Política
‘Coincidência’, diz Nunes sobre ter morado em imóvel de empreiteiro que tem contratos sem licitação com a prefeitura
Reportagem do jornal ‘Folha de S. Paulo’ mostrou que empresa de proprietário de apartamento recebeu R$ 600 milhões em contratos assinados pela gestão do emedebista; oposição questiona


Reportagem do jornal Folha de S.Paulo mostrou que o prefeito de São Paulo, Ricardo Nunes (MDB), morou em um apartamento de propriedade de um empreiteiro que já recebeu mais de 600 milhões de reais em contratos assinados com o executivo da capital paulista. Confrontado pelo jornal, o prefeito disse que tudo não passa de “uma grande e infeliz coincidência”.
O prefeito justificou o caso dizendo que morou no local por um curto período, enquanto a casa da família dele passava por reformas em 2022. A escolha do imóvel pertencente ao empresário Fernando Marsiarelli, fornecedor da prefeitura, aconteceu sem que a família soubesse o proprietário do apartamento.
“Foi preciso a gente locar um outro local enquanto concluía essa reforma da minha casa. A minha esposa procurou a imobiliária que a gente sempre tem relação, a Lopes Invest House, e o pessoal da imobiliária apresentou para ela seis imóveis. Ela visitou e optou por aquele imóvel, que a gente não sabia quem era o proprietário. Fiquei sabendo agora quem era o proprietário desse apartamento”, afirmou Nunes à Folha.
Para fortalecer as afirmações, Nunes mostrou à equipe do jornal um grupo de WhatsApp que, alega, conta com pessoas de sua família. A conversa tem um vídeo de um apartamento e uma mensagem atribuída à esposa dizendo que alugaria um apartamento “por 2 meses”. Não há menção ao nome do proprietário.
Parte do pagamento do aluguel, segundo Nunes, foi feito pela própria imobiliária, com valores que seriam devidos à família dele por conta de imóveis que seriam administrados pela empresa.
“Eu posso garantir que tudo [foi] correto, de forma idônea, nada de irregular, nenhum tipo de benefício. Nem conhecemos essa pessoa, zero de relação e de contato que possa suscitar algum privilégio ou algum benefício voltado à questão de ele prestar serviço à Prefeitura de São Paulo”, disse o prefeito ao jornal.
Em nota enviada a CartaCapital, a prefeitura reiterou que a locação do apartamento foi tratada diretamente com a imobiliária. “O prefeito reforça que não conhece o proprietário do imóvel e apenas soube de quem se tratava pela reportagem. O contrato do aluguel de temporada (quatro meses) foi firmado seguindo todos os trâmites. Por fim, o prefeito Ricardo Nunes repudia qualquer ilação que envolva o seu nome ou de seus familiares em um processo feito totalmente dentro da legalidade”, complementa.
Reações
Parlamentares de partidos que fazem oposição ao prefeito questionaram o caso e as declarações de Nunes. O deputado federal Guilherme Boulos (PSOL-SP), derrotado por Nunes no segundo turno das eleições municipais deste ano, ironizou o caso em postagem nas redes sociais. “São só coincidências”, disse.
O deputado estadual Guilherme Cortez, também do PSOL-SP, comparou o caso à condenação do hoje presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) pelo então juiz federal Sergio Moro no famoso caso do “triplex do Guarujá“.
“Em 2018, Lula foi condenado por Moro e sua trupe por causa de um apartamento em que nunca morou e que nunca sequer havia sido dele. Hoje, descobrimos que Nunes, já prefeito de São Paulo, morou em um apartamento de luxo de propriedade de um empreiteiro com 600 milhões em contratos sem licitação com a prefeitura e que mal pagou o aluguel do imóvel. Ele assumiu. Será que a justiça vai agir?”, questionou Cortez.
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