Augusto Diniz | Música brasileira
Jornalista há 25 anos, Augusto Diniz foi produtor musical e escreve sobre música desde 2014.
Augusto Diniz | Música brasileira
Livro exalta o estilo de Zé da Velha, um dos maiores instrumentistas do choro
Um dos últimos intérpretes da velha guarda do gênero, o trombonista foi cria de Pixinguinha


José Alberto Rodrigues Matos conheceu Pixinguinha aos 18 anos e passou a tocar em seu grupo regional. Por morarem perto um do outro, encontraram-se com frequência até a morte do maestro.
Depois, em 1965, ele conheceu e tocou com outro mestre do choro: Jacob do Bandolim. José Alberto Rodrigues Matos, mais conhecido como Zé da Velha, é trombonista, um dos maiores instrumentistas do gênero ainda vivo.
Marcos Flávio de Aguiar Freitas defendeu sua tese de doutorado pela Universidade Federal de Minas Gerais sobre o estilo de Zé da Velha em seu primeiro álbum, o Só Gafieira! (1995), feito em dupla com o trompetista Silvério Pontes.
O trabalho virou um livro intitulado O Trombone no Choro: A História e o Legado de Zé da Velha (Editora Appris, 172 páginas). O trombonista Marcos Flávio é professor da Escola de Música da UFMG, foi presidente da Associação Brasileira de Trombonistas e tem quatro registros fonográficos lançados.
O livro relata a história do choro e do trombone e seus principais instrumentistas no País.
Até o século XVIII, conta o autor do livro, o trombone era utilizado em pequenas formações camerísticas. No Brasil, a formação musical dos trombonistas começava em geral em bandas civis ou militares.
O choro surgiu no Rio de Janeiro na segunda metade do século XIX, com a participação de instrumento de sopro. Na primeira metade do século passado, o gênero se desenvolveu bastante, tornando-se um dos pilares da música brasileira moderna.
Zé da Velha, hoje com 83 anos, é um dos últimos intérpretes da chamada velha guarda do choro, que formatou o gênero.
Ele nasceu em Aracaju (SE), em 1º de junho de 1941 (embora tenha sido registrado em 4 de abril de 1942). Aos 8 anos, mudou-se com a família para o Rio de Janeiro, instalando-se no bairro de Olaria. Ainda jovem, já tocava em conjuntos na noite.
Em 1986, em um bar no centro do Rio, conheceu o trompetista Silvério Pontes. Anos depois, a dupla lançaria seis álbuns (o último saiu em 2012), tornando-se bastante conhecida no meio do samba e do choro.
Sete choros do primeiro disco da dupla – que também seria o primeiro de Zé da Velha -, o Só Gafeira!, são analisados no livro em seu aspecto técnico-musical, com transcrições, ou seja, com partituras.
Os choros transcritos são: Acariciando (Abel Ferreira e Lourival Faissal), Flor de Abacate (Alvaro Sandim), Cinco Companheiros (Pixinguinha), Doce de Coco (Jacob do Bandolim), Eu Hein? (Felisberto Martins), Sonoroso (K. Ximbinho) e Chorinho de Gafieira (Astor Silva).
O autor considera Zé da Velha um dos estruturadores da linguagem do choro, dando uma dimensão mais ampla ao gênero. O som bem articulado, carregado de “sotaques”, com mudanças da métrica melódica e uso habilidoso de contracantos instrumentais, o fez ser referência no meio.
O livro mostra que o choro também se consolidou com trombonistas, como Zé da Velha, que agregaram importante valor instrumental ao gênero musical tipicamente brasileiro.
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