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Deputados franceses derrubam o primeiro-ministro menos de 100 dias após posse
Ao todo, 331 dos 574 deputados se posicionaram a favor da moção de censura


Os deputados franceses derrubaram, nesta quarta-feira 4, o primeiro-ministro do País, Michel Barnier. Indicado pelo presidente Emmanuel Macron há menos de 100 dias, a rejeição ao conservador resultou em uma união inédita entre a esquerda e a extrema-direita.
Ao todo, 331 dos 574 deputados se posicionaram a favor da medida. A votação precisava do apoio de pelo menos 288 deputados para ser aprovada. Os grupos de extrema-direita e o bloco de esquerda somam quase 330 cadeiras.
A aprovação da moção de censura torna o governo de Barnier o mais curto da Quinta República francesa, que começou em 1958, e o segundo a cair, depois da administração de Georges Pompidou em 1962, quando Charles de Gaulle era presidente.
Embora a moção de censura – mecanismo parlamentar onde legisladores podem retirar um chefe de governo do poder – não afete Macron, cujo mandato termina em 2027, ela o enfraquece ainda mais, especialmente após ele ter decidido nomear Barnier como primeiro-ministro em setembro, em nome da “estabilidade”.
Sem pedir diretamente sua renúncia, a líder do partido de extrema direita Reagrupamento Nacional (RN), Marine Le Pen, desafiou Macron, com quem disputou a Presidência em 2017 e 2022, a refletir se pode continuar no cargo.
“Cabe à sua consciência decidir se pode sacrificar a ação pública e o destino da França por seu orgulho. Cabe à sua razão decidir se pode ignorar a evidência de um repúdio popular maciço”, destacou.
Na terça-feira, o presidente, em visita à Arábia Saudita, chamou de “ficção política” uma possível renúncia antes de 2027, quando termina seu segundo mandato. O presidente de centro-direita, de 46 anos, não pode se reeleger.
Com um orçamento focado em reduzir os gastos públicos e aumentar temporariamente os impostos para grandes empresas, o governo procurava reduzir o déficit (projetado em 6,1% do PIB em 2024) e a dívida pública (112% do PIB no final de junho).
“Esta moção de censura piora tudo e torna tudo mais difícil”, disse Barnier ao final do debate, após ter apelado à “responsabilidade” em um momento econômico tenso, com o prêmio de risco da dívida francesa equiparado ao da Grécia.
O clima social também é tenso. Na quinta-feira está prevista uma greve de funcionários públicos, enquanto prossegue a mobilização dos agricultores, especialmente contra um acordo comercial entre a União Europeia e o Mercosul.
Sucessor
Sem poder convocar novas eleições legislativas até julho próximo, o presidente Macron parece disposto a nomear um novo primeiro-ministro “rapidamente”, antes mesmo da cerimônia de abertura da catedral de Notre Dame, prevista para o fim de semana, segundo seus interlocutores.
Mas, “ainda não há nada decidido”, afirma o entorno de Macron, que demorou dois meses para nomear Barnier e graças a que o partido conservador Os Republicanos (LR) deixou a oposição par governar juntamente com sua aliança centrista, no poder desde 2017.
(Com informações da AFP).
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