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Edmundo González descarta pedir asilo após ordem de prisão na Venezuela

Há mais de um mês na clandestinidade, González é procurado por crimes que incluem desobediência às leis, conspiração, usurpação de funções e “sabotagem

Edmundo González descarta pedir asilo após ordem de prisão na Venezuela
Edmundo González descarta pedir asilo após ordem de prisão na Venezuela
Edmundo González, candidato à Presidência da Venezuela, em 25 de julho de 2024. Foto: Federico Parra/AFP
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O candidato opositor Edmundo González Urrutia descartou, por enquanto, pedir asilo em alguma embaixada na Venezuela, após a Justiça emitir um mandado de prisão contra ele, ordem que gerou rejeição e preocupação internacional.

Um tribunal com competência em terrorismo ordenou na noite da segunda-feira 2  — poucos minutos após um pedido do Ministério Público — a detenção do diplomata de 75 anos, que denuncia que a reeleição do presidente Nicolás Maduro foi fraudulenta e afirma que venceu as eleições de 28 de julho com ampla vantagem.

Há mais de um mês na clandestinidade, González é procurado por crimes que incluem “desobediência às leis”, “conspiração”, “usurpação de funções” e “sabotagem”.

“Temos pouco conhecimento sobre esse processo judicial”, explicou nesta terça-feira seu advogado, José Vicente Haro, do lado de fora da residência de González em Caracas. O mandado, que está a cargo da polícia judiciária, ainda não foi executado.

Haro indicou que o diplomata, por enquanto, não procurou refúgio em alguma representação diplomática. “Não pediu asilo. É uma questão que a família ou o senhor Edmundo González Urrutia não levantaram”, declarou.

Maduro chamou o opositor de covarde por estar “enconchado“, gíria popular para quem se esconde das autoridades, e afirmou que ele está preparando a fuga.

“[O governo] sempre utiliza esse tipo de estratégia para quem fala contra ele”, disse Mauricio, um mecânico de 49 anos.

“Pensei que era uma forma de intimidá-lo e fazê-lo sair [do país], mas agora emitiram [o mandado de prisão] e sinto que ele está em perigo”, disse Michelle Méndez, uma advogada de 25 anos. “Se ele se for [para outro país] será muito triste, mas eu entenderia.”

Mais sanções?

“Este é apenas mais um exemplo dos esforços do senhor Maduro para manter o poder pela força”, declarou o porta-voz do Conselho de Segurança Nacional dos Estados Unidos, John Kirby, enquanto Brian Nichols, representante dos EUA para a América Latina e o Caribe, qualificou o mandado de prisão como “injustificado”.

Os Estados Unidos, com quem a Venezuela não mantém relações formais há cinco anos, consideram “uma série de opções” para mostrar a Maduro “que suas ações ilegítimas e repressivas na Venezuela têm consequências”, afirmou Matthew Miller, porta-voz do Departamento de Estado.

Washington já impôs em 2019 uma série de sanções contra o país caribenho, mas flexibilizou várias delas nos últimos anos, especialmente no que se refere à exploração petrolífera.

O alto representante da diplomacia da União Europeia, Josep Borrell, rejeitou “categoricamente” a medida, enquanto um porta-voz da ONU disse que o secretário-geral, António Guterres, “acompanha com preocupação” os eventos na Venezuela e reiterou seu “apelo à proteção total e ao respeito pelos direitos humanos”.

Argentina, Costa Rica, Equador, Guatemala, Panamá, Paraguai, Peru, República Dominicana e Uruguai também rejeitaram “de forma inequívoca e absoluta” o mandado de prisão.

A Venezuela rompeu relações diplomáticas com vários desses países pelo não reconhecimento da reeleição de Maduro.

O mandado de prisão busca “silenciar o senhor González, desconhecer a vontade popular venezuelana e constitui perseguição política”, indicou o comunicado. “Em um país onde não há separação de poderes nem garantias judiciais mínimas e onde abundam as detenções arbitrárias, condenamos estas práticas ditatoriais.”

A líder da oposição, María Corina Machado, agradeceu no X pelas manifestações de apoio.

“Acusador político”

Maduro foi proclamado reeleito para um terceiro mandato de seis anos, até 2031, pelo Conselho Nacional Eleitoral, que não publicou o detalhamento da apuração como exige a lei.

A oposição afirma que a vitória de González é comprovada pelas cópias de mais de 80% das atas de votação que foram publicadas em um site, documentos que o chavismo desconsidera e diz serem forjados.

Esse site é o foco da investigação que levou à ordem de prisão contra González.

A ordem de prisão chega após o descumprimento de três convocações por parte de González, chamado a depor no MP, que o investiga em um processo criminal.

O diplomata argumentou dias atrás que o MP agia como um “acusador político” que o submeteria a um processo “sem garantias de independência e do devido processo”.

Maduro pediu que González e Machado, que também está na clandestinidade, fossem presos. Ele responsabiliza os líderes opositores por atos de violência nos protestos pós-eleições que deixaram 27 mortos — dois deles militares — quase 200 feridos e mais de 2.400 detidos, incluindo mais de 100 menores de idade.

A medida contra González também coincide com a apreensão pelos Estados Unidos de um avião utilizado por Maduro que foi adquirido, segundo as autoridades, por “contrabando”.

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