Afonsinho

Médico e ex-jogador de futebol brasileiro

Opinião

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Um verdadeiro alento

As Paralimpíadas, encerradas recentemente em Paris, deixaram um rastro de esperança e alegria em todos os interessados em esporte

Um verdadeiro alento
Um verdadeiro alento
Gabrielzinho celebra sua segunda medalha de ouro nos Jogos Paralímpicos de Paris, em 31 de agosto de 2024 - Foto: Franck Fife/AFP
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As Paralimpíadas se encerraram no domingo 8 deixando, ao se apagarem as luzes em Paris, um rastro precioso.

Em tempos de tanto desencontro, com guerras no atacado e no varejo, a realização das Paralimpíadas é um tapa na cara nos senhores da guerra e de muitos donos do mundo.

Enquanto são despendidos valores astronômicos em ações que levam ao extermínio de seres não só indefesos, mas inocentes, os magníficos atletas paralímpicos nos entregaram sentimentos de esperança, alegria e felicidade.

Recebemos também um alento com o surgimento, a continuação e a afirmação de novos ídolos que escancaram, com seus sorrisos, o verdadeiro sentido da vida – perdido na ganância que marca a contemporaneidade.

Nomes como os nadadores Carol Santiago e Gabrielzinho e os corredores Petrúcio Ferreira – veloz nos 100 metros rasos –, Júlio Cesar e Agripino – especialistas nos 1.500 metros e 5.000 metros – são apenas alguns dos motivos para nossa autoestima elevada no esporte paralímpico.

A posição destacada do País, nas últimas semanas, em Paris, mostra que, apesar de todas as nossas contradições e mazelas, podemos mais do que fazemos.

O quadro geral dos países desta Olimpíada também ajuda a compreender o rumo que as pessoas vão seguindo em nossa caminhada pela vida. E isso se repete na Paralimpíada.

A China puxou a fila, com 94 ouros – 220 medalhas no geral –, seguida pela Grã-Bretanha, com 49 ouros, e pelos ­Estados Unidos, com 36 medalhas douradas. Na sequência, aparecem Holanda e Brasil.

Esta foi a primeira vez em que o País ficou no Top 5 da competição, batendo seu recorde de medalhas. Foram 89 pódios conquistados, com 25 ouros.

O incrível Gabrielzinho mostra bem o valor desse resultado.

O atleta atribui seu destaque, sobretudo, a ser quem é, ao próprio “carisma”: “Ganhar uma medalha pelo trabalho é bom, mas, pela pessoa, é melhor ainda”.

Outra declaração que exalta a grandeza e a consciência desses atletas veio do corredor Yeltsin Jacques, do Mato Grosso do Sul: “Quero a medalha para nosso bairro, nossa cidade; sabe o que é depois de tanta dificuldade poder ser um campeão olímpico?”

A vontade que dá é ficar direto ligado nos esportes paralímpicos.

Mas, esta semana, o futebol nos chamou novamente para olhar para a Seleção brasileira.

O primeiro jogo pelas eliminatórias da próxima Copa do Mundo, contra o Equador, deixou todo mundo de cabelos em pé – e não foi por falta de aviso.

Na terça-feira 10, no segundo jogo, veio outra derrota: 1×0 na partida contra o Paraguai.

Embora ambos os resultados não estivessem fora das previsões do técnico Dorival Junior, eles só vão atrapalhar ainda mais seu trabalho.

Esse segundo jogo foi marcado pela esperada pressão dos Defensores del ­Chaco e, sobretudo, pelo golaço de rara beleza do armador paraguaio que alterou o andamento da partida, facilitando o trabalho do nosso adversário e dificultando o processo de construção da nova Seleção.

A despeito do apregoado saudosismo de alguns arautos da mania de grandeza, a seleção, e seus muitos novatos, parece estar vacinada, como deixou claro o capitão Danilo, em excelente e lúcida entrevista às vésperas do jogo.

Danilo disse que, no momento, estamos atrasados. O Brasil perdeu tempo após o fracasso na última Copa do Mundo, trocando treinadores.

Além disso, é preciso entender que o futebol, dentro de campo, mudou muito ao ter se tornado um dos maiores “negócios” da atualidade.

Coisas como a paixão, o amor à camisa e o drible “irresponsável” – que pareciam a essência de antigamente – ficaram para trás.

Danilo disse ainda ser necessário entender os números, a matemática, a seriedade e o profissionalismo, ponderando que é difícil a Seleção, hoje, se aproximar do que já foi um dia.

O lateral-direito prenunciou com clareza que, se ganhar, vai ser aplaudido e, se perder, vai ser criticado.

Por fim, acrescentou que temos boa “matéria prima”, mas que é preciso planejamento e organização.

Isso, como sabemos, veio com o Dorival: segurança e confiança são dois pontos fortes do treinador em seus trabalhos anteriores.

Disso tudo, o que fica de concreto é que, tanto nos esportes paralímpicos quanto no futebol tradicional, a dedicação – preferencialmente acompanhada de alegria – é a prova dos nove. •

Publicado na edição n° 1328 de CartaCapital, em 18 de setembro de 2024.

Este texto aparece na edição impressa de CartaCapital sob o título ‘Um verdadeiro alento’

Este texto não representa, necessariamente, a opinião de CartaCapital.

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