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Primeira atleta refugiada a garantir medalha em Olimpíadas teve que superar bullying na infância

Ao subir ao pódio, Cindy Ngamba estará representando outros 36 atletas, de 11 países diferentes, que competem pela Equipe Olímpica de Refugiados e 120 milhões de pessoas em todo o mundo

Primeira atleta refugiada a garantir medalha em Olimpíadas teve que superar bullying na infância
Primeira atleta refugiada a garantir medalha em Olimpíadas teve que superar bullying na infância
A boxeadora refugiada Cindy Winner Djankeu Ngamba. Foto: MOHD RASFAN / AFP
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A boxeadora camaronesa Cindy Ngamba marcou seu nome nos Jogos de Paris 2024 ao garantir a primeira medalha para o time dos atletas refugiados na história das Olimpíadas. Ainda na disputa pelo ouro olímpico, ela teve que lutar contra o bullying na infância e lidar com a distância de seu país natal.

Desde a criação na Rio 2016, essa é a primeira vez que a Equipe Olímpica de Refugiados conquista um lugar no pódio. O feito inédito só foi possível depois que Ngamba, de 25 anos, derrotou a francesa Davina Michel nas quartas de final do boxe feminino no último domingo (4), na categoria de 75 kg. Como na modalidade não há disputa de terceiro lugar, mesmo que não se classifique para a final, ela já garantiu pelo menos o bronze em Paris 2024.

“Quero dizer aos refugiados em todo o mundo, [incluindo] refugiados que não são atletas, que continuem trabalhando, continuem acreditando em si mesmos. Vocês podem alcançar tudo o que quiserem”, Cindy Ngamba, boxeadora e medalhista olímpica.

Mas, para chegar até esta conquista, ela teve que percorrer um longo caminho e superar outros tipos de adversários fora dos ringues, como deixar o seu país natal, Camarões, além do isolamento na escola.

Quando sua família se mudou para o Reino Unido em 2010, ela tinha apenas 11 anos e ainda não sabia falar inglês. Cindy passou a sofrer bullying dos colegas de turma. Conheceu o boxe por meio de um clube juvenil que frequentava em Bolton, no noroeste da Inglaterra, mas teve que começar treinando entre os meninos, já que ainda não havia outras meninas inscritas no local.

“Quando morava em Camarões, eu era uma criança extrovertida, alegre e tudo mais. Mas quando cheguei à Inglaterra, me tornei mais introvertida, queria me proteger, provavelmente por causa da barreira do idioma”, disse ela à AFP.

Em 2019, Cindy Ngamba ganhou o primeiro de três campeonatos nacionais, iniciando ali sua trajetória nos ringues, que culminaria com a histórica medalha olímpica. Feliz com o feito, ela já mira lugares mais altos no pódio.

“Significa muito para mim ser a primeira atleta refugiada a ganhar uma medalha (…) Espero poder mudar a [cor da] medalha na minha próxima luta – na verdade, vou mudar”, disse Ngamba após a vitória. Ela volta aos ringues na quinta-feira (8) contra Atheyna Bibeichi Bylon, do Panamá, na disputa por uma vaga na final.

Vencedora até no nome

Natural de Duala, uma das maiores cidades de Camarões, Cindy Winner Djankeu Ngamba, como foi batizada pela mãe ao nascer, carrega a vitória até no nome, já que “winner” em inglês e significa vencedora ou vencedor.

Antes de garantir a medalha, a boxeadora já havia se destacado na cerimônia de abertura dos Jogos ao ser porta-bandeiras da equipe, ao lado de Yahya Al Ghotany, lutador de taekwondo que vive no campo de refugiados de Azraq, na Jordânia.

Ao subir ao pódio, ela estará representando os outros 36 atletas, de 11 países diferentes, que competem sob a bandeira da Equipe Olímpica de Refugiados, assim como 120 milhões de pessoas em todo o mundo que foram forçadas a sair de seus países, segundo números da Agência da ONU para Refugiados (ACNUR).

Torcedores exibem faixa em alusão ao número de refugiados no mundo enquanto acompanham a luta de Cindy Ngamba, em Paris 2024.
Foto: MOHD RASFAN / AFP

“Cindy nos lembra o que os refugiados podem e conseguem prosperar se tiverem oportunidade e mostrar a contribuição positiva que fazem para as comunidades que os acolhem ao redor do mundo”, disse Jojo Ferris, chefe da Fundação Olímpica de Refugiados à ACNUR.

A equipe de atletas refugiados foi criada em 2015 através de uma parceria entre o COI e a ACNUR. Já no ano seguinte, na Rio 2016, eles estrearam nos Jogos, com uma delegação composta por 10 atletas. Em Tóquio 2021, a equipe foi formada por 29 esportistas.

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