Augusto Diniz | Música brasileira

Jornalista há 25 anos, Augusto Diniz foi produtor musical e escreve sobre música desde 2014.

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Pesquisador preserva a memória do cavaquinho, um instrumento popular ‘esquecido’ na história

Pedro Cantalice realiza festivais e grupos de discussão sobre o tema

Pesquisador preserva a memória do cavaquinho, um instrumento popular ‘esquecido’ na história
Pesquisador preserva a memória do cavaquinho, um instrumento popular ‘esquecido’ na história
Foto: Leticia Gomes
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O Rio de Janeiro sediou neste mês o Festival Memória do Cavaquinho Brasileiro, que acontece desde 2022. Em outubro, começarão as atividades de um grupo de estudos criado para debater temas relacionados ao instrumento. Por fim, em dezembro, haverá a inauguração da sede física do projeto em Vila Isabel.

No comando das iniciativas está Pedro Cantalice, o primeiro a receber o título de bacharel em cavaquinho no País, pela UFRJ. Naquela época, ele já havia iniciado o processo de coleta de gravações, partituras e fotografias sobre o instrumento. Também começou a ter contato com mestres do cavaco.

“Um fato que me chamava a atenção era que em quase todas as conversas eram citados nomes de figuras lendárias do cavaquinho. Personagens que não eram conhecidos pelos músicos da minha geração”, conta ele.

Entre esses nomes estão Tico-Tico, Pinguim, Nelson Miranda, Ary Valdez, Mané do Cavaco e Julinho.

Um acervo fundamental foi o do jornalista e historiador Miguel Ângelo de Azevedo, o Nirez, no qual Cantalice conseguiu ouvir pela primeira vez alguns daqueles cavaquinistas que conhecia apenas pelo nome. Em 2018, quando se formou, decidiu compartilhar a trajetória do cavaquinho e de seus instrumentistas por meio de um canal no YouTube, que logo recebeu um grande número de acessos.

Apesar de o cavaquinho ser um instrumento popular no Brasil, é pouco lembrando na história. “Penso que isso tenha relação com alguma tradição que o instrumento herdou. O violão e o bandolim, por exemplo, já tinham uma tradição europeia, com obras e estudos dedicados às suas técnicas.”

“O instrumento pode não ter sido lembrado na história, mas está presente na música popular desde seus primórdios”, ressalta. “Passou a se desenvolver a partir de um repertório popular, que muitas vezes não tem algum tipo de registro (musicográfico ou fonográfico), sendo estudado a partir da tradição oral.”

“O cavaquinho brasileiro foi um instrumento que se desenvolveu por aqui, tanto no que se refere à parte técnica quanto à sua construção.”

O pesquisador relata que o repertório melódico para o cavaquinho, no entanto, surgiu com os primeiros chorões, inicialmente com temas de polcas, valsas, quadrilhas e, posteriormente, maxixes e choros.

Na história, há escritos de 1822 sobre o mulato Joaquim Manoel da Câmara, com um talento raro no cavaquinho. Outros cavaquinistas de destaque, segundo o pesquisador, foram Mário Álvares Conceição – que chegou a ser professor de Pixinguinha -, o compositor Donga, Nelson Alves – do grupo Oito Batutas – e Waldir Azevedo – o mais conhecido de todos.

“Waldir foi um revolucionário. Digo isto porque, além de ser compositor de muitas obras musicais, algumas de grande sucesso, como Brasileiro e Delicado, estabeleceu novas técnicas e sonoridades para o instrumento.”

Segundo Pedro Cantalice, o cavaquinho modelo Waldir Azevedo, de construção mais robusta e com melhor sonoridade, de certa forma padronizou o cavaquinho brasileiro.

Atualmente, ele cita como referências no instrumento Alceu Maia, Henrique Cazes, Mauro Diniz e Luciana Rabello.

Cantalice afirma haver também bons estudos na academia em torno do tema, tanto em pesquisa quanto em execução. “Uma mudança positiva que tenho percebido com o projeto Memória do Cavaquinho Brasileiro é o interesse pela história do instrumento.”

Ele conta que o festival que promove já teve a participação de grandes cavaquinistas, com Mestre Siqueira, Jayme Vignoli, Ronaldinho do Cavaquinho e Wanderson Martins, além de músicos de outros estados, como Messias Britto (BA), Leo Benon (DF) e Pablo Araújo (MG).

O festival, que além de shows oferece palestras e workshops, tem também uma edição em São João Del-Rei (MG), que acontecerá entre 31 de outubro e 2 de novembro.

A sede da Memória do Cavaquinho Brasileiro, com previsão de inauguração em dezembro, será em uma pequena sala no bairro Vila Isabel, na zona norte do Rio de Janeiro.

“Apesar de o nosso acervo ser majoritariamente digital, uma coleção de métodos de cavaquinho, instrumentos musicais, modelos raros de cavaquinho, LPs, CDs, partituras e a minha biblioteca musical ficarão na sede”, explica. Além disso, o espaço deve receber palestras e cursos, além de permanecer aberto a pesquisadores.

Saiba mais sobre a Memória do Cavaquinho Brasileiro, inclusive como ajudar, no site oficial.

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