Política
Bolsonaro aceitou nosso assessoramento, disse general preso por trama golpista; ouça
A gravação é parte da investigação da PF sobre a trama para manter o ex-capitão no poder depois de ele fracassar em sua tentativa de reeleição


Em um áudio obtido pela Polícia Federal, o general Mário Fernandes, ex-número 2 da Secretaria-Geral da Presidência da República, afirmou que Jair Bolsonaro (PL) “aceitou nosso assessoramento”. Foi uma referência ao momento em que o então presidente rompeu o silêncio e falou a apoiadores, 40 dias após perder para Lula (PT) na eleição de 2022.
A gravação, de 9 de dezembro, é parte da investigação da PF sobre a conspiração para manter Bolsonaro no poder depois de ele fracassar em sua tentativa de reeleição. A corporação indiciou o ex-presidente, Fernandes e mais 35 pessoas sob suspeita dos crimes de abolição violenta do Estado Democrático de Direito, golpe de Estado e organização criminosa.
Na gravação, Fernandes se dirige ao tenente-coronel Mauro Cid, então ajudante de ordens de Bolsonaro.
“Força, Cid. Meu amigo, muito bacana o presidente ter ido lá à frente ali do Alvorada e ter se pronunciado, cara. Que bacana que ele aceitou aí o nosso assessoramento. Porra, deu a cara pro público dele, pra galera que confia, acredita nele até a morte. Foi muito bacana mesmo, cara. Todo mundo vibrando. Transmite isso pra ele”, disse o general.
Um dia antes, em outra mensagem a Cid sobre a conspiração golpista, Mário Fernandes relatou um diálogo com Bolsonaro: “Durante a conversa que eu tive com o presidente, ele citou que o dia 12, pela diplomação do vagabundo, não seria uma restrição? Que qualquer ação nossa pode acontecer até 31 de dezembro e tudo. Mas aí na hora: pô, presidente. A gente já perdeu tantas oportunidades”.
Em 12 de dezembro de 2022, ocorreu a diplomação de Lula e de Geraldo Alckmin (PSB) na sede do Tribunal Superior Eleitoral.
Na ocasião, Mauro Cid respondeu: “Dia 12 seria… Teria que ser antes do dia 12, né? Mas com certeza não vai acontecer nada. E sobre os caminhões, pode deixar que eu vou comentar com ele, porque o Exército não pode ‘papar mosca’ de novo, né? É área militar, ninguém vai se meter”.
O tenente-coronel se referia aos acampamentos golpistas instalados em frente ao quartel-general do Exército em Brasília. Veículos chegaram a ser multados por estacionar perto do local.
Em seu discurso a apoiadores em 9 de dezembro de 2022, Bolsonaro incentivou as manifestações golpistas promovidas após a vitória de Lula e fez menções aos militares.
“Nada está perdido. O final, somente com a morte. Quem decide meu futuro, para onde eu vou, são vocês. Quem decide para onde vão as Forças Armadas são vocês”, declarou o ex-capitão, em frente ao Palácio da Alvorada.
Ele ainda afirmou aos apoiadores que “uma de suas funções na Constituição é ser o chefe supremo das Forças Armadas” e que os militares seriam “o último obstáculo ao socialismo”.
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