Política
Descobertas da PF devolvem Braga Netto ao centro da apuração sobre a trama golpista de 2022
O general do Exército, ex-ministro de Jair Bolsonaro, teria papel de destaque no ‘gabinete de crise’ após plano contra Lula, Alckmin e Moraes


A Operação Contragolpe, deflagrada nesta terça-feira 19 pela Polícia Federal, devolve ao centro da conspiração de 2022 o general da reserva Walter Braga Netto, que por pouco não virou vice-presidente da República.
Os militares presos nesta terça projetavam a criação de um “gabinete de crise” após executarem o então presidente eleito Lula (PT), seu vice Geraldo Alckmin (PSB) e o ministro do Supremo Tribunal Federal Alexandre de Moraes.
O comando do grupo ficaria a cargo do então ministro do Gabinete de Segurança Institucional, o general da reserva Augusto Heleno, e de Braga Netto. Subordinados a eles estariam, entre outros, o general Mário Fernandes, preso nesta terça, e Filipe Martins, à época assessor do governo de Jair Bolsonaro (PL).
A PF prendeu nesta terça quatro militares do Exército ligados às forças especiais, os chamados “kids pretos”: Fernandes, o tenente-coronel Helio Ferreira Lima, o major Rodrigo Bezerra Azevedo e o major Rafael Martins de Oliveira. Outro preso é o policial federal Wladimir Matos Soares.
Os militares detidos discutiram os planos de assassinato na casa de Braga Netto, em 12 de novembro de 2022, segundo o relatório enviado pela PF a Moraes. Além do ex-ministro da Defesa e da Casa Civil, estariam no imóvel naquele momento o tenente-coronel Mauro Cid, braço direito de Bolsonaro, Rafael e Helio.
Após esse encontro é que teria começado o monitoramento de Moraes, a fim de prendê-lo ou matá-lo. Os investigadores classificam 15 de dezembro de 2022 como o “ápice” do plano: seria nessa data que ocorreriam a prisão e/ou a execução de Moraes.
Os pedidos de prisão apresentados pela PF e acolhidos por Moraes miram militares supostamente envolvidos na execução do plano golpista. Os suspeitos de participação no planejamento, a exemplo de Braga Netto, ao menos por ora se safam.
A PF situa Walter Braga Netto como integrante do chamado Núcleo de Oficiais de Alta Patente com Influência e Apoio de Outros Núcleos. Eis o modus operandi: “Utilizando-se da alta patente militar que detinham, agiram para influenciar e incitar apoio aos demais núcleos de atuação por meio do endosso de ações e medidas a serem adotadas para consumação do Golpe de Estado”.
A menção ao ex-candidato a vice de Bolsonaro na investigação sobre a tentativa de golpe não é inédita. Em 8 de fevereiro, quando a PF lançou a Operação Tempus Veritatis, veio à tona a informação de que o general chamou de “cagão” o então comandante do Exército, Marco Antônio Freire Gomes, por não aderir à conspiração.
Aquela ofensiva de Braga Netto também mirou o comandante da Aeronáutica, Carlos de Almeida Baptista Júnior, a quem se referiu como um “traidor da pátria”.
O diálogo foi com o ex-capitão do Exército Ailton Barros, investigado por incitar golpe de Estado em contato com Mauro Cid.
Segundo a PF, as conversas de WhatsApp, extraídas do celular de Barros, “evidenciaram a participação e adesão do investigado Walter Souza Braga Netto na tentativa de golpe de Estado, com forte atuação inclusive nas providências voltadas à incitação contra os membros das Forças Armadas que não estavam coadunadas aos intentos golpistas, por respeitarem a Constituição Federal”.
Desde a derrota para Lula e Alckmin em 2022, Braga Netto vive uma situação delicada não apenas na seara criminal, mas na eleitoral: em novembro de 2023, o TSE o declarou inelegível por oito anos por por abuso de poder nas cerimônias do 7 de Setembro de 2022.
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