Afonsinho

Médico e ex-jogador de futebol brasileiro

Opinião

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E acabou Paris 2024

A Olimpíada, entre a brutalidade de alguns esportes e a delicadeza de outros, contempla a diversidade da vida e dos seres humanos

E acabou Paris 2024
E acabou Paris 2024
Exuberantes. A ginasta Rebeca Andrade e a judoca Bia Souza, com seus ouros – Imagem: Alexandre Loureiro/COB e Thibald Moritz/AFP
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Embora atropelados pelo Campeonato Brasileiro e pela movimentação das contratações no início da temporada europeia, não posso deixar de me estender no balanço da Olimpíada Paris 2024.

Os Jogos Olímpicos são, desde o seu início, na Grécia, um marco fundamental do desenvolvimento da humanidade e da busca por congraçamento e fraternidade.

Mesmo nestes tempos em que temos de conviver com as sequelas do neoliberalismo, que atinge o próprio esporte – cada vez mais impactado pela busca por resultados financeiros e pela influência da mídia –, Paris 2024 nos ofereceu dias de esperança.

Vivemos duas semanas mergulhados, quase 24 horas por dia, nas transmissões das disputas de dezenas de modalidades. Não deixa de ser impressionante que o Comitê Olímpico Internacional (COI) consiga garantir, mesmo dentro de todas as limitações do nosso estágio civilizatório, a persistência dos Jogos Olímpicos.

A Olimpíada, expressão da vida moderna em toda sua amplitude, contempla tanto a brutalidade dos esportes violentos quanto a delicadeza e a harmonia do corpo em algumas formas de disputa.

No esporte de alto rendimento, a diversidade da vida e as diferenças humanas – em todos os sentidos – acham-se bem representadas. Os jogos, a cada edição, revelam-se a expressão do viver dos nossos dias. E a incorporação de novas modalidades não deixa ser uma forma de acompanharmos a evolução dos costumes pelo mundo.

Neste ano, foi muito interessante, por exemplo, a presença significativa de uma delegação de refugiados, composta de atletas que, no momento, não têm um país para chamar de seu.

A delegação, formada por pessoas que enfrentam essa grande adversidade que é ter de deixar seu país, geralmente em conflitos bélicos, conseguiu conquistar uma medalha. E, embora os jogos olímpicos sejam marcados, nos pódios, pelas vitórias, as derrotas também os constituem.

Chamou-me a atenção a entrevista de uma skatista, para a televisão, que, questionada sobre a influência dos jogos, respondeu: “É grande. Tento tudo, só que na hora eu erro”.

Por aqui, a alegria com as conquistas dos nossos atletas é tão grande que parece que fomos campeões do mundo no futebol. É tamanho o número de modalidades em disputa que temos, cada vez mais, a oportunidade de acompanhar os jogos em sua plenitude: vemos gente se despedindo, gente em plena competição e novos ídolos se firmando para garantir o nosso futuro.

É difícil, encerrada a Olimpíada, não ser injusto ao lembrar de alguns nomes em detrimento de outros. Mas dentre os mais citados nas transmissões está Rebeca Andrade, que se tornou, nesta edição, a maior medalhista da história do Brasil. A ginasta conquistou quatro medalhas: uma de ouro, duas de prata e uma de bronze.

Outra que ganhou destaque foi a judoca Beatriz Souza, que garantiu o nosso primeiro ouro. Ela, assim como Rebeca, é uma jovem, em vários sentidos, exuberante. Imediatamente após sua vitória no tatame, Bia, com toda a sua majestade, chorou copiosamente, lembrando a perda recente da avó.

No campo, tivemos, em um extremo, a ausência do futebol masculino e, no outro, a campanha extraordinária da Seleção feminina, que deixou pavimentada a estrada para a realização do próximo Mundial aqui no Brasil. •

Publicado na edição n° 1324 de CartaCapital, em 21 de agosto de 2024.

Este texto aparece na edição impressa de CartaCapital sob o título ‘E acabou Paris 2024’

Este texto não representa, necessariamente, a opinião de CartaCapital.

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