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Melhor prevenir

A geóloga Olívia de Oliveira conta como o Nordeste vai atuar em uníssono contra as mudanças climáticas

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Antecipação. O grupo científico, diz Oliveira, irá agir no curto, médio e longo prazo contra os efeitos do aquecimento global – Imagem: iStockphoto e Acervo/Consórcio Nordeste
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A ação conjunta durante a pandemia de Covid-19 inspirou uma nova iniciativa do Consórcio Nordeste, a criação do Comitê Científico de Monitoramento e Enfrentamento de Emergências Climáticas, cuja missão é propor medidas integradas aos nove estados da região. “Temos a ­responsabilidade de proteger as nossas populações e os nossos recursos naturais para as gerações futuras”, afirma a geóloga Olívia de Oliveira, coordenadora do comitê, em entrevista à repórter Fabíola Mendonça.

CartaCapital: Qual a finalidade do comitê?
Olívia de Oliveira: Apoiar os estados consorciados na formulação de políticas públicas eficazes, baseadas nas melhores evidências científicas disponíveis, para mitigar os impactos das mudanças climáticas e enfrentar as emergências que já estamos vivenciando. O objetivo é promover uma ação coordenada e estratégica que permita não apenas a resposta imediata a desastres, mas o planejamento no curto, médio e longo prazo para garantir a sustentabilidade ambiental e a resiliência das nossas comunidades. Com o comitê, o colegiado dos governadores passa a contar com uma estrutura científica permanente focada nas questões relacionadas às emergências climáticas, para embasar suas decisões e alinhar ações intergovernamentais, considerando as particularidades regionais e tendo a ciência como guia. O comitê é composto de especialistas de renome, que nos auxiliarão nas tomadas de decisão e na adoção de medidas concretas. Temos a responsabilidade de proteger as nossas populações e os nossos recursos naturais para as gerações futuras.

CC: Qual é a contribuição do Nordeste no combate à crise climática?
OO: O monitoramento avançado e o diagnóstico de impactos climáticos, com possibilidade de produção de relatórios e boletins periódicos com análises científicas, vão subsidiar ações rápidas e eficazes na mitigação de efeitos extremos, por meio de sugestão de implementação de estratégias para reduzir os danos causados por eventos como a desertificação e as enchentes, promovendo o reflorestamento e o manejo sustentável de biomas, e o fortalecimento da resiliência regional, uma vez que a adoção de políticas públicas baseadas em ciência pode ampliar a capacidade de resposta de comunidades vulneráveis e dos sistemas naturais aos eventos climáticos extremos. Vamos fomentar a sustentabilidade climática global, pois a adoção de práticas inovadoras de adaptação e mitigação pode ser replicada em outras regiões vulneráveis no País e ao redor do mundo. Essas ações posicionam o Nordeste como uma região-chave na formulação de respostas climáticas eficientes, tanto em escala nacional quanto internacional.

CC: Qual é o maior desafio?
OO: Lidar com os impactos crescentes dos eventos extremos, como secas prolongadas, enchentes, ondas de calor e erosão costeira, dentre outros, agravados pelas características climáticas da região. Esses eventos afetam severamente a segurança hídrica, a produção agrícola, a biodiversidade e a infraestrutura urbana e rural. As consequências incluem desertificação, salinização do solo, perda de áreas produtivas, aumento da insegurança alimentar, deslocamento forçado de populações e danos significativos à saúde pública. Além disso, o comitê enfrenta o desafio de sugerir ações para equilibrar a mitigação e adaptação às emergências climáticas, considerando a vulnerabilidade socioeconômica das comunidades, a escassez de recursos financeiros e a necessidade de integrar políticas públicas com soluções locais sustentáveis e eficazes.

O comitê busca aliar “ciência e gestão”, diz a coordenadora

CC: Quais são os projetos prioritários?
OO: O comitê tem realizado reuniões e discussões, concentrando seus esforços na elaboração de um relatório diagnóstico preliminar. O documento inclui mapeamento, em âmbito estadual, dos sistemas, índices e boletins relevantes para o monitoramento do clima, capazes de indicar emergências climáticas, identificação de fragilidades e carências nos setores institucionais, abrangendo aspectos técnicos, estrutura administrativa e ambientes vulneráveis, no contexto do enfrentamento das emergências climáticas, levantamento de políticas públicas existentes nos estados para monitoramento e enfrentamento das mudanças climáticas, e identificação dos principais grupos de pesquisa acadêmicos envolvidos no tema. O monitoramento é um processo contínuo de observação, coleta e análise de dados sobre situações ou fenômenos críticos, como crises e desastres climáticos. Vamos alinhar ciência e gestão governamental, oferecendo recomendações embasadas em evidências para apoiar decisões políticas e promover ações que fortaleçam a resiliência climática na região. A coordenação priorizará a integração com os estados consorciados para assegurar que as ações reflitam a realidade de cada território e sejam implementadas de forma equitativa.

CC: A Caatinga tem se revelado uma importante fonte de biodiversidade, de trabalho e renda para a população nordestina, além de um bioma com grande potencial para controlar o aquecimento global. A área também é uma prioridade do comitê?
OO: A Caatinga é peça central na mitigação das mudanças climáticas e no desenvolvimento sustentável do Nordeste. Nosso olhar para o bioma envolve ações integradas que combinem conservação ambiental, recuperação de áreas degradadas e geração de renda para as comunidades locais.

CC: Qual o posicionamento do comitê em relação à exploração do petróleo e como conciliar o combustível fóssil e a transição energética?
OO: A expansão da energia renovável é fundamental para reduzir a dependência de combustíveis fósseis e para cumprir as metas climáticas regionais e globais. Quanto à exploração de petróleo, é preciso adotar uma redução progressiva e alinhada a critérios rigorosos de sustentabilidade, minimizando impactos ambientais e promovendo o uso de receitas da exploração para financiar a transição energética. Apesar das dificuldades de conciliar a exploração de combustíveis fósseis com as metas climáticas, o comitê entende que a transição para fontes limpas deve ser planejada e gradual, assegurando um suporte econômico e social às comunidades impactadas. •

Publicado na edição n° 1338 de CartaCapital, em 27 de novembro de 2024.

Este texto aparece na edição impressa de CartaCapital sob o título ‘Melhor prevenir’

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