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Sob Milei, pobreza na Argentina chega a 52% da população

Segundo Observatório da Dívida Social Argentina, o quadro social é o pior desde 2004

Sob Milei, pobreza na Argentina chega a 52% da população
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O presidente da Argentina, Javier Milei. Foto: AFP
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Alçado à Presidência da Argentina no fim do ano passado, Javier Milei chegou ao poder com uma missão: arrochar as contas públicas e frear a escalada da inflação, uma das mais altas do mundo.

Desde então, o “libertário” aplicou um plano de ajuste fiscal severo até para os padrões do Fundo Monetário Internacional: acumulou divisas em moeda estrangeira, fechou uma infinidade de órgãos públicos e cortou o repasse de recursos para a assistência social.

O problema é que a pobreza cresceu desde que Milei ascendeu à Casa Rosada.

Segundo estimativas do Observatório da Dívida Social Argentina da Universidade Católica Argentina, o ODSA-UCA, o índice de pobreza ficou em 52% no primeiro semestre deste ano. Já a indigência atingiu 17,9% no período. Os dados foram divulgados na última quarta-feira 4.

Os números são altos e, quando comparados aos registrados em 2023, chamam a atenção pela expansão. No ano passado, quando a crise já estava consolidada, a pobreza ficou em 41,7% e a indigência em 11,9%, segundo dados do Instituto Nacional de Estatísticas e Censos da Argentina, o Indec.

De acordo com o ODSA-UCA, essa é a pior situação na Argentina, em termos de pobreza, desde 2004. Sempre que a crise se alastra no país, os próprios argentinos temem algo parecido com o que aconteceu em 2001, quando a coesão social se rompeu, graças às consequências das políticas neoliberais dos anos 1990, e uma onda histórica de protestos tomou as rodas.

Agora, a situação é grave, mas as condições para a formação de uma crise da envergadura daquela de 2001 ainda não estão totalmente postas. Isso acontece porque, ao menos por enquanto, o desemprego na Argentina não é tão alto quanto no início do século. Em 2001, por exemplo, a taxa de desemprego chegou a 20%. Atualmente, segundo os dados mais recentes do país, ela é de 7,7%.

Queda na inflação, alta no desemprego?

Entretanto, a perenidade da crise argentina faz o país sofrer a conta-gotas e aponta para o que pode acontecer. Na quarta-feira, o chefe de gabinete do governo Milei, Guillermo Francos, foi ao Congresso apresentar um balanço com números preocupantes. Segundo o ministro, subiu de 71 mil para 104 mil o número de pessoas que necessitam de seguro-desemprego nos primeiros sete meses do ano. No marco da crise, há quase 15% a menos de trabalhadores registrados na Argentina, quando se compara com o fim de 2023.

Para chegar aos números do estudo, o ODSA-UCA estabeleceu uma média entre a taxa de pobreza no primeiro trimestre (54,9%) e no segundo trimestre (49,4%). Eles não representam, portanto, a taxa oficial de pobreza no país, que será divulgada pelo Indec no fim do mês.

Se há um aspecto positivo para o governo Milei é que, ao menos, houve certa queda no índice de pobreza no recorte recente. Segundo o Observatório, isso se deve “à queda da inflação [79,8% no primeiro semestre, segundo o Indec] aliada ao aumento nos salários de empregados formais no setor privado”.

Por outro lado, o número pode representar um respiro casual no sufocante quadro social argentino. O aumento nos salários, por exemplo, não foi sentido por trabalhadores do setor público e, principalmente, por aqueles que estão na informalidade.

Por causa da alta inflação, a Argentina aplica uma política de aumentos sucessivos nos salários. Os trabalhadores registrados, segundo institutos que monitoram a dinâmica trabalhista no país, até recebem aumentos que tentam contornar a inflação. 

Mas o crescimento da renda de modo a superar a subida dos preços não é uma realidade para os que vivem de informalidade. Esse grupo representa quase metade de todos os trabalhadores argentinos, segundo o Centro de Estudos de Política Econômica.

A disparidade cria uma divisão entre quem pode ou não aguentar os efeitos da crise, e poderá agravar desigualdade no país governado por Milei.

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