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Espanha: Rei Felipe VI é hostilizado por vítimas e atingido por lama em visita a locais de enchentes

A hostilidade dos moradores também foi dirigida contra o presidente de direita da região de Valência, Carlos Mazón, e o primeiro-ministro socialista, Pedro Sánchez

Espanha: Rei Felipe VI é hostilizado por vítimas e atingido por lama em visita a locais de enchentes
Espanha: Rei Felipe VI é hostilizado por vítimas e atingido por lama em visita a locais de enchentes
O rei Felipe VI da Espanha (E) conversa com uma pessoa enquanto moradores furiosos o incomodam durante sua visita a Paiporta, na região de Valência, leste da Espanha, em 3 de novembro de 2024, após devastadoras enchentes mortais. Uma delegação liderada pelo rei e primeiro-ministro de Espanha foi hoje questionada ao visitar a região de Valência atingida por inundações mortais, com alguns gritando “assassinos” e outros atirando lama, segundo jornalistas da AFP no local. O rei Felipe VI e a rainha Letizia visitaram a cidade de Paiporta, uma das mais afetadas pelas enchentes que mataram mais de 200 pessoas, ao lado do primeiro-ministro Pedro Sánchez e outras autoridades. Foto: Manaure Quintero/AFP
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O rei Felipe VI da Espanha e sua esposa Letizia visitaram neste domingo (3) locais assolados pelas enchentes que atingiram a região de Valência nos últimos dias. Durante a caminhada, eles foram hostilizados pelas vítimas das inundações, que arremessaram lama em direção à comitiva e gritaram insultos contra o rei espanhol.

Em Valência e Paiporta, os moradores estão reclamando da lentidão dos esforços de socorro, e o líder da oposição de direita se manifestou contra o governo. Além das duas cidades, também foram atingidos os municípios de Chiva, Catarroja, Torrent e Picaña, que ficam na mesma região, nos arredores de Valência.

Foram exatamente esses lugares que o casal real, o rei Felipe VI e a rainha Letizia, escolheu para dar seu apoio simbólico e mostrar que o chefe de Estado se preocupa com os espanhóis que sofreram com o desastre, relata o correspondente da RFI em Madri, François Musseau.

Na presença do chefe de governo, Pedro Sanchez, eles se reuniram com os prefeitos de todas as pequenas cidades atingidas e também se aproximaram das pessoas afetadas, aumentando a tensão em várias ocasiões.

Em um certo momento, os moradores revoltados passaram a exprimir suas insatisfações através de gritos e cobranças direcionadas à comitiva do rei: “Saiam daqui”, “vocês sabiam muito bem o que ia acontecer”, “assassino”, foram alguns dos comentários ouvidos.

Em Chiva, a situação se acirrou ainda mais e a polícia teve que evacuar Felipe VI e Letizia diante das ameaças de alguns moradores. O monarca, entretanto, aproximou-se e conversou com eles e os ânimos se acalmaram.

Mais tarde, a visita do Rei Felipe VI da Espanha e da Rainha Letizia foi suspensa, conforme anunciado pela televisão nacional.

A hostilidade dos moradores também foi dirigida contra o presidente de direita da região de Valência, Carlos Mazón, e o primeiro-ministro socialista, Pedro Sánchez. “Mazón renuncia” e “quantas pessoas morreram” foram alguns dos gritos proferidos pela multidão ao acusar as autoridades de abandonar as vítimas à própria sorte.

Vítimas questionam alerta tardio

No subúrbio de Paiporta, nos arredores de Valência, os moradores também estão furiosos. Para Laura Cascales, a recordação dessa noite remete ao alerta tardio das autoridades por telefone, enquanto água já estava subindo a uma velocidade vertiginosa. A espanhola se lembra dos carros batendo na parede de sua casa e o medo de que a estrutura não resistisse ao impacto. O alerta por telefone chegou entre 20h e 21h, mas era tarde demais.

“Às 21h, havia quase dois metros de água na minha casa. Foi uma vergonha. Eles não poderiam ter avisado antes? Cheguei em casa do trabalho. Um minuto a mais, um sinal vermelho e eu não teria chegado em casa a tempo. Saí do meu carro e a polícia gritou: ‘O canal está transbordando, entrem todos!’ Meu Deus do céu! Você não poderia tê-los avisado com antecedência?”, questiona ela indignada a Pauline Gleize, correspondente especial da RFI na Espanha.

Entre o alerta tardio e a ajuda que chega aos poucos, a moradora Marisa Planeis também se mostra furiosa: “Temos ajuda de vizinhos, de pessoas do entorno. Mas sem ajuda do governo. Minha avó não pode sair. Ela está presa no andar de cima de sua casa há quatro dias porque não conseguiram limpar a rua”.

Rua devastada por inundações em Paiporta, na região de Valência, em 2 de novembro de 2024.
Rua devastada por inundações em Paiporta, na região de Valência, em 2 de novembro de 2024. © AP/Manu Fernandez

No centro da cidade, carros da polícia e da proteção civil vão e vêm. Também chegaram alguns veículos do exército, em número muito inferior ao dos voluntários. O navio da Marinha espanhola Galicia dirige-se a Valência com vários teatros de operações e helicópteros de resgate a bordo. A tripulação é treinada em resposta a emergências.

São esperadas mais chuvas fortes. Um alerta vermelho foi lançado nomeadamente para a região de Almeria, no sul da península, na manhã deste domingo. A persistência das chuvas corre o risco de complicar a organização da ajuda de que as vítimas necessitam com urgência.

No sábado (2), o primeiro-ministro espanhol anunciou o envio de 5 mil soldados e 5 mil policiais adicionais para ajudar os habitantes do sudeste do país, devastado por dramáticas inundações. Uma resposta à indignação das vítimas no quinto dia de crise.

Ajuda internacional

Também em Valência se organiza a ajuda mútua. Muitos residentes locais estão viajando para áreas afetadas para limpar ruas e casas. E nos últimos dias, uma onda de solidariedade encontrou eco internacional. Um kit de ajuda foi colocado online por iniciativa dos centros dedicados à promoção da cultura, localizados em Bruxelas, Paris e Montpellier.

“Tenho membros da minha família que vivem num terceiro andar e que ainda estão isolados por escombros, ramos, lama e pilhas de carros”, explica Corine Romero, presidente do centro de Montpellier. Os centros do Chile e de Londres também estão mobilizados.

“A ajuda material será de camas, colchões, muita roupa, algo para mobiliar, algo para dormir e poder cozinhar. E para recuperar uma aparência de autonomia e independência. Material que deverá chegar à região de Valência até dezembro”, enumera Corine Romero.

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