Política

‘Não permitirei que a minha história seja resumida à violência’, afirma Anielle

Ministra concedeu entrevista ao programa ‘Fantástico’, da ‘ TV Globo’, e comentou sobre o episódio de assédio envolvendo o ministro Silvio Almeida

‘Não permitirei que a minha história seja resumida à violência’, afirma Anielle
‘Não permitirei que a minha história seja resumida à violência’, afirma Anielle
Ministra voltou a falar sobre os episódios de assédio - Foto: Helene Santos / Governo do Ceará
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Na primeira entrevista televisiva após as denúncias de assédio cometidas pelo agora ex-ministro dos Direitos Humanos, Silvio Almeida, a ministra da Igualdade Racial, Anielle Franco, se emocionou ao falar sobre o caso.

Em conversa com a jornalista Sônia Bridi, exibida no domingo 6 pelo Fantástico, programa da TV Globo, a ministra tentou resumir como se sente cerca de um mês após a exposição do episódio e a demissão do agora ex-colega.

“É uma mistura de sentimentos que vêm na gente. Ao mesmo tempo em que eu me senti invadida, vulnerável, exposta, eu também sinto uma gana danada de lutar por um lugar mais justo para mim e para você. Eu, Anielle, não permitirei que a minha história seja resumida à violência”, afirmou.

A entrevista foi concedida logo após depoimento prestado por Anielle à Polícia Federal (PF), que investiga o caso. Ela afirmou que foi difícil falar sobre o caso perante os agentes policiais, mas que fez isso por outras mulheres.

“A única vez que eu entrei para depor foi após a morte da minha irmã [Marielle Franco]. E eu estava entrando ali para uma outra violência, que não se compara em hipótese nenhuma, mas ainda assim é uma violência. Ainda assim, eu precisei refletir, pensar, viver tudo o que tinha acontecido de novo. Mas eu sabia que não era só por mim também”, pontuou.

Segundo Anielle, os episódios de assédio cometidos por Almeida duraram mais de um ano. Além disso, contou que os ataques foram “escalando para um desrespeito pelo qual eu também não esperava”.

Perguntada pela jornalista se teria sido tocada por Almeida por debaixo de uma mesa durante uma reunião, Anielle se emocionou e se limitou a dizer: “É. Desculpa, gente”.

“Você tocar, assediar ou violentar o corpo de uma mulher é uma das coisas mais abomináveis que pode existir. Mas é por isso, Sônia, que toda vez que eu preciso falar sobre isso, lembrar disso, eu digo para mim mesma que, sim, Anielle foi vítima. Mas Anielle, hoje, enquanto ministra de Estado, enquanto mãe, feminista, negra, irmã, tem uma responsabilidade também nesse lugar de combater e de fazer com que esse país vire um lugar melhor para todos nós”, afirmou a ministra na sequência.

Outras denúncias

O programa da Globo procurou outras setes mulheres que acusam Silvio Almeida de agressões sexuais. Duas delas concordaram em gravar entrevista, entre elas, a professora Isabel Rodrigues, de Santo André (SP), que já tinha falado sobre o tema nas redes sociais.

“Eu precisei de 14 mulheres antes de mim. Antes disso, não foi possível. Não conseguia. Tentei muitas vezes, mas não conseguia”, resumiu.

A outra mulher ouvida pelo Fantástico foi uma ex-aluna de Almeida, que pediu para ter a identidade preservada.

Silvio nega acusações

O advogado do ex-ministro afirmou ao programa que ele segue negando “veementemente” todas as denúncias, e criticou o andamento do processo, já que o conteúdo dos depoimentos oficial das acusadoras não foi divulgado.

“O que não é razoável é que, em plena vigência da Constituição, que se chama de ‘Constituição Cidadã’, a defesa saiba de episódios esparsos a partir do noticiário, da imprensa escrita, falada, televisada”, lamentou o advogado Nélio Machado, que representa Silvio Almeida.

Machado disse ainda que, quando receber os conteúdos dos depoimentos, serão apresentadas as argumentações da defesa e que “a verdade vai prevalecer”.

O episódio levou à saída de Silvio Almeida do ministério dos Direitos Humanos. Logo após a divulgação das denúncias pela imprensa, ainda antes de ser demitido, ele negou as acusações alegando falta de materialidade.

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