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Trabalhadores da Enel alertam para sucateamento e falta de manutenção em São Paulo

Representante dos eletricitários diz que falhas na infraestrutura agravaram os apagões; empresa afirma seguir normas de segurança

Trabalhadores da Enel alertam para sucateamento e falta de manutenção em São Paulo
Trabalhadores da Enel alertam para sucateamento e falta de manutenção em São Paulo
Funcionários da Enel fazendo manutenção em poste de energia elétrica no bairro de Pinheiros, em São Paulo. Foto: Rovena Rosa/Agência Brasil
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Não são só os clientes da Enel, empresa responsável pela distribuição de energia em São Paulo, que têm sofrido com o sucateamento do serviço. Os trabalhadores também reclamam da deterioração das condições de trabalho e do aumento das cobranças, apesar do quadro reduzido.

Segundo o presidente do sindicato dos Eletricitários de São Paulo, Eduardo Annunciato, o Chicão, a situação dos funcionários da multinacional italiana é preocupante. “Falta material, inclusive equipamentos de proteção individual para os trabalhadores, relata o sindicalista. “Os trabalhadores estão precisando reparar equipamentos da sucata, fazer um ‘catado’ da sucata e recondicionar para colocar novamente na rede. E a somatória de tudo isso está aí, a energia demorando de ser restabelecida e a população sofrendo”, completa.

Neste domingo 20, mais de 22 mil pessoas voltaram a ficar sem energia em São Paulo após chuvas que atingiram o estado no sábado 19. Apenas na capital paulista, 15.570 imóveis ficaram sem energia elétrica, sendo a mais atingida em números absolutos.

Questionada, a Enel negou a falta de equipamentos de segurança. “Além de adotar rigorosos procedimentos para execução das atividades em campo e promover treinamento frequente para força de trabalho, a companhia dispõe de Equipamentos de Proteção Individual (EPIs) para todos os profissionais”, declarou a empresa, em nota (confira abaixo a íntegra do posicionamento).

Falta de funcionários

Em novembro de 2023, um apagão de grandes proporções deixou a cidade e a região metropolitana sem luz por quatro dias, afetando cerca de 4 milhões de pessoas.

Em março deste ano, o abastecimento de energia da Enel em São Paulo foi interrompido novamente, deixando moradores do centro sem eletricidade, o que chegou a afetar o funcionamento da Santa Casa. Mais recentemente, neste fim de semana, mais de 100 mil pessoas chegaram a ficar sem luz, apesar da chuva fraca.

Além da falta de equipamentos, também faltam funcionários para atender a demanda crescente. Até agora, a Enel contratou apenas 400 dos 1.200 trabalhadores que prometeu contratar até 2025, após o apagão de 2023. “Ou seja, está em um terço do prometido e já se passou um ano. Tem que ter vontade de resolver o problema, senão a crise vai voltar”, diz Annunciato a CartaCapital.

“A rede está ficando em terceiro plano, os trabalhadores em segundo plano e o lucro em primeiro plano”, dispara Chicão. Embora o sindicato mantenha um canal de diálogo com a Enel, o presidente avalia que o problema é estrutural. “O planejamento falha. Não há programação adequada, nem manutenção preventiva”, critica.

Sobre a promessa de contratar mais funcionários, a Enel declarou que já aumentou sua força de trabalho em 24%, com a incorporação de 410 profissionais, e mantém o plano de contratar mais eletricistas até março de 2025.

‘Jogo de empurra’ prejudica a fiscalização

O sindicalista também critica a gestão de Ricardo Nunes (PSDB), que, segundo ele, estaria “jogando a população contra os trabalhadores”. Ele citou a instalação de câmeras de videomonitoramento nas garagens da Enel como parte do programa Smart Sampa, o que não teria beneficiado os funcionários.

Chicão ressalta ainda o problema da fiscalização, que fica entre a Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) e a Agência Reguladora de Serviços Públicos do Estado de São Paulo (Arsesp). “Quando falamos com a Aneel, eles dizem que é com a Arsesp. E a Arsesp joga de volta para a Aneel. No fim, ninguém fiscaliza”, lamenta.

O que diz a Enel

A empresa reafirmou, em nota, que a segurança dos colaboradores é uma prioridade, além de destacar o aumento nos investimentos desde 2018. A Enel também informou que intensificou as manutenções preventivas e as podas de árvores em contato com a rede elétrica, tendo realizado mais de 430 mil podas preventivas de janeiro a setembro deste ano.

Leia a íntegra:

“Nos últimos 12 meses, até 10 de outubro, a Enel Distribuição São Paulo aumentou em 24% a força de trabalho de eletricistas próprios. A companhia segue com o plano anunciado de aumento do número de profissionais próprios para atuação em campo e, até março de 2025, está incorporando um total de 1.200 novos colaboradores.

A distribuidora reitera que a Segurança dos seus colaboradores é uma prioridade. Além de adotar rigorosos procedimentos para execução das atividades em campo e promover treinamento frequente para força de trabalho, a companhia dispõe de Equipamentos de Proteção Individual (EPI) para todos os profissionais.

A Enel São Paulo mantém um plano robusto de investimento da ordem de R$ 6,2 bilhões entre 2024 e 2026, o que representa um aumento nos níveis anuais de investimento, que passaram de R$ 1,4 bilhão para cerca de R$ 2 bilhões / ano. Desde que assumiu a concessão de distribuição em São Paulo, em 2018, a companhia também aumentou o patamar anual de investimento realizado pelo controlador anterior.

A distribuidora tem intensificado as manutenções preventivas em toda a área de concessão e reforçou este ano as podas de galhos em contato com a rede elétrica. De janeiro a setembro, mais de 430 mil podas preventivas foram realizadas na área de concessão, ultrapassando o que foi executado em todo o ano passado.”

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