Esporte
Empresário admite manipulação no futebol em CPI e diz que lucrou R$ 300 milhões
William Rogatto declarou-se réu confesso e disse ter rebaixado 42 times, agindo nas federações de todos os estados


O empresário William Rogatto admitiu a manipulação de jogos de futebol no Brasil e disse já ter embolsado aproximadamente 300 milhões de reais nesse esquema, lucrando com o rebaixamento de times. As declarações foram proferidas em depoimento à CPI da Manipulação de Jogos e Apostas Esportivas, nesta terça-feira 8.
Rogatto declarou-se réu confesso e disse ter rebaixado 42 times, agindo nas federações de futebol de todos os estados brasileiros, no Distrito Federal e em nove países, como a Colômbia.
Representantes da comissão devem viajar na semana que vem a Portugal, onde está o empresário, que se colocou à disposição dos senadores para exibir detalhes do “complexo sistema”, incluindo fotos, vídeos, negociações, gravações e conversas sobre a manipulação de jogos.
Investigado na Operação Fim de Jogo, do Ministério Público do Distrito Federal, e na Operação Jogada Ensaiada, da Polícia Federal, Rogattto afirmou que o esquema de manipulação existe há mais de 40 anos e que a “hipocrisia maior do mundo está em ter um clube de futebol hoje e ser patrocinado por uma casa de apostas”.
“Gatilho”
Em resposta ao senador Romário (PL-RJ), relator da CPI, Rogatto afirmou que o fato de uma casa de apostas patrocinar um clube “já abre um gatilho para que tudo aconteça”.
“Quando uma bet patrocina o seu clube, automaticamente o jogador se transforma em aposta. Ele não recebe um salário digno e a bet vem e dá um suporte”, declarou. “Já operei nos 27 estados e no Distrito Federal, onde bati de ferente com um cara muito forte. A gente vai na luta de poder. Infelizmente, eu perdi e fiquei exposto.”
Romário sugeriu a Rogatto a realização de uma delação premiada. O empresário, porém, disse que esse instituto, embora “interessante”, não lhe garante a devida proteção, dadas as ameaças que supostamente recebeu de envolvidos no esquema.
Árbitros
Ao ser questionado pelo senador Carlos Portinho (PL-RJ) se o esquema de manipulação que comandava também contava com a participação de árbitros das confederações e da Fifa, Rogatto respondeu: “Tinha árbitros também, dos dois. Um árbitro oficial ganha em torno de 7 mil reais por jogo e eu pagava 50 mil para ele”.
Segundo o depoente, “o árbitro ganha pouco” e “o gatilho do futebol está na máfia, que é a confederação, é a CBF, que tem recursos e não passa”.
“É tão simples, é uma matemática tão perfeita, não vê quem não quer. Está tão feio que, como não acontece nada, o sistema não faz nada, você vem e oferece um dinheiro fácil. Isso é um gatilho da corrupção que temos no Brasil. Eu sou uma máquina que está oferecendo para o atleta dinheiro fácil e dando dignidade para ele oferecer comida ao filho dele.”
(Com informações da Agência Senado)
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