Política
Projeto na Câmara pode barrar uso de Bolsa Família em apostas esportivas
Proposta do deputado Reginaldo Lopes (PT-MG) quer proibir a prática após estudo revelar alto volume de apostas feitas por beneficiários do programa em bets e jogos de azar
        
        
                            Um projeto de lei apresentado nesta semana na Câmara dos Deputados pode barrar o uso de recursos de contas bancárias do Bolsa Família em apostas esportivas. A medida foi apresentada pelo deputado federal Reginaldo Lopes (PT-MG) à Mesa Diretora da Casa.
Segundo o projeto, as casas de apostas esportivas – conhecidas como ‘bets’ no ambiente de apostas virtuais – poderão estar sujeitas a multas, caso recebam recursos de cartões de crédito e contas bancárias do Bolsa Família.
A medida impõe uma multa no valor de 0,1% a 20% sobre o produto da arrecadação das empresas. Nos casos mais graves, as multas podem superar 2 bilhões de reais.
Além disso, as empresas estarão sujeitas à suspensão parcial ou total do exercício das atividades, pelo prazo de seis meses. Outra penalidade prevista no projeto é a cassação da autorização da empresa que receba valores oriundos das contas de usuários do benefício.
O parlamentar justificou a medida a partir de dados de um levantamento do instituto Locomotiva, que mostrou que, em cinco anos, o número de apostadores no país chegou a 52 milhões de pessoas.
Recentemente, o Banco Central (BC) mostrou que, só no último mês de agosto, as casas de apostas online abocanharam cerca de 3 bilhões de reais de beneficiários do Bolsa Família. O montante representa cerca de 20% do valor total pago pelo governo federal às famílias beneficiadas.
No grupo de cinco milhões de pessoas que recebem o benefício, cada apostador gastou, em média, 100 reais. A maioria dos apostadores são chefes de família, representando, na prática, a pessoa que recebe o auxílio.
“O endividamento causado pelas apostas tem destruído famílias e causado ruína financeira para diversas pessoas. O uso indiscriminado do cartão de crédito tem colocado em risco financeiro boa parte da população”, indicou Reginaldo Lopes, na apresentação do projeto.
Agora, o parlamentar terá que colher o apoio dos colegas de Casa para levar a proposta adiante.
O governo, por sua vez, já indicou a necessidade de frear o “grave problema social” das apostas esportivas no país, segundo o ministro da Fazenda, Fernando Haddad. Para ele, a regulamentação da atividade poderá controlar o que chamou de “pandemia” das apostas esportivas.
O próprio presidente Lula (PT) sinalizou ser favorável a se impor um freio no setor. Em declaração dada durante uma reunião nos Estados Unidos, onde participa da Assembleia Geral da ONU, o brasileiro alertou para o crescimento do endividamento da população com a epidemia das bets. Por fim, destacou a necessidade de regulamentação.
“Esse é um problema que temos que regular, porque se não vamos ter daqui a pouco os cassinos funcionando dentro da cozinha de cada casa”, comentou o presidente.
Pouco depois, o ministro Wellington Dias, do Desenvolvimento Social, pasta responsável pelo pagamento do Bolsa Família, prometeu agir. Ele afirmou ter solicitado “informações ao Ministério da Fazenda” sobre os dados revelados nesta terça e anunciou que trabalha para garantir “a proteção dos mais vulneráveis” no projeto de regulamentação das bets no Brasil.
“O Bolsa Família transfere um dinheiro livre para a família e tem por objetivo combater a fome e atender a necessidades básicas de pessoas em situação de insegurança alimentar e outras vulnerabilidades. Tudo faremos para manter estes objetivos”, finalizou o ministro.
Justiça
As bets também têm gerado atenção da Justiça após uma investigação revelar o uso de casas de apostas para lavar dinheiro do crime organizado. No episódio mais recente do processo, o cantor Gusttavo Lima chegou a ter ordem de prisão decretada. A determinação foi revogada poucos dias depois.
A influenciadora Deolane Bezerra, porém, foi presa na mesma ação e, apesar de ter sido solta, é monitorada com tornozeleira eletrônica. Cerca de 2 bilhões de reais foram bloqueados em suas contas. A mãe da influencer, Solange Bezerra, também foi alvo das mesmas medidas.
Em outra frente de ação, o caso chegou ao Supremo Tribunal Federal (STF) após um pedido da Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC). Na solicitação, a entidade pede que a Corte declare inconstitucional a lei que regulamenta as apostas esportivas online no Brasil. O caso será relatado por Luiz Fux.
Apoie o jornalismo que chama as coisas pelo nome
Muita gente esqueceu o que escreveu, disse ou defendeu. Nós não. O compromisso de CartaCapital com os princípios do bom jornalismo permanece o mesmo.
O combate à desigualdade nos importa. A denúncia das injustiças importa. Importa uma democracia digna do nome. Importa o apego à verdade factual e a honestidade.
Estamos aqui, há 30 anos, porque nos importamos. Como nossos fiéis leitores, CartaCapital segue atenta.
Se o bom jornalismo também importa para você, nos ajude a seguir lutando. Assine a edição semanal de CartaCapital ou contribua com o quanto puder.
Leia também
                                            Lula critica apostas on-line e alerta para endividamento dos mais pobres: ‘Temos que regular’
Por CartaCapital
                                            Alckmin faz reunião sobre apostas on-line com Saúde, Fazenda e Justiça
Por CartaCapital
                                            Desembargador revoga ordem de prisão contra Gusttavo Lima por envolvimento com bets
Por Wendal Carmo
                                            Apostas levam famílias ao desespero, diz juíza ao mandar prender Gusttavo Lima
Por CartaCapital
                                            Envolvido com bets, Gusttavo Lima já foi acusado de pagar ‘jabá’ e recebeu cachês milionários de prefeituras
Por Augusto Diniz
                                            Justiça manda soltar influenciadora Deolane Bezerra e outros investigados em bets
Por CartaCapital
                                            O vírus do tigrinho
Por Maurício Thuswohl
                                            Vício global
Por Helen Sullivan
                                            


