Augusto Diniz | Música brasileira
Jornalista há 25 anos, Augusto Diniz foi produtor musical e escreve sobre música desde 2014.
Augusto Diniz | Música brasileira
100 anos de Thomaz Farkas (e 70 de seu registro emblemático de Pixinguinha)
O fotógrafo capturou o maestro tocando e dançando ao lado de lendas do samba, em um registro que, anos depois, se transformaria em um curta premiado


Thomaz Farkas nasceu em 1924, na Hungria, mas veio para o Brasil ainda criança e mais tarde se naturalizou brasileiro. Embora formado em engenharia, sua verdadeira paixão sempre foi a fotografia. Deixou um impressionante acervo de fotos e filmes que retratam o cotidiano, as cidades e o povo brasileiro.
Seu pai era dono da rede Fotoptica, especializada em equipamentos e materiais fotográficos, que mais tarde Farkas assumiu e posteriormente vendeu. Em 1968, chegou a ser preso pelo regime militar. Farkas também registrou com maestria aspectos da cultura nacional.
Em 1954, durante as comemorações do IV Centenário de São Paulo, no Parque do Ibirapuera, decidiu por conta própria filmar uma apresentação de Pixinguinha com a Velha Guarda do Samba. O material ficou guardado por décadas, até que, em 2004, foi recuperado e transformado em um curta-metragem de 10 minutos, incluindo depoimento do próprio fotógrafo sobre o registro.
Lançado em 2006 com o título Pixinguinha e a Velha Guarda do Samba, sob direção de Ricardo Dias, o filme conquistou diversos prêmios. Traz cenas raras e preciosas da chamada “Santíssima Trindade do Samba” — Donga, João da Baiana e Pixinguinha — além de outros grandes nomes, como Benedito Lacerda, Almirante, Bide (Alcebíades Barcelos), Alfredinho do Flautim e Jacob Palmieri.
Esses mestres tocam, cantam e dançam. Em uma das cenas mais memoráveis, Pixinguinha dança ao som de seu saxofone enquanto toca a polca Ele e Eu, composta por ele em parceria com Benedito Lacerda. Em outra, apresentam a chula raiada Patrão, Prenda Seu Gado, uma obra-prima de Donga, Pixinguinha e João da Baiana, registrada de forma icônica. Na sequência, Donga, Jacob Palmieri, um sambista não identificado e Bide evoluem em uma roda de samba, criando um registro em preto e branco inesquecível.
A Velha Guarda do Samba que se apresentou nesse festejo em São Paulo incluía membros do lendário grupo Oito Batutas, que atuou de 1919 a 1931. Além de Pixinguinha, destacam-se na gravação Donga e Jacob Palmieri (referido erroneamente no documentário como Lentini).
A presença de Bide também é um marco. Ao lado de Marçal, Bide compôs grandes sambas na primeira metade do século XX. João da Baiana foi um ativista do samba em seus primórdios, enquanto Almirante foi um compositor, pesquisador e radialista famoso na época. O flautista Benedito Lacerda, que se tornou um grande parceiro de Pixinguinha, também aparece, assim como Alfredinho do Flautim, um exímio chorão. No palco, há ainda outros músicos, embora alguns não tenham sido identificados.
Assista ao filme:
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