CartaCapital

O que importa, há 30 anos

Como nossos fiéis leitores, CartaCapital segue firme na denúncia das injustiças e na luta por uma democracia digna do nome

O que importa, há 30 anos
O que importa, há 30 anos
Imagem: Olga Vlahou/CartaCapital
Apoie Siga-nos no

Neste agosto, pedimos a músicos, escritores, cientistas, filósofos, ativistas e essencialmente aos nossos leitores respostas a uma pergunta: o que importa para eles? Do engenho da provocação brotou um caleidoscópio da alma brasileira, calejada de esperanças e frustrações. A experiência celebra os 30 anos de ­CartaCapital, sublinhados por um novo slogan, “Tudo que importa para quem se importa”, criação do consultor Adal Viviani.

A epígrafe capta, digamos, a fase balzaquiana desta publicação. Coexistem a experiência e o fulgor, o ímpeto e a ponderação. A extraordinária, desafiadora e ambígua transformação tecnológica obriga o jornalismo a repensar seus propósitos.

Quando a primeira edição de CartaCapital foi às bancas, em agosto de 1994, concebida por meia dúzia de jornalistas na sala de estar de Mino Carta, a ­internet engatinhava, o mundo se iludia com o suposto fim da história e Nelson Mandela, prova de que as notícias sobre a morte da história eram manifestamente exageradas, assumia a presidência da África do Sul.

As primeiras redes sociais, hieróglifos do mundo virtual, surgiriam uma década depois. Para entender a realidade, os leitores esperavam, ávidos, a chegada das revistas semanais nas bancas ou na porta de casa. Na virada do século, CartaCapital fazia jus a seu slogan, “Leia antes que aconteça”, ratificado por incontáveis reportagens que marcaram época e influenciaram o debate público.

Na elipse entre o “Leia antes que aconteça” e o “Tudo o que importa para quem se importa”, muita água passou por baixo da ponte, trinta voltas a Terra deu em torno do Sol e o Neymar não parou de rolar pelos gramados até repetir o feito de ­Phileas Fogg. Gente veio, gente se foi. O mar está mais perto de virar sertão, como profetizou Antônio Conselheiro.

Muita gente esqueceu o que escreveu, disse ou defendeu. Nós não. O compromisso da revista com os princípios do bom jornalismo permanece o mesmo. Nenhuma injunção, pressão ou intempérie afastaram esta publicação do rumo traçado três décadas atrás. Nossa coluna vertebral continua ereta. Renascemos a cada batalha perdida.

Como nossos fiéis leitores, CartaCapital segue atenta. O combate à desigualdade obscena nos importa. A denúncia das injustiças importa. O microscópio, o telescópio, a tese e a antítese importam. A reflexão, a ação, a consciência. Importam a estrofe, o parágrafo, a cadência, a melodia, a primeira e a última cenas, a ribalta, a luz, a sombra. O gol, a defesa e o match point são importantes. Mais do que subir ao pódio, importa cruzar a linha de chegada.

Esta revista se importa com quem se importa. Com quem estende a mão, com quem olha para o lado. Estamos ao lado de quem aspira a um futuro melhor e de quem não é dado o direito de sonhar. Importam os 99%. O direito ao próprio corpo e ser quem se quer ser.

Importa-nos chacoalhar a indiferença, suplantar a ignorância, desmentir as fake news, vergar a prepotência. Importa uma democracia digna do nome, do aglomerado, brotar uma nação.

Importa o apego à verdade factual e a honestidade.

Estamos aqui, há 30 anos, porque nos importamos.

Publicado na edição n° 1323 de CartaCapital, em 14 de agosto de 2024.

Jornalismo crítico e inteligente. Todos os dias, no seu e-mail

Assine nossa newsletter

Assine nossa newsletter e receba um boletim matinal exclusivo

Apoie o jornalismo que chama as coisas pelo nome

Depois de anos bicudos, voltamos a um Brasil minimamente normal. Este novo normal, contudo, segue repleto de incertezas. A ameaça bolsonarista persiste e os apetites do mercado e do Congresso continuam a pressionar o governo. Lá fora, o avanço global da extrema-direita e a brutalidade em Gaza e na Ucrânia arriscam implodir os frágeis alicerces da governança mundial.

CartaCapital não tem o apoio de bancos e fundações. Sobrevive, unicamente, da venda de anúncios e projetos e das contribuições de seus leitores. E seu apoio, leitor, é cada vez mais fundamental.

Não deixe a Carta parar. Se você valoriza o bom jornalismo, nos ajude a seguir lutando. Assine a edição semanal da revista ou contribua com o quanto puder.

Jornalismo crítico e inteligente. Todos os dias, no seu e-mail

Assine nossa newsletter

Assine nossa newsletter e receba um boletim matinal exclusivo