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Suposta carta de Trump a Marçal não partiu do gabinete e foi produzida por ‘grande fã’ do ex-presidente
O ex-coach chegou a dizer que trocou correspondências com o republicano e que campanhas tentavam organizar um encontro entre eles antes da eleição; na prática, porém, ele se comunicava apenas com uma eleitora do ex-presidente dos EUA


Desde que sofreu a cadeirada no debate da TV Cultura, o candidato à prefeitura de São Paulo, Pablo Marçal (PRTB), insistiu na comparação do próprio caso com a facada recebida pelo ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) e com o atentado contra o ex-presidente dos Estados Unidos, Donald Trump.
No caso do norte-americano, o ex-coach chegou a dizer, no debate realizado pelo Flow, que teria recebido uma carta de solidariedade de Trump. A história, porém, parece não ser bem assim.
O próprio Trump, via porta-voz, negou que tivesse enviado qualquer carta a Marçal. Após a negativa, Marçal tentou remendar a própria declaração e alegou que o documento, na verdade, seria assinado por uma assessora do político republicano. Em sua defesa, ele mostrou um documento, sem data, assinado por Bethany Movassaghi e pela associação “Place America First” [Coloque a América em Primeiro Lugar, em tradução livre].
Diante da insistência de Marçal na história, o gabinete de Trump voltou a se pronunciar sobre o assunto, informando ‘nunca ter ouvido falar’ da tal organização. “Isso não é a campanha do presidente Trump”, garantiu Jason Miller, porta-voz oficial de Trump, ao site Metrópoles, responsável pela revelação da carta e suas inconsistências.
Bethany, na verdade, é apenas uma integrante do grupo “Trumpettes USA”, sem qualquer relação oficial com a campanha de Trump. Segundo o site, ela se apresenta como uma “grande fã” do ex-presidente dos EUA. Na prática, portanto, Marçal e seus aliados trocavam correspondência apenas com uma eleitora do político norte-americano.
A carta solidária da apoiadora não foi exatamente gratuita. No documento, Bethany agradece pelo apoio financeiro à campanha republicana, embora a eventual doação feita por Marçal pode não ter ido para os cofres da campanha de Trump, mas para uma associação de apoio.
Ainda que não tenha recebido nenhum documento diretamente de Trump, Marçal sustentou que respondeu a suposta carta. “Muito obrigado pela preocupação. Vamos mudar o mundo, você dos Estados Unidos e a gente aqui no Brasil, através de São Paulo”, disse o candidato, sem mencionar que a “preocupação” sequer foi manifestada por Trump.
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