Mundo
Israel envia chefes de inteligência ao Catar para negociar nova trégua em Gaza
Até agora, os mediadores só conseguiram garantir uma única trégua de uma semana em novembro


O presidente dos EUA, Joe Biden, disse na terça-feira que a trégua poderia evitar um ataque iraniano a Israel, anunciado por Teerã em retaliação ao assassinato, atribuído a Israel, do líder do Hamas, Ismail Haniyeh, na capital iraniana em 31 de julho.
Biden garantiu ao seu público que “não estava desistindo” desse objetivo, embora as negociações para uma trégua estivessem se tornando “difíceis”.
Não há “mais tempo a perder”, disse o enviado americano Amos Hochstein em Beirute na quarta-feira, pois um cessar-fogo também poderia pôr fim à troca de tiros entre o Exército israelense e o movimento islâmico libanês Hezbollah, um aliado do Hamas e de Teerã.
Essas novas conversações, convocadas pelos países mediadores, Catar, Estados Unidos e Egito, baseiam-se em um plano anunciado em 31 de maio por Joe Biden, cuja primeira fase prevê uma trégua de seis semanas acompanhada de uma retirada israelense das áreas densamente povoadas de Gaza e a libertação de reféns – sequestrados durante o ataque do Hamas a Israel em 7 de outubro – em troca de prisioneiros palestinos mantidos por Israel.
Segundo uma fonte americana próxima às negociações, o diretor da CIA, William Burns, participará das negociações, bem como os chefes do Mossad, o serviço de inteligência israelense, e do Shin Bet, o serviço de segurança interna, de acordo com o gabinete do primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu.
A participação do Hamas permanece incerta. Uma autoridade sênior do movimento disse na quarta-feira que “as negociações com os mediadores continuam e até se intensificaram”, reafirmando que o Hamas “quer que o plano Biden seja implementado e não negociar por negociar”.
Enquanto isso, o Exército israelense continua sua ofensiva em Gaza. A Defesa Civil do território relatou bombardeios nas cidades de Gaza e Beit Lahya (norte), Deir al-Balah (centro), bem como em Khan Yunis e Rafah (sul).
“Alerta máximo”
Israel prometeu destruir o Hamas, que está no poder em Gaza desde 2007 – e que considera uma organização terrorista, assim como os Estados Unidos e a União Europeia – após o ataque em seu solo, que resultou na morte de 1.198 pessoas, a maioria civis, de acordo com uma contagem da AFP baseada em dados oficiais israelenses.
Naquele dia, 251 pessoas foram sequestradas e 111 continuam presas em Gaza, 39 das quais estão mortas, de acordo com o Exército.
A ofensiva israelense realizada em retaliação causou pelo menos 39.965 mortes, de acordo com dados do Ministério da Saúde do governo de Gaza liderado pelo Hamas, que não fornece detalhes sobre o número de civis e combatentes mortos.
Até agora, os mediadores só conseguiram garantir uma única trégua de uma semana em novembro. Isso levou à libertação de cerca de cem reféns e 240 palestinos.
O presidente israelense, Isaac Herzog, disse que seu país continua “em alerta máximo”.
Destruição
“Esperamos que amanhã as negociações sejam positivas e que a guerra chegue ao fim”, disse à AFP o palestino Ibrahim Khader, de Deir al-Balah. “A guerra é destruição e ninguém sai dela vitorioso”, disse ele.
O Exército israelense anunciou na quarta-feira que havia realizado mais de 40 ataques aéreos contra “infraestruturas terroristas” em Gaza.
A Defesa Civil declarou que havia retirado quatro corpos de uma mesma família dos escombros de um apartamento bombardeado em um enorme complexo residencial próximo a Khan Yunis.
Em Nousseirat (centro), os palestinos descreveram como um bombardeio causou “uma terrível explosão” no meio da noite. Jihad Al-Sharif disse que sua família havia encontrado os restos mortais de crianças na rua.
A guerra mergulhou a Faixa de Gaza, sitiada por Israel, em um desastre humanitário e levou ao deslocamento de quase todos os seus 2,4 milhões de habitantes.
Desde 1º de agosto, “cerca de um terço das missões humanitárias dentro de Gaza foram recusadas pelas autoridades israelenses”, informou o Escritório da ONU para a Coordenação de Assuntos Humanitários.
Ainda esta semana, o governo dos EUA também aprovou a venda de mais de US$ 20 bilhões em armas para Israel.
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