CartaCapital
‘Tivemos problemas com cadeiras na eleição, mas nunca uma vazia’, diz Boulos sobre ausência de Nunes em debate
Candidato do MDB opta por não participar de evento promovido pelos jornais ‘O Globo’ e ‘Valor Econômico’ e pela rádio ‘CBN’; Boulos critica postura e promete protestos


O atual prefeito de São Paulo e candidato à reeleição, Ricardo Nunes (MDB), não compareceu ao primeiro debate do segundo turno, realizado na manhã quinta-feira 10. O evento foi organizado pelos jornais O Globo e Valor Econômico e pela rádio CBN.
O evento contou apenas com a presença de Guilherme Boulos (PSOL), candidato apoiado pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT).
Com a ausência de Nunes, o debate foi convertido em uma sabatina de uma hora com Boulos, que criticou a ausência do prefeito, afirmando que Nunes “fugiu do debate” e da responsabilidade como gestor.
“Tivemos muitos problemas com cadeiras nessa eleição, mas foi a primeira vez que tivemos uma cadeira vazia. Embora isso seja um desrespeito, não me surpreende”, disse o psolista.
“Foi um prefeito que fugiu das suas responsabilidades. Quando a cidade mais precisava, e milhões estavam sem luz devido às fortes chuvas, ele foi para o camarote da Fórmula 1. Lamentável que alguém que tenha esse tipo de postura, fraca e omissa, queira ser o prefeito de São Paulo”, comentou.
Pelas regras do debate, a cadeira que seria de Nunes ficou vazia e Boulos teve o direito de fazer duas perguntas que faria para o atual prefeito. O candidato do PSOL questionou Nunes sobre o envolvimento de um ex-cunhado de Marcola, líder do PCC, como a chefia de gabinete da Secretaria de Infraestrutura e Obras (Siurb), órgão suspeito de irregularidades em obras sem licitação.
Na segunda pergunta, Boulos mencionou o apoio de Jair Bolsonaro à reeleição de Nunes, indagando quais secretários seriam indicados pelo ex-presidente. A campanha de Nunes recebeu um apoio discreto de Bolsonaro, que indicou Mello Araújo (PL) como vice na chapa.
Boulos também foi questionado sobre as alianças entre PSOL e PT nas últimas eleições, que criaram uma “frente ampla” de antigos adversários. Ele destacou a necessidade de unir forças contra a extrema-direita, representada por Bolsonaro e seus aliados, como Nunes.
“O que mudou é que nesse meio tempo foi o surgimento de um campo político de extrema-direita, marcado pelo ódio e pela violência que fez com que adversários históricos se unissem. O meu adversário, ele, sim, mudou. Quando estava com Covas, fez campanha pela vacina e agora, ao lado de Bolsonaro, diz que o ex-presidente disse que ele fez tudo possível durante a pandemia”, comentou Boulos.
Ausência
Nunes vem, neste segundo turno, solicitando que os veículos de comunicação reduzam o número de debates. Ele alega a necessidade de se ter uma agenda de campanha mais produtiva. Como proposta, Nunes pede que sejam realizados apenas três debates, frente aos 11 promovidos no primeiro turno.
O desempenho positivo Boulos nos debates da primeira fase da campanha pode ter motivado a nova estratégia de Nunes. A intenção seria tornar a campanha mais “fria” neste segundo turno, o que poderia ajudar a manter sua vantagem de votos nas urnas.
Diante da ausência de Nunes, o candidato do PSOL acusa o prefeito de tentar evitar questionamentos diretos e promete organizar protestos na sede da Prefeitura. A intenção seria montar uma espécie de debate público contra Nunes.
Apoie o jornalismo que chama as coisas pelo nome
Depois de anos bicudos, voltamos a um Brasil minimamente normal. Este novo normal, contudo, segue repleto de incertezas. A ameaça bolsonarista persiste e os apetites do mercado e do Congresso continuam a pressionar o governo. Lá fora, o avanço global da extrema-direita e a brutalidade em Gaza e na Ucrânia arriscam implodir os frágeis alicerces da governança mundial.
CartaCapital não tem o apoio de bancos e fundações. Sobrevive, unicamente, da venda de anúncios e projetos e das contribuições de seus leitores. E seu apoio, leitor, é cada vez mais fundamental.
Não deixe a Carta parar. Se você valoriza o bom jornalismo, nos ajude a seguir lutando. Assine a edição semanal da revista ou contribua com o quanto puder.
Leia também

Marçal diz que não apoiará Nunes e projeta que Boulos vencerá o segundo turno
Por CartaCapital
‘No meu palanque, não’: Nunes descarta campanha com Marçal no segundo turno
Por Wendal Carmo
O caminho de Boulos para enfrentar Nunes no segundo turno, segundo João Cezar de Castro Rocha
Por CartaCapital