Política
Moro ‘atrapalhou bastante’ a campanha, diz candidato que tinha Rosângela como vice em Curitiba
‘Conja’ estava na chapa de Ney Leprevost, do União Brasil, que recebeu apenas 60 mil votos na disputa pela prefeitura da capital do Paraná
Ney Leprevost (União), derrotado na disputa pela prefeitura de Curitiba, afirmou que Sergio Moro teria “atrapalhado bastante” a sua campanha eleitoral na cidade. Ele alega que “começou a perder a eleição” quando aceitou a esposa do ex-juiz, a deputada federal Rosângela Moro, como vice.
“Não é que seja culpa dele [Moro], mas ele atrapalhou bastante. E ele é difícil de lidar, vaidoso”, reclamou o candidato derrotado em entrevista ao jornal Folha de S. Paulo, publicada nesta quarta-feira 16.
A dupla, que levantou a bandeira da Lava Jato na eleição em Curitiba, recebeu apenas 60 mil votos, pouco mais de 6% do eleitorado. Eles terminaram a disputa em quarto lugar.
Segundo Leprevost, Moro teria, além de dificultado sua campanha com sua vaidade, agregado rejeição. A avaliação é de que o ex-juiz atraiu antipatia de petistas, por quem seria visto como “carrasco de Lula”, e de bolsonaristas, grupo que o enxergaria como “traidor de Bolsonaro”.
“Acho que eu comecei a perder a campanha quando cometi o erro de aceitar o pedido do União Brasil nacional de colocar a mulher do Moro de minha vice. Eu gosto da Rosângela, ela é boa gente, uma querida. Mas o Moro atrapalhou. Ele começou a achar que o candidato era ele.E ele agregou muita rejeição à campanha”, avaliou.
Na conversa, Leprevost também revelou que, nos últimos dias de campanha, ele e Moro já não se falavam mais, após o senador insistir em aparecer constantemente na propaganda eleitoral. “Eu só tinha 1 minuto e 12 segundos na televisão. Não podia ficar colocando ele o tempo todo. Ele ficou bravo e largou a campanha no final”, relatou.
O deputado ainda acusou Moro de tentar usar a campanha municipal para alavancar uma pré-candidatura ao governo do Paraná em 2026. “Ele passou a achar que eu era um fantoche dele para sua pré-campanha. Eu não sou inimigo de Moro, mas também não quero papo com ele”, finalizou. Caso Moro seja o candidato do União Brasil Palácio Iguaçu em 2026, Leprevost sinalizou que sairá do partido.
Moro, além de ter participado da campanha na capital, colecionou derrotas também em outras três cidades do Paraná, São José dos Pinhais, na região metropolitana de Curitiba, e Guarapuava e Cascavel, no interior. Nos três municípios, as candidaturas apoiadas pelo ex-juiz foram derrotadas.
Em resposta às críticas de Ney sobre o impacto de sua presença na campanha, o senador Sergio Moro classificou o deputado como um “político velho” e atribuiu a derrota ao fracasso de Leprevost em se conectar com o eleitorado local. Em entrevista ao GLOBO, Moro afirmou que o ex-candidato à prefeitura não adotou uma posição política clara, o que teria sido um dos fatores determinantes para o baixo desempenho nas urnas.
“Embora ele seja uma pessoa relativamente nova, se apresentou como um político velho, sem posições definidas de maneira clara. Ao invés de assumir uma posição de direita ou, se fosse o caso, de esquerda, ele ficou em cima do muro”, disse o ex-juiz. “Agora ele busca uma desculpa para a derrota, mas apenas mostra que ficou pequeno politicamente e também pensa pequeno como pessoa.”
Moro também rebateu a acusação de que teria prejudicado a campanha ao tentar se impor como protagonista, afirmando que mal apareceu na propaganda eleitoral de Leprevost. “Estávamos dispostos a ajudar, mas ele optou por seguir sozinho.”
Sobre seus planos de concorrer ao governo do Paraná em 2026, Moro minimizou a tensão com Leprevost, afirmando que o deputado não possui apoio nacional dentro do União Brasil. “É provável que eu seja candidato ao governo, mas isso será decidido mais adiante”, completou.
Moro também negou que sua esposa, Rosângela Moro, tenha sido “empurrada” para a chapa de Leprevost, alegando que foi o próprio deputado que solicitou reiteradamente sua presença como vice.
“O que ele não admite é que perdeu porque fez apostas erradas e não conseguiu se conectar com a população de Curitiba”, concluiu Moro.
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