

Opinião
Um novo chefão: como o Brasil vai ‘passar de fase’ no jogo das IAs?
Em um mundo dominado pela inteligência artificial e pela computação, há espaço para a inteligência humana?


Quando você pensa em tecnologia, o que vem à sua cabeça? Carros voadores como em “Os Jetsons”, o famoso desenho dos anos 1980 de Hanna Barbera? Ou talvez robôs, ora mais simpáticos como o de “Eu, Robô”, protagonizado pelo inesquecível Robin Williams, ora mais agressivos como o de “O Exterminador do Futuro”, estrelado por Arnold Schwarzenegger?
Nos dias atuais, é impossível não pensar em tecnologia e falar em inteligência artificial. Aliás, a IA foi alvo de entrega – com tom de momento histórico – de seu primeiro plano nacional, que pude presenciar durante a cerimônia de abertura da 5ª Conferência Nacional de Ciência, Tecnologia e Inovação, diretamente às mãos do presidente Lula.
O que vem pela frente, no entanto? O presidente Lula trouxe algumas provocações acertadas. Entre elas, dois comandos que acho importante focarmos.
A primeira provocação vai no cerne da questão: a inteligência artificial só existe porque ali estão adicionadas as milhares, milhões, bilhões de inteligências humanas. Aquelas servem a estas, não o contrário e, nesse bojo, a segunda provocação: se for pra gerar milhões de desempregados, ela não é tão inteligente assim.
Essas questões tocam diretamente todo o conjunto da humanidade, mas especialmente aquelas partes do mundo que não estão nos grandes centros de produção científica-tecnológica, quem está no chamado Sul-Global, onde o Brasil se insere. O que faremos para lidar com essas novas tecnologias?
Além do Plano Nacional de Inteligência Artificial – que toca em questões fundamentais ao setor de jogos eletrônicos, como propriedade intelectual – precisamos aprofundar os debates acerca do uso dessas tecnologias e como faremos para que elas cumpram as funções com humanidade.
Setores que pendem para a economia criativa estão mais protegidos contra a substituição por IA e podem se valer dela da maneira como quer o presidente Lula, a favor da inteligência humana. Nesse campo, os games despontam como um exemplo oportuno de bom uso da IA.
A IA pode ajudar a acelerar processos de produção de pequenos estúdios, revisar códigos ou mesmo dar os primeiros rascunhos de um personagem. Pode ajudar a corrigir textos, a analisar grandes volumes de dados e ajustar processos de documentação.
Mesmo para o uso na ponta, diretamente com o consumidor, IAs que detectassem padrões de comportamento dos jogadores poderiam ajudar em campos como a saúde e a educação, predizendo comportamentos eventualmente nocivos ou mesmo ajudando a identificar, a partir dos jogos, o perfil de aptidões que um jogador demonstra e como aquela habilidade se liga ao mundo do trabalho.
Mas sem o comando e o preparo do cérebro humano, a IA será incapaz de produzir algo sozinha. Precisamos enxergar as oportunidades e desafios dessa relação e, para além disso, precisamos entender que este não é um debate apenas de cientistas ou de pessoas “da tecnologia” e sim, de toda a sociedade.
Imagine você: 7 de cada 10 brasileiros dizem consumir algum tipo de jogo eletrônico. Cada partida diz algo sobre aquele jogador. A quantidade de vezes que ele aperta um botão pode contar desde seu grau de reflexos até o nível de ansiedade que ele enfrenta naquele momento. Todos estes dados são captados hoje por empresas globais, com servidores em territórios remotos e longe da lei brasileira. E há pouco – quase nenhum – incentivo para que o setor nacional possa desenvolver ferramentas que disputem esse mercado global.
Entender que está em jogo empregos de qualidade, fixação de mão-de-obra no Brasil, obtenção de divisas, soberania nacional de dados deixa claro o que a História exige de nós neste momento: um olhar altivo e criativo para as soluções que podem advir da inteligência brasileira. E se o que está em jogo é nosso futuro, é a hora e a vez de pegarmos o controle na mão e jogarmos, juntos, para tirar todo proveito que o setor de jogos – que recentemente teve seu Marco Legal aprovado – tem para oferecer ao Brasil.
Este texto não representa, necessariamente, a opinião de CartaCapital.
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