Política
Quem são os militares presos acusados de planejar golpe e assassinato de Lula, Alckmin e Moraes
Dos cinco presos na Operação Contragolpe, quatro fazem parte dos ‘kids pretos’, o grupo de elite do Exército


Membros dos ‘kids pretos’ – o grupo de elite do Exército -, um general da brigada, um tenente-coronel e dois majores, além de um policial federal. Esses são os cargos dos agentes presos nesta terça-feira 19 durante a Operação Contragolpe.
Eles são suspeitos de terem planejado um golpe de Estado no País durante o fim do governo do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL). Entre as suspeitas, os citados também estariam envolvidos em um plano para matar, em 2022, os então presidente e vice-presidente eleitos, Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e Geraldo Alckmin (PSD), respectivamente. O plano também envolvia o assassinato do ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF).
O primeiro deles é o general da reserva Mário Fernandes. Ele foi secretário-executivo da Secretaria-Geral da Presidência durante o governo Bolsonaro. Recentemente, ele atuou como assessor do deputado federal Eduardo Pazuello (PL-RJ), ex-ministro de Saúde de Bolsonaro.
A PF investiga as mensagens que Fernandes enviou ao ex-comandante do Exército, general Freire Gomes, cobrando adesão ao plano golpista no final do governo Bolsonaro. Fernandes, aliás, já foi alvo de mandado de busca e apreensão durante a Operação Tempus Veritatis, realizada no último mês de fevereiro.
Fernandes é citado, inclusive, por Mauro Cid, o ex-ajudante de ordens de Bolsonaro, como um dos militares mais inclinados à promoção de um golpe militar no País, ao fim do governo do ex-capitão.
Fernandes se tornou general de brigada em 2016. Ele chefiou, durante o governo Bolsonaro, o Comando de Operações Especiais (COpEsp), a divisão do Exército formada pelos ‘kids pretos’. Ele chegou a receber o então presidente no local.
O general de brigada Mário Fernandes, aliado de Jair Bolsonaro, é o principal alvo da operação da PF contra militares golpistas. Na foto, de 2019, o então presidente é recebido pelo general no Comando de Operações Especiais (‘kids pretos’), onde ocupava a chefia.
Foto: Isac Nóbrega/PR
Os ‘kids pretos’
Os chamados ‘kids pretos’ são considerados a elite de combate do Exército brasileiro. Eles recebem treinamento qualificado em ações de sabotagem e de incentivo à insurgência popular. Nas operações, vestem gorros na cor preta, o motivo do apelido.
O grupo atua em ataques a pontos sensíveis da infraestrutura, como torres de transmissão elétrica, pontes e aeroportos. Entre os lemas desse grupo está “qualquer missão, em qualquer lugar, a qualquer hora e de qualquer maneira.”
Desde o 8 de Janeiro, há suspeita de que o grupo tenha participado da tentativa de golpe de Estado, em especial da execução das ações violentas na Praça dos Três Poderes.
O modo de atuação dos ‘kids pretos’ é crucial para entender o plano supostamente elaborado pelos investigados. Segundo a própria Polícia Federal, “as condutas identificadas pela investigação demonstram que esse núcleo de atuação utilizou de elevado nível de conhecimento técnico-militar para planejar, coordenar e executar ações ilícitas, as quais envolviam, inclusive, o monitoramento do Ministro Alexandre de Moraes”.
“Com planejamento, coordenação e execução típicos de uma operação militar especial, as ações demonstram um detalhado plano de atuação que envolve técnicas de anonimização, monitoramento clandestino e emprego ilícito de recursos públicos”, diz um trecho do documento elaborado pela PF.
Na operação desta terça, a polícia também prendeu o major Rafael Martins de Oliveira. Acusado de ter negociado com Cid o pagamento de 100 mil reais para cobrir os custos da ida de manifestantes para Brasília – que culminou no 8 de Janeiro de 2023 -. Ele chegou a ser afastado das funções no Exército, em fevereiro, logo após a operação Tempus Veritatis, quando foi preso.
Hélio Ferreira Lima, outro preso na operação Contragolpe, é tenente-coronel e comandou a 3ª Companhia de Forças Especiais em Manaus. Ele também teve que deixar o cargo logo após a operação de fevereiro. Além do posto no Exército, ele também atuou no Gabinete de Segurança Institucional (GSI) durante o governo Bolsonaro.
Hélio Ferreira é acusado de integrar o grupo que produzia e divulgava informações falsas sobre as eleições de 2022, com o objetivo, segundo a polícia, de “estimular seguidores a permanecerem na frente de quartéis e instalações, no intuito de criar o ambiente propício para o Golpe de Estado”.
Os outros dois presos são o major Rodrigo Bezerra de Azevedo e o policial federal Wladimir Matos Soares. Rodrigo Bezerra é formado em Ciências Militares pela Escola de Aperfeiçoamento de Oficiais de Exército e integrante, assim como os outros militares, integrantes dos ‘kids pretos’. Ainda não há descrição do papel desempenhado pelo agente da PF no plano. Entre todos os citados, Rodrigo Bezerra era o único militar que ainda não tinha sido alvo de operação. Ultimamente, ele vinha sendo escalado para missões do Exército no exterior.
Dos cinco presos hoje, dois estavam atuando para uma missão de Garantia da Lei e da Ordem (GLO) para a segurança dos chefes de Estado que estão no Rio de Janeiro para a reunião de cúpula do G20: Hélio Ferreira e Rodrigo Azevedo. Eles foram presos no Comando Militar do Leste, na capital fluminense.
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