Cultura
As vidas simples, em tom agridoce
O Dia Que Te Conheci é um típico longa-metragem da produtora mineira Filmes de Plástico, nascida em contagem


AFilmes de Plástico, nascida do desejo de quatro amigos de Contagem, em Minas Gerais, de fazer cinema, tornou-se uma pequena grife no meio audiovisual brasileiro.
De 2009, quando surgiu, até hoje, a produtora fez mais de 25 filmes, entre curtas e longas-metragens, e foi, título após título, conquistando um reconhecimento no ambiente dos festivais e do circuito de arte.
Esse reconhecimento está atrelado à seleção de muitos desses títulos para eventos relevantes – como a Quinzena dos Realizadores em Cannes, o Festival de Cinema de Locarno, o Festival de Roterdã e o FIDMarseille – e também à consistência estética e temática dessa produção.
E O Dia Que Te Conheci, em cartaz nos cinemas do País desde a quinta-feira 26, é, nesse sentido, um típico trabalho da Filmes de Plástico.
Apresentado como uma comédia romântica, o filme foi dirigido por André Novais Oliveira, sócio da empresa ao lado dos também realizadores Gabriel Martins e Maurílio Martins e do produtor Thiago Macêdo Correia.
Novais, diretor de Ela Volta na Quinta (2014) e Temporada (2018), retoma nesse projeto seu estilo agridoce, sua dramaturgia baseada nos pequenos – ainda que, no fundo, muitas vezes grandes – acontecimentos do cotidiano e seu olhar para os espaços urbanos da grande BH.
A trama começa com Zeca (Renato Novaes), bibliotecário de uma escola, pedindo para o amigo que mora com ele acordá-lo às 6h30 – numa sequência cheia de graça e simplicidade. O amigo, no entanto, não consegue tirá-lo da cama e, mais uma vez, Zeca chegará atrasado ao emprego que acabará por perder. É durante sua demissão que entra em cena Luísa (Grace Passô), sua colega no colégio. Os dois serão, a partir daí, o centro dessa narrativa que, por meio de diálogos aparentemente corriqueiros, tratará de temas como racismo, depressão e ansiedade
O Dia Que Te Conheci marca ainda a estreia da distribuidora Malute, o novo braço da Filmes de Plástico – que, certamente, viveu uma experiência única no campo da distribuição com Marte Um (2022), filme que teve um ótimo desempenho nas salas de cinema.
Também este ano, a produtora realizou sua primeira produção em parceria com uma plataforma internacional, a Netflix: Vicentina Pede Desculpas, dirigido por Gabriel Martins (Marte Um) e filmado em Belo Horizonte.
O sonho dos amigos que queriam transformar em cinema os lugares, as pessoas e as vidas simples que conheciam segue a ganhar o mundo. •
Publicado na edição n° 1330 de CartaCapital, em 02 de outubro de 2024.
Este texto aparece na edição impressa de CartaCapital sob o título ‘As vidas simples, em tom agridoce’
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