Cultura

Aislan Pankararu: arte, mercado e insubordinação

Em conversa com a coluna, o artista fala sobre sua obra, sua chegada no circuito de arte e sua desobediência às expectativas deste meio

Aislan Pankararu: arte, mercado e insubordinação
Aislan Pankararu: arte, mercado e insubordinação
(Foto: APIB/Reprodução)
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Aislan, 33, nasceu em Petrolândia, PE. É originário do povo Pankararu. Formou-se em medicina pela Universidade de Brasília e atuou na área médica antes de dedicar-se exclusivamente às artes visuais. 

No final da graduação, ainda em Brasília, o artista vislumbrou a possibilidade de se reconectar com sua terra natal, situada na Caatinga, desenhando cactos, plantas e sementes, feitos em papel craft e demais materiais que tinha à disposição. 

Mais recentemente, vivendo em São Paulo, essa conexão persiste de diferentes formas, como na inspiração pela pintura corporal de seu povo e na utilização de materiais como argila branca, argila preta, terracota, linho cru, couro e fibras. Em sua obra, que também se apresenta de forma tridimensional, Aislan não se limita a reproduzir literalmente sua ancestralidade, rituais e cosmologias Pankararu; ao contrário, recria um universo próprio, misturando fragmentos de seu conhecimento em medicina e da Caatinga.

Inicialmente, Aislan viu na arte um espaço para a valorização de sua identidade, das histórias de resistência e das narrativas de seu povo. Ele expressa isso claramente: “Sou Pankararu, estou aqui, estou vivo, estou presente!”. O artista fala da importância de definir e determinar esse lugar, que está em seu DNA.

‘Minha obra traz estratégias codificadas de formas de existir e da beleza como lugar de luta’

No entanto, a aparente receptividade do circuito artístico, como lugar seguro e de acolhimento, começou a se demonstrar como uma armadilha, uma cilada armada pelos brancos. Diante dessa insegurança, de não saber exatamente onde está pisando, Aislan se preocupa em não fomentar o fetiche em relação às particularidades da cosmologia, dos segredos e da espiritualidade de seu povo, lembrando, que “ser Pankararu, é também frear as possibilidades de preconceitos, racismos e fetichizações”. 

É sob essa chave que Aislan retoma o comando de seu trabalho, se recusando, como indígena, a performar e obedecer à expectativa de pessoas “brancas entendedoras da arte” e a um certo nicho que pretende delimitar como povos originários devem existir e se comportar.

“Somos indígenas e fazemos o que a gente quer. Temos poder de criatividade, de inventar coisas novas. Nos apropriarmos de coisas que possam ser apropriadas do nosso universo, de forma ética e respeitosa. Temos cuidado ético com essas narrativas e não respondemos a esse lugar do que as pessoas esperam de um povo originário, do fetiche desse lugar.” 

Hoje, Aislan tem uma consciência mais clara do circuito da arte e do poder que o capital pode exercer sobre a produção artística e até mesmo sobre a saúde mental do artista. Após sua recente saída de sua primeira galeria, ele busca parcerias institucionais e de mercado transparentes e não tóxicas, que o incluam nas negociações de seus trabalhos. Deseja construir diálogos com agentes da arte e da cultura que possam verdadeiramente se relacionar com o pensamento indígena e racializado contemporâneo, e não apenas encenar o entendimento sobre essas produções. 

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