Do Micro Ao Macro
Investimento com foco em gênero pode reduzir desigualdades no mercado
Captação direcionada a startups lideradas por mulheres ainda é baixa, mas representa uma oportunidade de crescimento econômico


O cenário global de investimento em startups lideradas por mulheres ainda apresenta grandes disparidades.
Segundo dados do Distrito, apenas 0,04% do capital investido em 2020 no Brasil foi destinado a empresas fundadas exclusivamente por mulheres.
Nos Estados Unidos, em 2023, esse percentual foi de 2,1%, conforme o Pitchbook.
Potencial econômico desperdiçado
Embora mulheres tenham grande potencial como líderes de negócios, o capital não chega na mesma proporção. Segundo um relatório do Banco Mundial, eliminar os vieses na distribuição de investimentos poderia aumentar o PIB global em mais de 20%.
Para Erica Fridman, cofundadora da Sororitê e mentora de dezenas de startups, o “Gender Smart Investing” é um caminho para corrigir essa desigualdade.
“Investir de forma intencional em fundadoras pode abrir novas oportunidades de crescimento”, afirmou.
Impacto nas cadeias de contratação e diversidade
Investir em lideranças femininas não apenas amplia o acesso ao capital, mas também gera efeitos positivos em toda a cadeia. Fridman destaca que mulheres tendem a contratar outras mulheres, o que cria mais empregos, aumenta a renda e favorece a independência financeira.
Além disso, ela ressalta que a diversidade dentro das empresas contribui para soluções inovadoras e para o crescimento sustentável dos negócios.
Cenário global e o papel dos fundos de investimento
Dados do Venture Capital Journal indicam que apenas 3% do capital captado por fundos de investimento de risco é gerido por equipes compostas exclusivamente por mulheres.
Com poucos fundos focados na questão de gênero, quem o faz se posiciona à frente de um novo movimento.
“Ainda existe a crença equivocada de que startups lideradas por mulheres não têm o mesmo desempenho que as fundadas por homens. Precisamos superar isso para diversificar as decisões de investimento”, observou Fridman, fundadora da Sororitê Angel Network, a maior rede de mulheres investidoras anjo do Brasil.
Desafios e perspectivas no Brasil
No Brasil, a situação é ainda mais desafiadora. Iniciativas que visem aumentar a diversidade nos investimentos são escassas, e poucos fundos possuem teses voltadas exclusivamente para gênero.
No entanto, investidores internacionais começam a pressionar fundos brasileiros a avaliar a diversidade das startups em seus portfólios. “Esse movimento inicial é um sinal positivo, mas ainda há um longo caminho”, avaliou Fridman.
Incentivo à mudança e novas oportunidades
Apesar das dificuldades, Fridman se mostra otimista quanto ao futuro. Ela acredita que, à medida que investidores se conscientizarem sobre a importância da diversidade, mais oportunidades surgirão.
“É preciso incentivar tanto investidores quanto mulheres a entrarem no mercado de tecnologia e Venture Capital. Essa conscientização pode abrir portas para mais gestores de fundos e alocadores de capital femininos”, concluiu.
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