Do Micro Ao Macro
Políticas públicas são chave para o futuro dos negócios liderados por mulheres
Especialista aponta acesso ao crédito, inclusão digital e igualdade nas responsabilidades de cuidado como áreas prioritárias


O empreendedorismo feminino está em crescimento no Brasil, trazendo diversidade e inovação ao mercado. Segundo a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (PNADC), do IBGE, cerca de 9,3 milhões de mulheres lideram negócios no país. Ainda assim, muitas enfrentam barreiras ao longo de suas trajetórias empresariais.
Carine Roos, fundadora e CEO da consultoria Newa, explica que essas dificuldades surgem de desigualdades que atravessam gênero, raça, classe, origem e outras identidades.
“As sobreposições dessas identidades intensificam as discriminações, criando barreiras interseccionais que dificultam ainda mais o desenvolvimento de negócios liderados por mulheres”, comenta Carine.
Ela aponta três áreas em que políticas públicas podem ajudar a superar esses desafios.
1. Acesso ao financiamento
Carine observa que, no Brasil, empreendedoras – especialmente as negras, de baixa renda ou de grupos marginalizados – enfrentam dificuldades para obter financiamento. Segundo ela, “essas barreiras surgem tanto pela discriminação de gênero quanto pelas questões de raça, classe e origem, reforçando as desigualdades estruturais”.
Para ela, políticas públicas podem oferecer linhas de crédito inclusivas. Além disso, é importante promover microcrédito, garantias para mulheres de baixa renda e incentivos para que investidores apoiem negócios diversos, promovendo a equidade de gênero e racial.
2. Tecnologia e digitalização
A digitalização tornou-se uma grande oportunidade econômica. No entanto, conforme Carine destaca, muitas mulheres ainda enfrentam obstáculos no acesso a tecnologias e ferramentas digitais.
Ela explica que “dificuldades como a falta de infraestrutura digital, limitações econômicas e preconceitos em relação à capacidade técnica das mulheres, especialmente negras e de baixa renda, impedem uma participação plena no ambiente digital.”
Para enfrentar esse cenário, Carine acredita que políticas públicas devem promover programas de capacitação. Além disso, esses programas podem apoiar a digitalização de pequenas e médias empresas femininas e garantir acesso à internet de qualidade em todo o país.
3. Igualdade nas responsabilidades de cuidado
Carine aponta que as normas culturais, que atribuem às mulheres o papel de cuidadoras, impactam diretamente o tempo e os recursos que elas podem dedicar aos seus negócios. “As mulheres são frequentemente vistas como as principais responsáveis pelo cuidado de crianças, idosos e tarefas domésticas, o que limita seu potencial de crescimento empresarial,” explica Carine.
Ela sugere que campanhas educativas que desafiem essas normas e promovam a igualdade nas responsabilidades de cuidado entre homens e mulheres podem aliviar esse peso sobre as empreendedoras.
Carine acredita que políticas públicas focadas nessas três áreas incentivariam o crescimento dos negócios liderados por mulheres. Para ela, isso também ajudaria a reduzir desigualdades estruturais que limitam o potencial empreendedor no país.
Apoie o jornalismo que chama as coisas pelo nome
Depois de anos bicudos, voltamos a um Brasil minimamente normal. Este novo normal, contudo, segue repleto de incertezas. A ameaça bolsonarista persiste e os apetites do mercado e do Congresso continuam a pressionar o governo. Lá fora, o avanço global da extrema-direita e a brutalidade em Gaza e na Ucrânia arriscam implodir os frágeis alicerces da governança mundial.
CartaCapital não tem o apoio de bancos e fundações. Sobrevive, unicamente, da venda de anúncios e projetos e das contribuições de seus leitores. E seu apoio, leitor, é cada vez mais fundamental.
Não deixe a Carta parar. Se você valoriza o bom jornalismo, nos ajude a seguir lutando. Assine a edição semanal da revista ou contribua com o quanto puder.