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Ao menos 70 detidos nos protestos pós-eleições na Venezuela são libertados

Solturas foram confirmadas por ONGs; governo ainda não se posicionou

Ao menos 70 detidos nos protestos pós-eleições na Venezuela são libertados
Ao menos 70 detidos nos protestos pós-eleições na Venezuela são libertados
Familiares de pessoas presas aguardam soltura junto a prisão na cidade de San Francisco de Yare, Venezuela (foto de novembro de 2024) – Foto: Federico Parra / AFP
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Ao menos 70 pessoas detidas nos protestos que eclodiram após as eleições na Venezuela foram libertadas neste sábado 16, depois do anúncio das autoridades de que 225 casos estão sendo revisados, informaram duas ONGs, que esperam mais libertações.

“Até agora, pelo menos 70 presos políticos foram libertados”, indicou o diretor da ONG Foro Penal, Alfredo Romero, nas redes sociais.

As libertações estão ocorrendo em quatro prisões no centro do país: Las Crisálidas e Yare III (estado de Miranda), em Tocorón (Aragua) e Tocuyito (Carabobo), disse Romero.

Cerca de 50 “jovens adultos” detidos em Tocorón receberam medidas cautelares, dez foram liberados em Yare III, e o restante entre Las Crisálidas e Tocuyito, indicou.

Não há informações oficiais sobre estas libertações.

Mais de 2.400 pessoas foram detidas durante as manifestações, que deixaram 28 mortos e quase 200 feridos, segundo dados do Ministério Público. Entre os detidos, havia 164 adolescentes, dos quais 69 continuam atrás das grades.

Familiares esperavam desde as primeiras horas em frente às prisões, depois que rumores sobre as libertações passaram a circular nas redes sociais.

“Hoje viemos porque soubemos pelas redes”, declarou à AFP Alexandra Hurtado, de 47 anos, enquanto aguardava junto com cerca de 50 pessoas em frente a Yare III, vestindo uma camisa com a foto de seu filho Oscar Escalona, de 23 anos, e a mensagem: “Não é terrorista, é inocente”.

Revisão de casos

Em Las Crisálidas, outro grupo também aguardava as libertações de mulheres detidas.

“Esses quatro meses foram horríveis, ver minha filha chorando pelos cantos. (…) Eu dizia para ela, ‘mamãe, logo vai sair'”, contou à AFP Junior, um chef de 34 anos que não quis revelar seu sobrenome e aguardava para saber se sua esposa seria libertada.

O MP anunciou na sexta-feira a revisão de 225 casos de detidos, atendendo a um pedido do próprio presidente Nicolás Maduro, que pediu para “retificar” caso tenha ocorrido “algum erro processual”. A entidade não especificou quais casos seriam revisados.

Maduro foi proclamado vencedor das eleições de 28 de julho, embora os detalhes da apuração dos votos não tenham sido divulgados. A oposição, liderada por María Corina Machado e seu candidato presidencial Edmundo González Urrutia, denuncia fraude.

“Aquele que tenha sido responsável por ações criminosas, sujeito a uma vinculação como participante direto das mesmas, será punido, será sancionado; quem não tiver responsabilidade no contexto de uma investigação, será sujeito a revisão de medida”, disse o procurador-geral venezuelano, Tarek William Saab, na sexta-feira.

O MP também prometeu continuar revisando casos após se reunir com vários parentes dos presos, que na semana passada pediram libertações antes do Natal.

‘Crise repressiva’

Centenas de familiares protestaram exigindo “justiça”, afirmando que seus entes queridos detidos não estavam participando das manifestações no momento em que foram presos. Também denunciaram torturas e maus-tratos.

Na segunda-feira, um grupo de familiares planeja fazer uma “vigília” em frente ao MP para continuar exigindo mais libertações. “Não são 225, são mais de 2.000 jovens detidos injustamente!”, diz a convocação para o evento.

Segundo o Foro Penal, que denunciou uma “crise repressiva”, havia “1.976 presos políticos” até quinta-feira na Venezuela.

Este é o “maior número de presos políticos no século XXI, e o maior número de presos políticos em todo o continente americano”, afirmou a entidade.

A oposição denunciou que os detidos estão em condições “desumanas” e que foi negado atendimento médico a eles. Um militante opositor faleceu na quinta-feira sob custódia das autoridades devido a um problema cardíaco associado a complicações por diabetes.

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