Do Micro Ao Macro
Colaboração e dados unificados impulsionam finanças sustentáveis no Brasil, dizem especialistas
Iniciativa do Climate Finance Hub visa integrar dados e formar especialistas em transição climática


A busca por finanças sustentáveis tem se intensificado no Brasil, especialmente diante dos desafios globais da crise climática. Segundo especialistas, o país precisa acelerar a transição para uma economia de baixo carbono, mas enfrenta dificuldades na coleta e organização de dados sobre o impacto ambiental das atividades econômicas.
A falta de informações estruturadas dificulta a alocação eficiente de recursos financeiros para projetos sustentáveis.
Para responder a esses desafios, o Climate Finance Hub foi lançado como uma iniciativa estratégica. O projeto busca consolidar dados e ferramentas que apoiem a tomada de decisões no setor financeiro, além de capacitar analistas para avaliar o impacto dos riscos climáticos.
O evento de lançamento aconteceu em 17 de outubro, na sede da ANBIMA em São Paulo, e reuniu especialistas do setor financeiro.
Objetivos e estrutura
O lançamento contou com a presença de líderes como Joaquim Levy, presidente do Conselho do Climate Finance Hub Brasil, e Meryam Omi, CEO da Climate Arc. Marcelo Furtado, Head de Sustentabilidade da Itaúsa, e Maria Netto, CEO do iCS, também participaram, ao lado de Carlos Takahashi, diretor da ANBIMA e coordenador da Rede ANBIMA de Sustentabilidade.
Linda Murasawa, Líder de Engajamento do Setor Financeiro do Hub, destacou que o projeto busca unir e fortalecer parcerias. “O Climate Finance Hub vai integrar esforços financeiros às políticas que aumentem a competitividade do Brasil,” comentou.
A equipe do Hub, formada em parceria com a Fundação Brasileira para o Desenvolvimento Sustentável (FBDS), UFRJ e CooperaClima, trabalha desde o ano passado na criação de uma metodologia para analisar a transição climática.
Metodologia e avaliação de empresas
Até o final de 2024, o Hub espera avaliar 30 empresas brasileiras de capital aberto dos setores de indústria, energia e transporte, considerados estratégicos para a transição de carbono.
Linda Murasawa explicou que o Hub identifica setores que ainda precisam amadurecer em suas práticas de sustentabilidade e atua para auxiliar na criação de políticas públicas que incentivem esses avanços.
A coordenadora do Hub, Christianne Maroun, enfatizou a importância de envolver pequenas e médias empresas, que representam mais de 90% dos negócios no Brasil.
Para ela, apoiar essas empresas na adaptação às exigências do mercado internacional é um passo necessário para promover uma transição econômica equilibrada.
Apoio e pressão internacional por transparência
Maria Netto, CEO do iCS, apontou que empresas internacionais exigem transparência cada vez maior de suas fornecedoras brasileiras.
“O Hub quer fornecer ferramentas que ajudem as empresas a desenvolver estratégias de transição climática de maneira objetiva”, explicou Netto.
O presidente Joaquim Levy ressaltou o papel crescente das regulamentações socioambientais no setor financeiro.
“O sistema financeiro deve facilitar a transição para o net zero,” afirmou Levy, reforçando a importância do engajamento das empresas com a agenda de sustentabilidade.
Parceria com metodologia internacional
O evento também apresentou a metodologia Assessing Low-Carbon Transition (ACT), criada pelo CDP e pela Agência Francesa para Transição Ecológica (ADEME).
Esta metodologia será aplicada pelo Hub em parceria com a TransitionArc, plataforma da Climate Arc, para consolidar dados e análises climáticas.
Metas futuras e capacitação de analistas
Até 2025, o Climate Finance Hub pretende avaliar 300 empresas e formar especialistas em finanças sustentáveis.
O objetivo é criar uma plataforma integrada que facilite o acesso a ferramentas de análise climática, permitindo uma melhor interação entre grandes corporações e pequenas empresas no contexto da economia real.
Marcelo Furtado, da Itaúsa, destacou que o Hub funciona em modelo filantrópico, com o objetivo de transformar dados em inteligência e mobilizar o capital necessário para uma economia de baixo carbono.
Carlos Takahashi, da ANBIMA, acrescentou que o projeto une ciência, academia e o setor financeiro em prol de um avanço sustentável.
Meryam Omi, da Climate Arc, destacou a necessidade de organizar melhor os dados climáticos disponíveis. “Temos muitas ferramentas de disclosure, mas ainda faltam transparência e estrutura nos dados,” disse Omi.
A plataforma Transition Arc, segundo ela, permitirá uma visão mais clara e acessível para decisões estratégicas.
Sobre o Climate Finance Hub Brasil
O Climate Finance Hub Brasil oferece uma plataforma integrada para análise de transição climática e capacita analistas para avaliar riscos climáticos.
Em colaboração com empresas e instituições financeiras, o Hub centraliza análises na plataforma TransitionArc, oferecendo uma fonte única de dados para quem toma decisões no setor.
No Brasil, o projeto é coordenado pela Fundação Brasileira para o Desenvolvimento Sustentável (FBDS), pelo Grupo de Finanças e Investimentos Sustentáveis da UFRJ e pela Coopera Clima, em parceria com a Climate Arc, Instituto Itaúsa e Instituto Clima e Sociedade (iCS).
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