Política
Como Boulos pode construir um clima de virada nas eleições de São Paulo
Para o cientista político Aldo Fornazieri, a campanha do psolista carece de uma marca, algo indispensável para desafiantes


A campanha de Guilherme Boulos (PSOL) à prefeitura de São Paulo carece de uma estratégia clara e de uma marca, o que contribui para o favoritismo do atual prefeito Ricardo Nunes (MDB) no início do segundo turno. Essa é a análise de Aldo Fornazieri, doutor em Ciência Política pela USP, professor da Fundação Escola de Sociologia e Política de São Paulo (FESPSP) e colunista de CartaCapital.
No atual cenário, destaca, é fundamental estimular um clima de virada, com mobilização intensa e diária nas ruas – o que, em sua opinião, não não tem ocorrido.
“Quando você é o desafiante da campanha, tem de ter uma ou duas marcas muito fortes, que chamem a atenção. É uma campanha que não tem uma marca”, diz. “Ele teria de mobilizar os conjuntos nervosos eleitorais da cidade, com um exército de campanha na rua. Essa campanha nasceu sem estratégia e parece que continua assim.”
Nestes primeiros dias de retomada, Boulos tem protagonizado encontros públicos com militantes de movimentos sociais e partidos para unificar estratégias de mobilização. Na quarta 9, ele caminhou e conversou com eleitores no Largo Treze, no bairro de Santo Amaro.
Três pesquisas vieram à tona nesta quinta-feira 10 e, apesar de algumas diferenças, indicam o mesmo quadro geral: Nunes lidera a disputa com certa folga. Veja os principais números:
- Datafolha: Nunes 55% x 33% Boulos
- Paraná Pesquisas: Nunes 52,8% x 39% Boulos
- FESPSP: Nunes 51,4% x 35,9% Boulos
O Datafolha indica também que 84% dos eleitores de Pablo Marçal (PRTB) declaram voto em Nunes no segundo turno, enquanto apenas 4% projetam escolher Boulos. Trata-se de um universo nada desprezível, uma vez que o ex-coach amealhou mais de 1,7 milhão de votos.
Boulos, por sua vez, atrai 50% dos eleitores de Tabata Amaral (PSB). Além da porcentagem inferior, contudo, cabe relembrar que a deputada federal recebeu pouco mais de 605 mil votos, bem distante de Marçal.
Fornazieri também contesta o fato de Boulos tentar apenas no segundo turno liderar um discurso pró-empreendedorismo, como forma de buscar eleitores de Marçal e mais apoiadores de Tabata. Para ele, a primeira parte da campanha deveria ter se baseado no que chama de projeção de reputação, a partir dos valores, das virtudes e das propostas do candidato. “O primeiro turno não construiu o segundo”, resume.
Ele não descarta a possibilidade de uma reviravolta, mas diz que o ponto central nesta semana inicial é viabilizar uma redução significativa da diferença. “Se tudo correr bem, ele pode virar o jogo, mas é preciso estratégia, capacidade de organização e comando.”
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