Sociedade
ONU: Brasil tem redução de 85% na insegurança alimentar severa em 2023, mas segue no Mapa da Fome
O Brasil chegou a sair do Mapa da Fome da ONU em 2014, quando era governado por Dilma Rousseff, mas retornou durante o governo Bolsonaro, em 2022


Mais de 700 milhões de pessoas passam fome no mundo. Parte desse montante – 39,7 milhões de pessoas, precisamente – está no Brasil, mas o País, apesar do quadro, viu parte importante habitantes deixarem de passar alguma forma de fome, nos últimos anos.
Os dados são do relatório Estado da Segurança Alimentar e da Nutrição no Mundo, elaborado por agências da Organização das Nações Unidas (ONU). O documento é conhecido como “Mapa da Fome” e foi lançado nesta quarta-feira 24 no Rio de Janeiro.
Para efeitos de comparação, o relatório considera dois triênios: o primeiro compreende o período 2020-2022 e o segundo se refere a 2021-2023.
No primeiro caso, no Brasil, 70,3 milhões de pessoas experimentavam insegurança alimentar moderada ou severa, o que corresponde a 32,8% da população. Já no triênio mais recente, o número caiu para os 39,7 milhões mencionados, o que representa 18,4% da população.
No caso brasileiro, a insegurança alimentar severa – que é quando alguém não tem acesso a alimentos e passa, pelo menos, um dia inteiro sem comer – caiu 85% no País, no ano passado, quando comparada ao ano anterior. Se, em 2022, a situação atingia 17,2 milhões de pessoas, o número foi reduzido para 2,5 milhões em 2023.
Nesse contexto, 8,4 milhões de pessoas (ou 3,9% da população) ainda estava, no triênio entre 2021 e 2023, na condição de subnutridos. Assim, mesmo com os avanços, o Brasil permanece no Mapa da Fome da ONU.
Os casos de subnutrição colocam o País em uma situação especialmente problemática. Isso acontece porque, como o percentual de subnutridos está acima de 2,5%, pode-se se dizer, segundo a metodologia da Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura, que o Brasil não ainda não foi capaz de se livrar da fome.
O Brasil chegou a sair do Mapa da Fome da ONU em 2014, quando era governado por Dilma Rousseff (PT), mas retornou durante o governo do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), em 2022.
A despeito disso, os casos de subnutrição caíram: são 1,7 milhão de pessoas subnutridas a menos, na comparação com o triênio encerrado em 2022.
O ministro do Desenvolvimento Social, Família e Combate à Fome, Wellington Dias, comentou os dados do Mapa da Fome, dizendo que eles “indicam que estamos no caminho certo”.
Cenário global
A fome no mundo, ao menos em números, não sofreu grandes alterações nos últimos anos. Segundo o documento lançado nesta quarta, uma a cada onze pessoas passavam fome no planeta, no ano passado.
A desnutrição crônica, por exemplo, caiu na América Latina, mas voltou a crescer no continente africano, onde 57,7% da população vivencia uma situação de insegurança alimentar moderada ou severa.
No triênio de 2021 a 2023, em todo o mundo, 2,3 bilhões de pessoas vivenciavam as angústias da insegurança alimentar moderada ou severa. O montante representa praticamente um terço da população global.
Apoie o jornalismo que chama as coisas pelo nome
Depois de anos bicudos, voltamos a um Brasil minimamente normal. Este novo normal, contudo, segue repleto de incertezas. A ameaça bolsonarista persiste e os apetites do mercado e do Congresso continuam a pressionar o governo. Lá fora, o avanço global da extrema-direita e a brutalidade em Gaza e na Ucrânia arriscam implodir os frágeis alicerces da governança mundial.
CartaCapital não tem o apoio de bancos e fundações. Sobrevive, unicamente, da venda de anúncios e projetos e das contribuições de seus leitores. E seu apoio, leitor, é cada vez mais fundamental.
Não deixe a Carta parar. Se você valoriza o bom jornalismo, nos ajude a seguir lutando. Assine a edição semanal da revista ou contribua com o quanto puder.
Leia também

13 milhões de brasileiros deixaram de passar fome em 2023, aponta estudo do Instituto Fome Zero
Por CartaCapital
Especialistas da ONU afirmam que crianças estão morrendo em Gaza por ‘campanha de fome’ de Israel
Por AFP
Lula recebe presidente do Benin, assina acordos e defende países africanos em aliança de combate à fome
Por Marina Verenicz
Segurança alimentar cresce, mas quase 9 milhões ainda passam fome no Brasil
Por Caio César