Cartografia do Poder
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48 reuniões: Périplo de Galípolo pelo Senado reforça contraste entre ele e Campos Neto
Com apoio suprapartidário, o indicado de Lula navega com habilidade onde o atual presidente do BC naufragou


Indicado por Lula para presidir o Banco Central, Gabriel Galípolo navega com facilidade no Congresso. Com 48 reuniões já realizadas com senadores, sua sabatina na Comissão de Assuntos Econômicos do Senado se anuncia como mera formalidade. Sua habilidade contrasta fortemente com a turbulenta relação que Roberto Campos Neto, atual presidente do BC, manteve com o governo Lula desde o início.
Enquanto Galípolo articula apoios de forma suprapartidária, Campos Neto tornou-se alvo constante de artilharia. Desde a posse de Lula, o atual presidente do BC foi citado mais de 80 vezes no plenário e alvo de mais de 20 requerimentos no Congresso. A Câmara dos Deputados mostrou-se particularmente crítica, enquanto o Senado manteve uma postura mais ponderada.
A indicação
A proximidade de Galípolo com o presidente Lula não surpreende. Participante ativo na formulação da política econômica durante a campanha de 2022, Galípolo manteve linha direta com o governo, evidenciada por quatro reuniões registradas com Lula entre outubro de 2023 e agosto de 2024. Além disso, fez 13 reuniões com Fernando Haddad, reforçando a conexão entre o Ministério da Fazenda e o Banco Central.
Ao contrário de Campos Neto, como apontado em primeira mão por esta coluna, Galípolo fez questão do diálogo.
De interlocutor do BC junto aos bancos…
Ex-presidente de uma instituição financeira, Galípolo foi nomeado Diretor de Política Monetária em julho de 2023. Nesse período, evitou contato com parlamentares durante seu período como diretor, focando-se no mercado financeiro. Em aproximadamente 300 dias úteis, participou de mais de 650 compromissos, incluindo mais de 90 reuniões com bancos, como Itaú, Bradesco, Santander, BTG Pactual, consolidando-se como o principal interlocutor do Banco Central junto ao setor.
…a articulador de apoios no Senado
Após sua indicação à presidência, contudo, Galípolo mudou de estratégia. Sob a mentoria de Jaques Wagner, relator de sua indicação, o economista embarcou em uma intensa agenda política no Senado. A estratégia de ambos tem sido a de construir um apoio amplo, não se limitando apenas aos membros da Comissão de Assuntos Econômicos, responsável por sua sabatina.
O objetivo é reunir-se com todos os senadores antes da sabatina marcada para 8 de outubro – apostando na premissa de que o Senado funciona, em grande medida, como uma casa de consensos.
Desde setembro, Galípolo se encontrou com 48 senadores de diversos partidos, de Rogério Carvalho (PT) a Sérgio Moro (União Brasil), demonstrando sua capacidade de transitar por diferentes espectros políticos.
A habilidade política de Galípolo contrasta nitidamente com a relação conflituosa de Campos Neto com o governo Lula. O verdadeiro teste para o novo presidente do BC, contudo, virá com as inevitáveis controvérsias sobre a taxa de juros, desafio que nenhum líder do BC consegue evitar por muito tempo.
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