Sociedade
PM confunde celular com arma e mata jovem negro em Aracaju
No boletim de ocorrência, os policiais relataram que o comportamento do jovem “aumentou as suspeitas”; garçom deixa esposa e filhos


O garçom Ithalo dos Santos Nascimento, de 25 anos, foi morto por um policial militar que confundiu seu celular com uma arma. O caso aconteceu em um bairro nobre de Aracaju (SE) na noite desta segunda-feira.
A conduta do PM é alvo de apuração aberta na Polícia Civil. O rapaz estava de folga na capital sergipana e havia passado em uma loja de conveniência de um posto de combustível para fazer compras. Ao sair, foi abordado por policiais do Grupamento Especial Tático de Motos por ter “comportamento suspeito”.
No boletim de ocorrência, os policiais relataram que o comportamento do jovem “aumentou as suspeitas” porque ele vestia “roupas volumosas” e os encarava de “forma incisiva”.
Segundo os policiais, ao ser abordado, Ithalo teria feito um movimento que simulava sacar uma arma, colocando a mão na cintura, o que motivou o disparo do PM. No entanto, a perícia revelou que ele tinha apenas um celular e pedaços de plástico consigo. O jovem foi atingido na cabeça e morreu no local. O nome do policial responsável pelo disparo não foi divulgado.
Ithalo deixa a esposa e um filho. Seu corpo foi levado para o Instituto Médico Legal, em Nossa Senhora do Socorro, município da região metropolitana onde morava. Não há informações sobre o velório e o sepultamento.
Em nota, a Secretaria de Segurança Pública lamentou o episódio e disse ter determinado uma “investigação imediata” do caso. O bar onde Ithalo trabalhava afirmou que sua partida deixará “um vazio difícil de preencher”.
Polícia sergipana é uma das mais violentas do Brasil
Dados divulgados pelo Fórum Brasileiro de Segurança Pública neste ano mostram que as polícias de Sergipe matam três vezes mais que a média nacional. A taxa de letalidade policial no estado é de 10,4 por 100 mil habitantes.
Somente no último ano, 229 pessoas foram alvejadas e mortas por armas de fogo em ações dos agentes públicos do Estado, de acordo com o levantamento do Fórum. Trata-se de um aumento de 30% em relação ao total de mortes registradas em 2022, quando policiais civis ou militares executaram 176 sergipanos em supostos “confrontos”.
Em termos de letalidade policial, o Sergipe fica atrás apenas da Bahia (12,0) e do Amapá (23,6), que possui a polícia mais violenta do Brasil, com um patamar cerca de 661 vezes maior do que a média nacional.
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