sofre um revés.

Lula prometeu ajustar a comunicação do governo e se comprometeu a falar mais diretamente com a mídia e a população. Essa mudança pode melhorar a percepção de suas realizações até 2026, mas está longe de ser suficiente para alterar a correlação de forças na política nacional.

É urgente colocar o time em campo com a torcida, criando uma onda de mobilização que defenda a democracia e o combate às desigualdades. Só assim será possível mudar o jogo, consolidar uma maioria em torno da liderança de Lula e garantir melhores resultados para a esquerda no Congresso e nos governos estaduais.

Este texto não representa, necessariamente, a opinião de CartaCapital.

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